domingo, 28 de março de 2010

Caso Datafolha promete

28/03/2010


Se você, leitor, chegou de Marte agora, permita-me atualizá-lo sobre um escândalo que promete ser rumoroso entre os setores mais politizados da população. No último sábado, o instituto Datafolha, pertencente à Folha de São Paulo, publicou uma pesquisa sobre a sucessão presidencial que surpreendeu a todos, inclusive àqueles que beneficiou.

Como Dilma Rousseff vem crescendo em todas as pesquisas de intenção de voto para presidente e seu adversário José Serra vem caindo, Márcia Cavallari, do Ibope, João Francisco Meira, do Vox Populi, Mauro Paulino, do Datafolha, e Ricardo Guedes, do instituto Sensus, reunidos publicamente em São Paulo na semana passada em evento da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas, concordaram que a candidata petista é hoje a favorita para ganhar as eleições de 2010.

De repente, porém, aparece essa pesquisa Datafolha mostrando queda da petista (dentro da margem de erro) e considerável subida do tucano. O resultado foi tão surpreendente que, em sua coluna deste domingo na Folha, o colunista Clóvis Rossi diz assim que não entendeu nada:

O resultado da pesquisa mais recente, ontem publicada, é um denso mistério, ao menos para mim. Não consigo encontrar uma explicação forte para o fato de José Serra ter subido quatro pontos em um mês”.

Não foi por outra razão que, no mesmo sábado em que a pesquisa “sui generis” foi divulgada, o diretor do Datafolha tentou explicar o inexplicável com o velho clichê de que “pesquisas são um retrato do momento” etc.

Já neste domingo, a Folha publica um editorial pretendendo explicar mais do que a pesquisa “estranha”, mas o futuro, ou seja, o que outras pesquisas deverão mostrar.

SÃO SURPREENDENTES, ainda que não constituam reversão categórica nas tendências do eleitorado, os números da pesquisa do Datafolha sobre sucessão presidencial, divulgados ontem(...)”.

Mais sincero – ou descuidado – que Rossi, outro colunista da Folha, o Kennedy Alencar, explicou, na internet, a situação que levou o jornal mais engajado na candidatura do PSDB à Presidência a literalmente estuprar o seu Datafolha. Segundo ele, sem essa pesquisa o lançamento iminente da candidatura tucana à Presidência ocorreria em clima de “velório”.

A pressa da Folha em “explicar”, não a sua pesquisa “maluca”, mas os resultados de outros institutos que deverão contrariá-la em breve, denota que o partidarismo pode ter causado um dano muito sério a um dos pilares de sua sustentação no mercado. O Datafolha é – ou era - um diferencial desse veículo de comunicação.

Penso que o efeito pretendido pela Folha e por José Serra ao engendrarem essa aparente farsa estatística poderá ser conseguido, só que parcial e inicialmente. Os leigos acreditarão na reação de Serra, bem como parte dos tucanos, dos seus aliados em outros partidos e de financiadores de campanha identificados com o projeto eleitoral da direita.

Todavia, duvido de que outros institutos, além do Ibope, aceitarão se envolver nessa farsa. Daí as insistentes “explicações” da Folha para o tsunami estatístico que vem por aí e que deverá fazer este assunto retornar à pauta política em breve. Não percam, portanto. Será divertidíssimo.

Escrito por Eduardo Guimarães às 09h22

Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

2 comentários:

Anônimo disse...

O inexplicável aumento de vantagem do Serra sobre a Dilma (Datafolha)

Minha cabeça de engenheiro sempre exige explicações racionais para explicar números de pesquisas de opinião. Minha neta de três anos não é engenheira (ainda), mas gosta que eu explique tudo com lógica.

Diante dos últimos resultados do Datafolha, que mostram um aumento na vantagem do Serra sobre a Dilma, de cinco para nove pontos percentuais, ela me fez as seguintes perguntas:

1. A Dilma não cresceu 20% na pesquisa espontânea, passando de 10% em fevereiro para 12% agora em março?

2. O Serra não ficou estagnado em 8%, na espontânea, nesse mesmo período?

3. A rejeição ao Serra não se manteve no mesmo patamar de 25%, entre a pesquisa anterior e esta?

4. A rejeição à Dilma não se manteve no mesmo patamar de 23%, no mesmo período?

5. Houve algum fato novo relevante para o crescimento do Serra?

6. Será que inauguração de maquete de ponte e demolição de prédio foram suficientes para aumentar a indicação de voto no Serra?

7. Houve algum fato relevante para a estagnação com ligeiro decréscimo da Dilma?

8. A Dilma não continuou inaugurando obras importantes todos os dias?

7. Se a porradaria (desbocada essa menina) das Organizações Serra em cima do Zé Dirceu e do Vaccari tivesse interferido na avaliação dos eleitores pesquisados não seria natural o aumento da rejeição à Dilma?

8. Finalmente, o aumento da avaliação do governo Lula, que atingiu o recorde nas pesquisas do Datafolha com 76%, não taria vantagem para a Dilma em vez de trazer vantagem para o Serra, como tenta demonstrar a Folha de São Paulo?

(continua em http://migre.me/rUSj)

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Anônimo disse...

Caro Augusto,
Acabei de reblogar sua matéria na íntegra.
Excelente análise.
Abraços,
Saraiva