Tracking é uma modalidade de sondagem da intenção de voto da opinião pública que é largamente utilizada pelos partidos devido à sensibilidade que propicia na detecção de oscilações – ou de falta delas – de tendências durante as campanhas eleitorais
O tracking é feito por telefone diariamente, usando os mesmos critérios estatísticos das pesquisas “de campo” – modalidade em que as entrevistas são feitas pessoalmente. Não visa tanto apurar percentuais, porque não é tão preciso, mas antecipar tendências.
Por isso os partidos utilizam tanto essas sondagens, para detectarem se os seus candidatos estão ganhando ou perdendo terreno no decorrer do tempo exíguo de uma campanha, quando um dia vale por semanas e uma semana, por meses.
O portal IG e a TV Bandeirantes inovaram nesta campanha eleitoral ao oferecerem ao público uma ferramenta de aferição da opinião do eleitorado que, até então, só estava disponível aos partidos.
Para tanto, o portal e a tevê escolheram o instituto que mais acertou nesta campanha eleitoral para presidente da República, o Vox Populi, que foi quem primeiro detectou o empate entre Serra e Dilma e, depois, a ultrapassagem de um pela outra.
O tracking do Vox Populi não mostra nada parecido ao que mostrou o Datafolha ontem. Com base nesse fato e me valendo da mais pura lógica, concluí que o Datafolha e – provavelmente – o Ibope são a última cartada da direita midiática para tentar levar a eleição presidencial ao segundo turno.
Sim, a sondagem diária do Vox Populi detectou redução das intenções de voto de Dilma, estabilidade de Serra e crescimento de Marina em proporções similares à do “campo” do Datafolha. A queda da vantagem da petista de fato ocorreu.
Contudo, não vamos nos esquecer de que a vantagem de Dilma no Datafolha sempre foi a menor entre todos os institutos – por que será, não? Sendo assim, a diminuição dessa vantagem no instituto de pesquisas da Folha deixa o segundo turno muito mais perto do que pode estar realmente.
Como Dilma abriu uma vantagem enorme sobre os adversários com o início do horário eleitoral, seria preciso muito mais adesão do eleitorado à campanha difamatória que ela sofreu da imprensa tucana para que a sua vitória já no primeiro turno não ocorresse.
Aliás, uma excelente evidência de que Serra voltou a determinar aos seus meios de comunicação que usassem pesquisas para ajudá-lo reside no fato de que tais meios passaram a ignorar que todas as recentes oscilações nas intenções de voto ocorreram dentro da margem de erro.
Não se pode negar que a campanha difamatória da mídia contra Dilma surtiu algum efeito eleitoral e que esse efeito ocorreu porque de fato alguma coisa parece ter ocorrido na Casa Civil. Mas isso é só uma suposição que só uma investigação apurada poderá confirmar.
É normal que a imprensa apure fatos como esse. O que é anormal é que apure só no governo Lula fatos que podem ocorrer em qualquer governo, e que despreze denúncias sobre o governo de São Paulo ou contra a filha de Serra e suas relações com o esquema Daniel Dantas.
A desculpa que a ombudsman da Folha deu a um leitor sobre por que o jornal escondeu as denúncias da Carta Capital, é um escândalo. Dizer que nada foi publicado porque tais denúncias ainda estão sendo apuradas é um insulto à inteligência das pessoas.
Que apuração a Folha fez para publicar a ficha falsa da Dilma na primeira página depois de recebê-la em um e-mail apócrifo?
Mais uma vez, julgo que fraudar pesquisas não surtirá o efeito pretendido. Já foi tentado durante meses e meses e não impediu que Dilma passasse sobre Serra como um trator.
Dirão que na reta final da eleição as pessoas prestam muito mais atenção a pesquisas. Aí entra em campo aquela teoria de que muitos quereriam votar em quem ensaia uma virada porque sentir-se-iam estimulados a materializá-la – talvez por ser mais emocionante?
Contudo, o bombardeio contra Dilma e as pesquisas favoráveis a Serra tendo exclusividade na grande mídia durante todo este ano, seguramente atingiram muito mais gente do que o Datafolha poderá lograr em tempo tão exíguo. Assim mesmo, não funcionou.
Dessa maneira, já lhes adianto o resto do roteiro desse filme velho. A pesquisa Datafolha pretendeu desencadear um efeito manada. Enquanto escrevo, o instituto já começa a apurar o efeito que a “queda” exagerada da vantagem de Dilma produziu no eleitorado.
Nesse momento, surgem duas possibilidades. Se tiver ocorrido queda maior, agora desencadeada pela notícia de que tal queda ocorreu, haverá nova queda exagerada no próximo Datafolha. Se o efeito tiver sido insuficiente ou nulo, a próxima pesquisa desse instituto dirá que Dilma “reagiu” – o Datafolha não pode ser desmentido dois ou três dias depois pela apuração dos votos.
A pesquisa Sensus, que deve sair hoje, provavelmente mostrará que, mesmo com queda da vantagem petista, o segundo turno está longe. A Globo esconderá isso e é bem provável que Folha e Estadão nem publiquem ou publiquem escondido nas páginas internas.
A grande questão, portanto, é se a manipulação do Datafolha de exagerar a diminuição da vantagem de Dilma terá o efeito pretendido. E se funcionará agora, por estarmos tão perto da eleição, mesmo não tendo funcionado no decorrer deste ano.
Apesar do clima de reta final na campanha, durante este ano a tática tem fracassado em desencadear o efeito manada na dimensão desejada. Haveria que ocorrer em uma semana o que não ocorreu em nove meses, pelo menos. Não creio que ocorrerá agora.
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