Em entrevista ao 247, o gerente-geral do hotel, Rogério Tonatto, afirma que as imagens (acima) não se parecem com as do circuito interno do hotel; podem, portanto, ter sido filmadas por Veja; perícia irá apontar os responsáveis pelo crime, que já coloca Fabio Barbosa, novo presidente da Abril, diante de um dilema: iniciar ou não a faxina interna?
O caso Veja/José Dirceu pode ser ainda mais grave do que parece. Há poucos minutos, recebemos uma ligação de Rogério Tonatto, gerente-geral do Naoum Plaza Hotel. Indignado com o vazamento de imagens do corredor de um dos andares do estabelecimento, onde o ex-ministro José Dirceu se hospeda com frequência, ele afirma que elas não se parecem com as do circuito interno do hotel. Ou seja: podem ser fruto de um grampo plantado pela equipe da revista Veja, que também se hospedou no hotel. “Já acionamos a polícia civil do Distrito Federal e vamos também acionar a Polícia Federal para que se apurem todas as responsabilidades”. Leia, abaixo, sua entrevista:
247 – Como foram obtidas aquelas imagens?
Rogério Tonatto – Ainda não sabemos, mas o que podemos dizer neste momento é que elas não se parecem com as do circuito interno de segurança do hotel. Todas as nossas câmeras são coloridas e não faria sentido que a reportagem da revista Veja apagasse a cor das imagens antes de publicá-las.
247 – Então está descartada a possibilidade de que as imagens tenham sido vazadas por algum funcionário do hotel?
Tonatto – Nada está descartado, mas as imagens, a princípio, não são nossas, mas sim de outras fontes.
247 – O grampo pode ter sido plantado pela revista Veja?
Tonatto – Tudo terá que ser apurado. Já registramos um boletim de ocorrência junto à polícia civil do Distrito Federal e pretendemos também acionar a Polícia Federal para que se apurem todas as responsabilidades. Vamos até o fim.
247 – Veja alega que o hotel foi instado pelo hóspede José Dirceu a registrar o boletim de ocorrência.
Tonatto – Ora, é evidente que a iniciativa foi nossa. O Naoum é um dos hotéis mais tradicionais de Brasília. Já hospedamos reis e rainhas em nossos 22 anos de existência. Temos a obrigação de zelar pelos nossos direitos e também pelos direitos de nossos hóspedes.
247 – O dano à imagem do hotel foi grande?
Tonatto – Admito que foi constrangedor ver imagens que dizem respeito à intimidade das pessoas que aqui se hospedam serem expostas daquela maneira.
247 – É verdade que o jornalista Gustavo Ribeiro saiu sem pagar sua conta?
Tonatto – A conta foi paga porque aqui no hotel todos que se hospedam deixam antes uma garantia, com um pré-pagamento no cartão de crédito.
247 – Mas ele saiu mesmo sem fazer o check-out.
Tonatto – Posso dizer que a conta foi paga.
Em reportagem anterior sobre o caso, já havíamos noticiado que o Hotel Naoum confirmava o crime cometido por Veja (leia mais). Na reportagem deste fim de semana, estão expostas imagens de José Dirceu, mas também de senadores, como Lindbergh Farias, Eduardo Braga e Delcídio Amaral, que se encontraram com ele, assim como de executivos, como José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, e do ministro Fernando Pimentel. Note-se que foram filmados sem autorização judicial e sem que fizessem nada de anormal - apenas encontravam-se com uma pessoa conhecida, que participa da vida política do Brasil.
Recentemente, no maior escândalo da história da imprensa mundial, soube-se que o tablóide britânico News of the World grampeava ilegalmente os alvos de suas reportagens. Rupert Murdoch, dono do jornal, pediu desculpas publicamente na primeira página de todos os seus jornais e foi ainda obrigado a depor diante do parlamento britânico – quando quase foi alvejado por uma torta na cara.
Roberto Civita, dono do grupo Abril, certamente não pedirá desculpas.
Sua tropa de choque já foi escalada para desqualificar o crime de invasão de domicílio, que será investigado pela polícia civil do Distrito Federal e pela Polícia Federal, e para tratar a reportagem deste fim de semana (leia mais sobre ela) como um marco da democracia brasileira.
Mas Civita acaba de contratar como presidente o executivo Fabio Barbosa, que é um incansável pregador da ética corporativa.
Dentro de uma semana, Barbosa estará no comando da Abril, com poderes, inclusive, sobre a área editorial – o que inclui Veja.
E ele tem um prato cheio nas mãos: a oportunidade histórica de iniciar a “faxina” interna.
E isso sem maiores traumas, pois, aparentemente, houve um haraquiri no grupo Abril.
Leonardo Attuch
No Brasil247
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