Há uma ‘macumba’ shakeasperiana na trilha de Serra
O grão-tucano José Serra está a um passo de sua segunda candidatura presidencial. No caminho de Serra há uma macumba.
A farofa exala naftalina. A galinha preta cacareja um dilema de 2006, de timbre shakespeariano: Ser ou não ser FHC?
Armou-se para 10 de abril a aclamação de Serra. Convidado para a pajelança, FHC não terá acesso ao microfone. Deseja-se escondê-lo.
Mantida essa decisão, ainda que Serra plante bananeira no palco, nada chamará mais atenção do que o silêncio do sábio da tribo.
Ladino a mais não poder, Lula traçou um risco no chão da sucessão. Cuspiu na linha. E chamou FHC para a briga.
“Nós contra eles”, disse Lula à sua tropa. A era petê versus o ciclo peéssedebê. Dilma ‘da Silva’ Rousseff contra José ‘Cardoso’ Serra.
Para regozijo de Lula, o tucanato mordeu a isca. Pôs-se a perguntar: o que fazer com FHC? Decidiu levá-lo ao armário.
No esforço que empreende para fazer de FHC um coadjuvante de sua história, o tucanato adorna o próprio dorso com a plumagem de outro pássaro.
FHC julga-se um colecionador de façanhas: o Real, as privatizações, a estabilidade econômica, a Lei de Responsabilidade Fiscal...
Considera-se merecedor de uma estátua. Mas os tucanos, pardais de si mesmos, preferem sujar, com desenvoltura dialética, a testa do seu líder.
Repete-se em 2010 o erro que levou Alckmin a ter menos votos no segundo turno de 2006 do que amealhara no primeiro round.
O Lula de quatro anos atrás jogara no chão a casca de banana da comparação. E o tucanato escorregara gostosamente.
As pesquisas informam que o governo FHC, a despeito dos méritos, não deixou saudades. O eleitor rejeita o ex-presidente.
Ex-ministro de FHC, Serra foi vítima dessa aversão na sucessão de 2002. Repaginado por Duda Mendonça, Lula surrou-o.
Submetido à esperteza plebiscitária de Lula, o Serra-2010 tem dois caminhos: ou explica os êxitos da era FHC ou foge de um debate incontornável.
Se optar por repetir o Alckmin-2006, jogando o passado sob o tapete, arrisca-se a comparecer à disputa sem cara. Ou por outra, Serra pode virar a mula sem cabeça da eleição.
“As pessoas aprendem com a vida”, disse FHC na semana passada. Acha que o presidenciável de seu partido tem a obrigação de defendê-lo.
Por quê? “O Serra tem um compromisso, porque ele [ex-ministro do Planejamento e da Saúde] foi parte ativa do que se fez”.
Faz sentido. Diz o senso comum que “errando é que se aprende”. Mas, tomado pelos primeiros movimentos, o PSDB parece decidido a adaptar o brocardo.
Para o tucanato, é “errando é que se aprende... A errar.” Com dois fracassos presidenciais sobre os ombros, o PSDB aposta, de novo, no erro.
Retorne-se ao início: No caminho de Serra há uma macumba. Ainda há tempo para remodelar a encruzilhada.
Um bom recomeço seria convidar FHC para dizer meia dúzia de palavras na pajelança de 10 de abril.
By: Josias de Souza
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