segunda-feira, 29 de março de 2010

Do Blog COM TEXTO LIVRE.

Há uma ‘macumba’ shakeasperiana na trilha de Serra


O grão-tucano José Serra está a um passo de sua segunda candidatura presidencial. No caminho de Serra há uma macumba.

A farofa exala naftalina. A galinha preta cacareja um dilema de 2006, de timbre shakespeariano: Ser ou não ser FHC?

Armou-se para 10 de abril a aclamação de Serra. Convidado para a pajelança, FHC não terá acesso ao microfone. Deseja-se escondê-lo.

Mantida essa decisão, ainda que Serra plante bananeira no palco, nada chamará mais atenção do que o silêncio do sábio da tribo.

Ladino a mais não poder, Lula traçou um risco no chão da sucessão. Cuspiu na linha. E chamou FHC para a briga.

“Nós contra eles”, disse Lula à sua tropa. A era petê versus o ciclo peéssedebê. Dilma ‘da Silva’ Rousseff contra José ‘Cardoso’ Serra.

Para regozijo de Lula, o tucanato mordeu a isca. Pôs-se a perguntar: o que fazer com FHC? Decidiu levá-lo ao armário.

No esforço que empreende para fazer de FHC um coadjuvante de sua história, o tucanato adorna o próprio dorso com a plumagem de outro pássaro.

FHC julga-se um colecionador de façanhas: o Real, as privatizações, a estabilidade econômica, a Lei de Responsabilidade Fiscal...

Considera-se merecedor de uma estátua. Mas os tucanos, pardais de si mesmos, preferem sujar, com desenvoltura dialética, a testa do seu líder.

Repete-se em 2010 o erro que levou Alckmin a ter menos votos no segundo turno de 2006 do que amealhara no primeiro round.

O Lula de quatro anos atrás jogara no chão a casca de banana da comparação. E o tucanato escorregara gostosamente.

As pesquisas informam que o governo FHC, a despeito dos méritos, não deixou saudades. O eleitor rejeita o ex-presidente.

Ex-ministro de FHC, Serra foi vítima dessa aversão na sucessão de 2002. Repaginado por Duda Mendonça, Lula surrou-o.

Submetido à esperteza plebiscitária de Lula, o Serra-2010 tem dois caminhos: ou explica os êxitos da era FHC ou foge de um debate incontornável.

Se optar por repetir o Alckmin-2006, jogando o passado sob o tapete, arrisca-se a comparecer à disputa sem cara. Ou por outra, Serra pode virar a mula sem cabeça da eleição.

“As pessoas aprendem com a vida”, disse FHC na semana passada. Acha que o presidenciável de seu partido tem a obrigação de defendê-lo.

Por quê? “O Serra tem um compromisso, porque ele [ex-ministro do Planejamento e da Saúde] foi parte ativa do que se fez”.

Faz sentido. Diz o senso comum que “errando é que se aprende”. Mas, tomado pelos primeiros movimentos, o PSDB parece decidido a adaptar o brocardo.

Para o tucanato, é “errando é que se aprende... A errar.” Com dois fracassos presidenciais sobre os ombros, o PSDB aposta, de novo, no erro.

Retorne-se ao início: No caminho de Serra há uma macumba. Ainda há tempo para remodelar a encruzilhada.

Um bom recomeço seria convidar FHC para dizer meia dúzia de palavras na pajelança de 10 de abril.

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