Vermelho - 2 de Novembro de 2010 - 12h25
A declaração do candidato derrotado à Presidência da República, José Serra (PSDB) – que em discurso sobre o resultado de domingo (31) disse que não dava um "adeus", mas um "até logo" – causou polêmica. Reservadamente, tucanos e aliados defendem uma renovação dos quadros da oposição nos próximos anos.
Serra escancarou a maior crise da história do PSDB, que terá de trabalhar para evitar que novas divisões internas prejudiquem a candidatura do tucano que concorrerá à eleição em 2014. A ideia é criar consenso em torno de um novo candidato já em 2012, evitando especulação e desgaste político que interfira no processo de escolha.
Ao contrário do que aconteceu nas últimas três eleições presidenciais – em 2002, José Serra disputou a vaga com Tasso Jereissati; em 2006, a briga foi com Geraldo Alckmin (que ganhou a queda de braço); e este ano Aécio Neves foi a pedra no caminho –, a cúpula tucana quer trabalhar nos dois anos antes da eleição em torno de um único nome.
Para líderes do partido, os rachas internos podem contribuíram para a derrota de Serra na disputa com Dilma Rousseff no segundo turno. “Precisamos ter um desenho sobre nosso candidato já daqui a dois anos. Não podemos ficar refém dessa divisão interna”, avalia Sérgio Guerra, presidente do partido e coordenador nacional da campanha tucana.
Segundo Guerra, ao pôr Aécio de escanteio na disputa, o partido criou um clima de constrangimento que pode ter interferido negativamente. “Quando o Aécio desistiu da candidatura, eu estava lá e liguei imediatamente para o Serra e para o Fernando Henrique para dizer que eu tinha visto uma tristeza e um constrangimento muito forte do Aécio. Eu disse a eles: temos que trabalhar isso”, chegou a admitir Guerra.
Por tudo isso, a declaração de Serra em 31 de outubro, ao comentar a vitória de Dilma, piorou ainda mais a crise. Serra sinalizou que não sairá da vida pública e deu a entender que pretende voltar a disputar algum cargo eletivo. Houve repercussão negativa da declaração junto a aliados – que se incomodaram sobretudo com a frase "o povo não quis que fosse agora", usada por ele para falar da derrota.
Nos bastidores, integrantes do PSDB avaliam que Serra foi personalista e não promoveu o que deveriam ser os novos passos do partido, no momento em que ele, Serra, sofre a segunda derrota na disputa pela Presidência da República. Há uma cobrança pela reconstrução do PSDB e a adoção imediata de uma bandeira para defender, como a reforma política, durante os quatro anos de administração Dilma.
Na visão desses tucanos, o posicionamento de Serra impede a criação de um canal de interlocução com a sociedade – elemento indispensável para melhorar a imagem do PSDB e da oposição. Os críticos de Serra questionam, ainda, qual espaço político será utilizado pelo candidato derrotado para ser um "militante produtivo".
As forças em choque
O pano de fundo para o descontentamento interno de parte do PSDB é a luta interna por espaço político na legenda. Os principais protagonistas dessa disputa, cada vez menos, velada são os serristas e os entusiastas do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Aécio Neves.
Com musculatura política renovada, Alckmin tem pela frente uma nova geração de tucanos, além de colaboradores tradicionais, que defendem o seu nome como principal liderança no estado. Do lado mineiro, há descontentamento com a supremacia paulista na escolha dos presidenciáveis, além do entendimento de que São Paulo perdeu a vez com as duas derrotas de Serra e a de Alckmin, em 2006.
Para aliados de Serra, o discurso de domingo foi importante para mandar um sinal para o eleitor que o escolheu. "A realidade é que Serra tem mais de 40 anos de vida pública. Não tem motivo para abandonar isso, o que não significa, necessariamente, disputar um cargo eletivo", afirmou o deputado Jutahy Junior (BA).
Um dos coordenadores da campanha de Serra, José Henrique Reis Lobo, avalia que, em seu discurso, Serra "assumiu a tarefa de ser uma das lideranças da oposição". "Ele vai ser uma das grandes expressões e um oráculo das oposições, não só em estratégia, como em discurso", afirmou Lobo.
Os aecistas
Tucanos serristas culpam Aécio pela derrota na eleição, já que o mineiro não conseguiu obter a vitória de Serra em seu estado, apesar de ter emplacado um "novato" em eleições – o seu ex-vice e agora governador Antonio Anastasia, que conseguiu se reeleger. No discurso de anteontem, Serra nem sequer citou Aécio.
No segundo turno, Dilma conquistou 58,45% dos votos de Minas – 1,7 milhões de votos a mais que Serra, que obteve 41,55% dos votos mineiros. Nos 27 dias de campanha entre o primeiro e o segundo turno, o ex-governador participou de apenas cinco eventos de apoio a Serra no estado.
Nesta segunda, Aécio negou todos os pedidos de entrevista. Seus aliados é que foram escalados para defendê-lo das insinuações de que ele não teria se empenhado pela vitória de Serra em Minas. Os tucanos mineiros alegam que a estratégia de viajar o país – adotada por Aécio no segundo turno – foi proposta do próprio Serra.
“O que vimos foi uma demonstração de coragem do Aécio e muito desprendimento. Ele poderia ter ficado quieto, mas faz o contrário e mostrou que é uma pessoa de partido”, defende o secretário-geral do PSDB e uma das pessoas mais próximas de Aécio, o deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG).
A tropa de choque de Aécio já atua para unir o partido em torno de seu nome como liderança natural a disputar as próximas eleições, em 2014. Para isso, os tucanos mineiros acreditam que é preciso promover uma grande reflexão no partido para torná-lo mais nacional – menção clara à hegemonia paulista que resultou no lançamento de três candidatos do estado à Presidência nos últimos anos.
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