segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Entendendo o poder da mídia - Crônica política.

Copiado do Blog CIDADANIA.COM, do Eduardo Guimarães, que está em Minhas Últimas Notícias e em Meus Favoritos.
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Crônica política

Entenda o poder da mídia.

Em meio à carnificina no Oriente Médio, tragédia que deixa impotentes e indignados todos os seres humanos dignos de ser chamados assim, e em meio à ameaça às nossas próprias vidas que é a crise econômica, sobretudo quando temos, entre nós, gente poderosa que torce para que pais de família percam seus empregos e empresas quebrem porque tais desgraças favoreceriam seus interesses políticos, acabamos, os cidadãos comuns, perdendo a serenidade. E justamente no momento em que ela mais precisa ser mantida, pois a política, nos próximos dois anos, ditará o que será do país na próxima década.
Um leitor postou aqui comentário que resume preocupações antigas que me afligem, e das quais, junto com tantas outras, ainda não tratei direito. É que é tanto o que precisa ser dito que muitas vezes nem sei por onde começar, o que fatalmente me faz abordar assuntos menos importantes, como quando trato de picuinhas políticas em prejuízo de assuntos como o que este post começa a abordar nesta frase, ou seja, sobre qual é, realmente, o poder da mídia de influir nas decisões da sociedade, e se esse poder inclui o de induzir as pessoas a votarem desta ou daquela forma.
Para começarmos a entender do que estou falando, reproduzo, abaixo, comentário de um leitor, o qual peço que poupem de respostas à atitude desrespeitosa que teve para com a maioria dos leitores que optam por se manifestar neste blog. Não percam tempo com o leitor em questão porque não é ele que importa e sim o que ele afirma, ou melhor, o que ele recita, que é um verdadeiro mantra que dez entre dez empregados e patrões da grande mídia recitam igual. O leitor usou o “gancho” do post anterior, sobre a entrevista de Lula à revista Piauí, para vender seu peixe, ou melhor, o peixe da mídia, ainda que possa ter feito isso sem se dar conta. Vejam o que diz o leitor em tela:
Por vezes, dirigi-me a este blog reclamando da fixação maluca da esquerda em relação à “mídia”. Já vi, inclusive aqui, demonstrações explícitas de histeria e descontrole com alguma matéria e/ou algum jornalista. Já li, no portal da Hora do Povo, os seus “jornalistas” clamando pelo assassinato do amalucado Mainardi, porque ele ataca Lula.
Do alto de sua genialidade, o “sapo barbudo”, como disse Brizola, colocou, brilhantemente, os pingos nos is. Aprenda de uma vez com Lula, esquerda desorientada, que demonizar a “mídia” é gastar muita vela com defunto ruim. A “mídia” não tem essa importância toda. Não elege presidente, não derruba presidente e não influencia o eleitor.
Tratem a “mídia” como ela merece ser tratada: como um negócio. Se o sanduíche do McDonald’s não lhe agrada, experimente a concorrência. Se a Veja não lhe agrada, assine a Carta Capital. A “mídia” desconstruiu e estraçalhou Lula no “mensalão”; o eleitor reelegeu-o com 60 milhões de votos. É tão difícil de entender?
Esqueçam esse leitor que acha que só quem se queixa da mídia é uma ideologia, que aceita todos os verdadeiros crimes que essa mídia vem cometendo porque, apesar de querer dar a outros lições de comportamento e de clareza de visão não consegue enxergar qual é o real poder que a mídia ainda conserva.
Esta argumentação não se destina a essas pessoas que pregam a dispersão, combatendo o engajamento da sociedade civil, e que trabalham, sabendo ou não, em prol de interesses corporativos dos mais altos estratos da sociedade, àqueles aos quais não interessa qualquer tipo de mobilização popular, sobretudo se for contra o maior poder que o topo da pirâmide sempre controlou, isto é, o poder de fazer suas opiniões repercutirem sempre acima das dos cidadãos comuns. Esta argumentação destina-se àquele que quer se defender do jugo de muitos por poucos que sempre vigeu no Brasil.
Para se defender de alguma coisa, é preciso saber o que ela é. Estamos falando do poder da mídia de moldar comportamentos e decisões, tais como as de consumo ou as escolhas políticas, porque o poder de induzir as decisões das massas vale fortunas incalculáveis. E mais: vale poder político.
