Rio já acumulou 9.583 novas vagas no primeiro bimestre deste ano; é o segundo melhor resultado da década
A previsão divulgada este mês pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é otimista: o mercado de trabalho brasileiro deve gerar este ano dois milhões de vagas, o dobro das 995 mil criadas em 2009. Na cidade do Rio, que se prepara para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, a expectativa de abertura de novos empregos formais é ainda mais animadora, impulsionada pela recuperação econômica ocorrida no início do ano.
Após fechar 2009 sob os efeitos da crise econômica mundial, com o pior saldo entre trabalhadores admitidos e desligados dos últimos seis anos (51.540 novos empregos, contra 84.147 em 2008), o município do Rio acumulou 9.583 novas vagas no primeiro bimestre deste ano. É o segundo melhor resultado da década.
Os dados, levantados pelo Rio Como Vamos (RCV) no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que, em 2009, 706.242 funcionários foram desligados na capital, e 757.782 contratados (12% deles para o primeiro emprego).
O saldo da cidade representa 58% dos novos empregos gerados no ano em todo o estado, que fechou em 88.875 vagas. Já em 2010, o saldo de janeiro foi de 3.799 novas vagas, seguindo a tendência nacional, com o melhor resultado para o mês nos últimos dez anos. No mês seguinte, foi de 5.784, o quarto melhor fevereiro da década.
“Perspectivas de longo prazo são muito boas” Giselle Vilela, de 27 anos, moradora do Engenho Novo, viveu na pele as incertezas econômicas do ano passado e a recuperação deste início de ano. Em maio de 2009, foi demitida do emprego de propagandista no qual estava há mais de um ano. Era contratada de uma empresa que prestava serviço a uma multinacional, cujo contrato não foi renovado.
Em setembro, ela conseguiu emprego em outra terceirizada, para atender um laboratório de medicamentos fitoterápicos, com salário menor que o anterior. Já em janeiro, pediu demissão para ser representante comercial de um laboratório homeopático, agora com rendimento maior.
— Para uma época de crise, fechar o ano com saldo de empregos positivo é um resultado razoável. Este ano começou bem, com clara recuperação, e as perspectivas de longo prazo são muito boas, com projetos e investimentos que temos em andamento não só na capital, mas em toda a Região Metropolitana — avalia o economista, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) e conselheiro do RCV, André Urani, que, no entanto, mostra uma preocupação. — A perspectiva é promissora, mas essa onda boa pode ser interrompida se a perda dos royalties do petróleo for confirmada e não houver nenhuma compensação fiscal para o estado.
Trabalhadores precisam de qualificação profissional O secretário municipal de Trabalho e Emprego, Augusto Ribeiro, mantém confiança e otimismo: — A cidade vive um momento excelente e a tendência de crescimento do mercado de trabalho formal é muito boa.
As obras do programa Minha Casa, Minha Vida e de preparação para a Copa e as Olimpíadas vão gerar muitos empregos, assim como os próprios Jogos. Há previsão de que 120 mil vagas relacionadas aos dois eventos sejam abertas por ano no Brasil até 2016. Acredito que 70% serão no Rio.
Economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Néri, compartilha do otimismo.
Segundo ele, alavancado justamente por projetos como PAC, Copa e Olimpíadas, o mercado de trabalho no município está passando por um processo de transição da informalidade, que é uma característica carioca, para um modelo formal.
Mas para que esse processo continue, com a abertura de novas vagas de emprego com carteira assinada e com a formalização de quem hoje trabalha por conta própria, ele ressalta que é preciso que os governos invistam em educação, qualificação, apoio aos empreendedores e microcrédito.
— O Rio foi um dos primeiros municípios a aderir à lei federal do empreendedor individual (EI), no ano passado, e ao programa do microcrédito, que começou pelo Nordeste.
Isso é muito positivo para incentivar o trabalhador informal a se tornar EI, com CNPJ e os benefícios dessa condição.
Mas é fundamental a conjunção dos três níveis de governo para oferecer perspectivas a quem ingressa nessa modalidade de formalização. Também é preciso investir em educação e qualificação. A educação é o passaporte para o mercado de trabalho — diz Néri.
O secretário municipal de Trabalho concorda. Ribeiro diz que o principal problema detectado entre candidatos às vagas de emprego oferecidas em programas oficiais é a falta de instrução. O segundo, é a falta de qualificação profissional.
Ele conta que muitos dos que dizem ter o ensino fundamental apresentam dificuldade para ler e escrever. Para ajudar na qualificação de quem busca emprego, a secretaria oferece cursos. Este ano serão 10 mil vagas.
Comércio e serviço são as áreas com mais vagas
Indústria é outro setor importante, com 8,59% dos trabalhos com carteira assinada.
Mais de 60% das vagas dos empregos formais no município do Rio estão nas áreas de comércio e serviço. Os dois setores são predominantes na grande maioria das regiões administrativas (RAs), como mostra levantamento do Rio Como Vamos. As únicas exceções são Centro e Rio Comprido, onde o maior percentual está em administração pública e autarquias.
RAs como Copacabana, Santa Teresa, Lagoa, Vila Isabel e Complexo da Maré têm mais de 90% dos empregos formais em comércio e serviço.
Outro setor importante para a cidade é o da indústria, que, no entanto, é responsável por apenas 8,59% dos trabalhos com carteira assinada.
A RA com maior participação é Santa Cruz, com 36,17% dos empregos concentrados na indústria, contra os 52,48% de comércio e serviço.
A seguir vem Vigário Geral (29,91%), Inhaúma (28,63%) e Região Portuária (28,29%).
Com a inauguração da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), justamente em Santa Cruz, prevista ainda para este semestre, o perfil do mercado de trabalho da RA poderá ser alterado. Quando estiver operando com força total, a empresa vai gerar 3.500 empregos diretos.
A CSA que, segundo o secretário Augusto Ribeiro, deve atrair outras empresas para a região, poderá mudar não só o perfil do mercado de trabalho da RA, mas de toda Zona Oeste que, acredita, se transformará em alguns anos num pólo industrial. Atualmente, a Área de Planejamento 5 (Zona Oeste) concentra cerca de 30% da população carioca, mas é responsável por apenas 6% dos empregos formais da cidade, contra 43% do Centro, 17% da Zona Sul e 10% de Barra e Jacarepaguá.
Cariocas querem mais geração de emprego Para o conselheiro do Rio Como Vamos André Urani, a Zona Norte, com 38% da população e 20% dos empregos, precisa, além da revitalização urbanística já planejada pela prefeitura, de projetos de recuperação econômica, para ampliar a oferta local de trabalho.
A presidente do RCV, Rosiska Darcy de Oliveira, destaca a importância da mobilização da população: — Na pesquisa de percepção que o Rio Como Vamos fez ano passado, perguntamos aos entrevistados quais as três questões que necessitavam de mais atenção do governo municipal. Geração de emprego foi apontada em primeiro lugar por 41%, o que mostra a expectativa da população e a responsabilidade do gestor público. Precisamos agora torcer e lutar para manter os recursos dos royalties no estado, para que as boas perspectivas para os próximos anos não sejam ameaçadas.
Nessa luta, a mobilização da população, que já se mostrou forte na passeata do dia 17, precisa ser mantida.
Postado por Luis FavreComentários Tags: CAGED, Copa 2014, Eduardo Páes, emprego, Iets, IPEA, Marcelo Néri, microcrédito, Minha Casa-Minha Vida, olimpíadas, PAC, Prefeitura RJ, Rio Como Vamos, RJ Voltar para o início
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