2. A tentativa, de tão patética, lembrou o assalto em 1980 à uma agência do Bradesco na Avenida Paulista. O plano, proposto por um amalucado que teria uma “denúncia” contra a Eletronorte foi bancado pelo jornal. O chefe de reportagem na época não só despachou uma equipe junto com o assaltante, como pagou o taxi que levou o doido até a porta do Bradesco.
3. A farsa da matéria que tentou desmascarar José Dirceu como “homem que age nas sombras de Brasília” começou a se desfazer no ar quando o ex-ministro de Lula denunciou a tentativa de invasão de seu quarto no Hotel Nahoum pelo repórter Gustavo Nogueira Ribeiro. O que saiu na Veja desta semana é ruim de doer. A revista conseguiu a proeza de fazer um relato da agenda de Dirceu, dos deputados e senadores que ele recebe em Brasília. Se isso é crime, os jantares na casa do Andreas Matarazzo também o são.
4. Na tentativa de conseguir algo mais concreto que as “amizades” de Dirceu para bancar o lead da matéria, segundo o boletim de ocorrência, Gustavo teria tentado dar um passa moleque na camareira dizendo que havia se hospedado no quarto pertencente a Dirceu e perdera a chave. Diante da insistência do repórter a camareira checou a lista de hóspedes. Enquanto a camareira acionava a segurança, Gustavo deixou o hotel. O boletim não é claro o suficiente, mas, ao que tudo indica, Gustavo voltou mais tarde e hospedou-se em um quarto ao lado do de Dirceu, mas deixou o hotel sem fazer check-out ou pagar a conta. Neste caso, hospedar-se em hotel e deixar o quarto sem pagar conta caracteriza crime de estelionato.
5. O Hotel também não é santo nesta história. Além de deixar uma pessoa que não é hospede circular pelos seus corredores sem ser notado, ainda vazou imagens do circuito de câmeras que mostra Dirceu e os senadores petistas Walter Pinheiro, Delcídio Amaral e Lindbergh Faria. Afinal as câmeras são usadas para segurança e não para espionagem. Mesmo cooperando com a revista, a máfia não perdoa, como lembra Veja no final de sua reportagem. A revista acusa o Hotel de ter comunicado um falso crime – a tentativa de invasão do quarto de Dirceu – para defender o cliente. Segundo a revista, o Hotel, instado pelo sócio de Dirceu levou o repórter, que apenas fazia seu trabalho, à polícia. Temos mais um delito: falsa comunicação de crime.
6. Mas o mais grave foi descoberto devido à inépcia de Gustavo. O repórter da Veja passou por normas básicas da reportagem. Fez contato via twitter com Douglas Lopes. “@douglaslopesweb Sou repórter da Veja. Preciso conversar com você. Qual seu email?”.
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Malandro é malandro. Douglas, depois de algum tempo, tuita sem dizer com qual arroba está falando: “Meu Gmail é esse: douglaslopesweb@gmail.com Quem quiser add no gtalk e pegar algum suporte. Se quiser mandar virus tb adoro testar vírus”.
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7. Douglas Lopes é evangélico e hacker. Jovem da periferia de Brasília, ele invadiu (não sem ajuda do UOL) e copiou 25 mil e-mails do ex-ministro José Dirceu e tentou vender as informações à oposição. Mais uma vez, malandro é malandro. Segundo a IstoÉ de 1 de julho, o “hacker procurou o ex-deputado Alberto Fraga, presidente do DEM do Distrito Federal, para vender sua muamba por R$ 300 mil. Antes, ele teria procurado líderes do PSDB e oferecido o material por um valor superior”.
8. Fraga é mais malandro que Douglas. Segundo ele, quando recebeu o rapaz no dia 9 de junho em Brasília, viu alguns emails de Dirceu e da presidente Dilma Roussef e gostou da história. Faria a república tremer. Mas Fraga é ex-deputado. Ex não tem foro privilegiado, não tem imunidade. Estaria recebendo o material, fruto de roubo e quebra de sigilo e seria cúmplice do crime.
9. Como na escala darwiniana de manés e malandros de Brasília o repórter da Veja está mais para plâncton, mesmo com a PF na cola de Douglas, Gustavo Nogueira Ribeiro procurou o hacker. Certamente queria dele os 25 mil emails de Dirceu. Se Gustavo não esperava ter o material de Dirceu nas mãos, na semana em que tentou invadir o quarto do ex-ministro, teria ele ido apenas tomar café com Douglas? Supostamente não. Esperava lá encontrar lastro para a matéria de capa da Veja desta semana.
10. Se a PF não começou a investigar o repórter da Veja, uma vez que o crime de tentativa de invasão de domicílio tem um menor poder destrutivo e estar circunscrito na esfera da Polícia Civil do DF, há bons e novos argumentos para enquadrar Gustavo Nogueira Ribeiro em uma investigação. Douglas, o hacker pobre e evangélico, não copiou somente emails de Dirceu. O ex-deputado do DEM admitiu ter visto emails pessoais da presidenta Dilma. Dirceu não tem foro, mas, no caso da presidenta, trata-se de uma questão de segurança nacional.
11. Mais, a PF pode ter em seu poder material suficiente para enquadrar o repórter da Veja, uma vez que Douglas está sob investigação federal.
12. No assalto ao Banco Bradesco, cometido em mancomuno com jornalistas do Estadão, o chefe de reportagem, e mentor do “furo” virou um zumbi na redação. De setor em setor, até ser demitido, havia os que nem lhe falavam bom-dia. A máfia não perdoa. Especialmente os manés.
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Do Blog teia livre.com.br |
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