Não é por outra razão que os meios de comunicação, como bem disse o leitor, tentaram arrasar Lula não só durante o escândalo do mensalão, mas durante cada dia do seu governo, com milhares de ataques de todos os tipos, que infestaram todo e qualquer meio de comunicação a partir de 2003 de uma forma que eu jamais havia visto. Nenhum tipo de meio de comunicação foi poupado, nenhuma categoria de entretenimento foi poupada. A política anti-Lula da grande mídia tornou-se visível numa revista de fofocas tanto quanto numa novela, num programa humorístico ou num telejornal.
O leitor que menciono neste texto, entretanto, comentou que tudo isso que a mídia faz é à toa, porque ela não teria poder de derrubar ou de eleger presidentes. E diz que nós (?), a “esquerda”, é que não entendemos. Vejam bem, não é quem tenta fazer o que supostamente não pode que é burro, é quem acusa esse alguém de tentar fazer o que não pode que é. Assim, seria melhor deixar a mídia falando sozinha, como se deixa um doido fugido do hospício vagando pelas ruas e falando com seus amigos imaginários.
A mídia adora esse discurso. Venho ouvindo isso de jornalistas do Estadão e da Folha há anos e anos. Mais recentemente, nas quatro vezes em que estive com o atual ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva, ele também veio com essa conversa mole de que a mídia não tem poder para influir em escolhas políticas.
A teoria do ombudsman, de seus patrões e dos outros patrões amigos de seus patrões, porém, é mais sofisticada do que a do leitor de Palmas, no Tocantins, que quer nos dar lições. O que mostra que a mídia não está sendo eficiente na difusão de sua teoria, pois a do ombudsman é muito menos irracional do que a do leitor em questão, e é muito mais sofisticada.
Lins da Silva me explicou, em nosso primeiro almoço no restaurante Gato que Ri, no centro velho de São Paulo, que a mídia não tem poder de formar opiniões quanto a valores intrínsecos das pessoas, tais como o time para o qual a pessoa torce ou como a religião que ela abraçou, e a política estaria entre tais “valores”.
O ombudsman acedeu à premissa de que a mídia é capaz de provocar convulsões sociais instigando o medo das pessoas, como na divulgação de que haveria uma epidemia de febre amarela no país. Mas é só assim que ele acha que a mídia provoca movimentos de massa. Nisso ou no consumo, no qual a mídia também teria como influir.
Vou mais longe. Recentemente, a mídia tentou vender que o Brasil estaria vivendo um surto inflacionário. Agora, tenta fazer com que as pessoas parem de consumir, de forma a materializar com mais força a crise no Brasil, o que favoreceria a queda da popularidade imensa de Lula e, conseqüentemente, sua capacidade de transferir votos para seu candidato à própria sucessão, que fatalmente se defrontará com o escolhido da mídia, José Serra, em 2010. E, em alguma medida, estava e está conseguindo, ainda que, graças à reação de Lula e da internet, não está funcionando exatamente como a mídia queria.
Todavia, chega a parecer má fé dizer que a mídia não elege ou derruba presidentes. Só assim se pode desconhecer que a mídia derrubou um Jango Goulart e ajudou a instalar uma ditadura no Brasil, ou que ajudou Fernando Henrique Cardoso a se reeleger em 1998 mantendo os brasileiros sem saber que a crise econômica e a conseqüente desvalorização do real seriam inevitáveis, ajudando a vender a teoria tucana de que seria Lula que desvalorizaria o real se se elegesse naquele ano, apesar de que até as rotativas dos jornalões sabiam que FHC teria que desvalorizar a moeda assim que passassem as eleições.
Aliás, quem é que mantém o PSDB no poder no Estado de São Paulo há uma década e meia? Há que perguntar quem esconde todos os escândalos do governo do Estado, quem não transforma escândalos como o da Alstom ou o do buraco do metrô em campanhas midiáticas como a do mensalão.
Aliás, os números do mensalão são pinto perto dos números da Alstom e este escândalo tem muito mais provas contra os tucanos do que o mensalão jamais ousou ter contra tucanos ou petistas, sendo que só estes foram acusados na mídia pelo mensalão enquanto que os tucanos foram poupados do escândalo, como no caso de Eduardo Azeredo, senador mineiro e ex-presidente do PSDB envolvido com Marcos Valério até a raiz dos cabelos. Azeredo, um corrupto inegável que não ficou mais do que alguns dias no noticiário apesar de todas as provas cabais que havia contra si.
Quem é que não denuncia que os paulistas estão pagando propaganda pró Serra nos outros Estados brasileiros através da Sabesp? Quem é, senão a mídia, que não denuncia que justo agora a Sabesp descobriu que tem que melhorar sua imagem no resto do Brasil, justamente quando Serra já põe o pé na estrada da sucessão presidencial?
Mas, então, como é que a mídia não derrotou Lula em 2006? Ora, eu nunca disse que o poder da mídia de eleger e derrubar governos estava intacto. Vocês podem notar que a primeira grande revolta dos brasileiros contra a pregação política midiática ocorreu em 2002, num momento em que a internet já começava a abalar as estruturas de poder da mídia, ou seja, a capacidade de falar sozinha para muitas pessoas. Além disso, a própria situação no país, no decorrer do segundo mandato de FHC, empurrou os brasileiros para uma tentativa “desesperada”, ou seja, para Lula.
O mesmo aconteceu em São Paulo, na capital. Apesar de ser a cidade mais conservadora do país, depois de eleger facínoras como Jânio Quadros, Paulo Maluf e Celso Pitta, os paulistas sempre recorrem a uma administração petista para consertar os estragos, mas depois devolvem o poder à direita, porque a mídia convenceu o povo deste Estado de que ele tem que votar diferente dos outros para manter-se mais rico e influente. E os paulistas compram essa bobagem como se obtivessem realmente algum benefício desse bairrismo e dessa arrogância, quando, na verdade, têm escolas públicas, hospitais públicos e uma polícia entre os piores do país, apesar de São Paulo ser tão rico.
Agora, uma precaução importante é a de não darmos razão à mídia e a pessoas como esse leitor que escreveu essas baboseiras, buscando pelo em ovo. Eu, por exemplo, só denuncio da mídia o que é literalmente gritante, escandalosamente claro. Vejam só nessa questão da cobertura midiática sobre a crise no Oriente Médio. Disseram que a mídia estaria escondendo o massacre dos palestinos etc.
É uma bobagem. Todos os dias os jornais e telejornais estão mostrando todo o horror que os israelenses estão praticando. Ontem mesmo, conversando com o Luiz Carlos Azenha por telefone, ele mencionou a teoria de ocultação de fatos sobre o conflito no Oriente Médio pela mídia e chegamos juntos à conclusão de que não estaria havendo isso, até porque o jornalista acabara de publicar em seu blog reportagem do The New York Times que tratava justamente do que estava sendo pouco dito sobre aquele assunto e por um prisma totalmente favorável aos palestinos. O fato é um só: a mídia não tem como esconder nada, nessa questão. Imagens e notícias espalham-se pelo mundo como fogo na palha, o que está levando milhões às ruas para execrar Israel.
Quem tenta criar malfeitos da mídia que ela não cometeu, acaba prejudicando quem denuncia o que realmente ela faz de errado. Quem denuncia sem grandes indícios, baseado em meras impressões, atrapalha demais a discussão. O que deve ser denunciado é o que for realmente escandaloso. E há muita matéria-prima disponível para tais denúncias. Fabricá-las estimula pessoas como esse leitor do Tocantins que acusou a esquerda pelos crimes midiáticos da direita.
O poder remanescente da mídia só pode ser combatido se for entendido. É um poder decadente. Deverá diminuir com os anos, com a crescente pluralidade dos meios de informação, mas ainda é muito grande para ser subestimado, para ser tratado como se não existisse, e é insuficiente para desanimar as pessoas de lutar, pois nunca antes na história do mundo o cidadão comum que quis contestar o poder da mídia teve tantas armas à disposição, por mais que ainda sejam armas frágeis diante do poder ainda descomunal dos grandes meios de comunicação, poder que não pode nem deve ser nem sub nem superestimado. Nunca. Escrito por Eduardo Guimarães às 14h38[(19) Opiniões - clique aqui para opinar] [envie esta mensagem]

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