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Saraiva
SOCIÓLOGO SE RENDE AO BRASIL DE LULA
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
marcoscoimbra.df@dabr.com.br
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
marcoscoimbra.df@dabr.com.br
Ainda somos os mesmos?
Na hora de atrair os eleitores ano que vem, vai errar feio quem achar que continuamos iguais ao que fomos há vinte anos Quando, no domingo passado, comemoramos 20 anos da primeira eleição presidencial direta desde o golpe de 1964, havia muita coisa a celebrar. Para começar, o fato básico de serem 20 anos de democracia contínua, durante os quais a população escolheu, sem interrupções e em condições de completa normalidade institucional, o Presidente da República. Isso nunca havia acontecido em nossos mais de cinco séculos de história. Muita coisa mudou na sociedade e na política brasileira nesse período. Talvez só adiante, quando tivermos o distanciamento necessário para fazer avaliações isentas, seremos capazes de aquilatar o quanto. Certo é que mudamos mais (e para melhor) do que imaginam os que, com compreensível impaciência, gostariam que tudo andasse em velocidade maior. Agora, quando estamos às vésperas de uma nova eleição presidencial, uma dessas mudanças assume especial importância, uma que nem sempre percebemos. Se não a considerarmos, no entanto, o entendimento do que é hoje nossa vida política fica muito limitado. Trata-se da grande mudança que aconteceu no eleitorado brasileiro nesses 20 anos. Sem exageros, é possível dizer que o eleitorado que votou em 1989 é completamente diferente do que existe em 2009 e do que vai votar ano que vem. Mudou em tudo. Aumentou significativamente e suas características demográficas e socioeconômicas ficaram muito diferentes. Em números redondos, éramos 82 milhões de eleitores em 1989. Nas duas décadas a seguir, passamos a ser pouco menos que 132 milhões. Ou seja, no período, o eleitorado cresceu em quase 50 milhões de pessoas. A incorporação de um contingente de novos eleitores desse tamanho, sem crises ou rupturas, apesar da manutenção de um padrão de desenvolvimento que associa altos níveis de pobreza e elevada concentração de renda, diz muito a respeito da capacidade adaptativa de nossa sociedade. Significa que, em última instância, o sistema político foi capaz de oferecer a esses novos cidadãos a expectativa de que, na democracia, suas necessidades seriam atendidas, ainda que parcialmente. O veículo por excelência desse processo foi o PT, simbolizado pela figura de Lula. Mesmo quem não gosta dele tem que admitir que, na sua ausência, o potencial de conflitos e instabilidades de nosso arranjo social e político seria muito maior. O outro conjunto de transformações do eleitorado tem a ver com duas mudanças concomitantes, no perfil etário e na escolaridade. Nossos eleitores envelheceram e o peso dos segmentos com mais tempo de escola aumentou. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 1988, 57% da população com 16 anos ou mais tinha, no máximo, o antigo curso primário, enquanto a parcela com acesso ao atual segundo grau ou mais representava 21%. Arredondando: havia quase três vezes mais pessoas analfabetas ou com escolaridade muito baixa do que indivíduos que conseguiram chegar ao segundo grau ou ao ensino superior. A Pnad de 2008 mostrou a mudança: no primeiro grupo, fomos de 57% para 32%; no segundo, de 21% para 43%. A pequena minoria de pessoas com escolaridade média e alta virou a parcela de maior peso no eleitorado. Na estrutura etária, mudanças menos espetaculares, mas igualmente relevantes em suas consequências políticas. Nas eleições de 1989, 43% dos eleitores tinham até 30 anos e os com mais de 40 representavam 35%, confirmando o padrão do “país de jovens”. Hoje, os primeiros caíram para 34% e os eleitores mais maduros passaram a ser quase a metade. Juventude quer dizer pouca experiência eleitoral e era isso que caracterizava nosso eleitorado em 1989. A baixa escolaridade tende a se traduzir em maior dificuldade para adquirir e processar informações, o que era a regra para a grande maioria das pessoas que votaram então. Somos diferentes agora. Nas eleições de 2010, serão majoritários os segmentos com mais escolaridade e mais velhos, portanto, mais experientes na tomada de decisões eleitorais. Uma parcela imensa entrou na vida política sob a égide de Lula e só a percebe com ele. Na hora de atrair os eleitores no ano que vem, vai errar feio quem achar que continuamos iguais ao que fomos há vinte anos.
Postado por APOSENTADO INVOCADO 1 às Domingo, Novembro 22, 2009 1 comentários Links para esta postagem
Na hora de atrair os eleitores ano que vem, vai errar feio quem achar que continuamos iguais ao que fomos há vinte anos Quando, no domingo passado, comemoramos 20 anos da primeira eleição presidencial direta desde o golpe de 1964, havia muita coisa a celebrar. Para começar, o fato básico de serem 20 anos de democracia contínua, durante os quais a população escolheu, sem interrupções e em condições de completa normalidade institucional, o Presidente da República. Isso nunca havia acontecido em nossos mais de cinco séculos de história. Muita coisa mudou na sociedade e na política brasileira nesse período. Talvez só adiante, quando tivermos o distanciamento necessário para fazer avaliações isentas, seremos capazes de aquilatar o quanto. Certo é que mudamos mais (e para melhor) do que imaginam os que, com compreensível impaciência, gostariam que tudo andasse em velocidade maior. Agora, quando estamos às vésperas de uma nova eleição presidencial, uma dessas mudanças assume especial importância, uma que nem sempre percebemos. Se não a considerarmos, no entanto, o entendimento do que é hoje nossa vida política fica muito limitado. Trata-se da grande mudança que aconteceu no eleitorado brasileiro nesses 20 anos. Sem exageros, é possível dizer que o eleitorado que votou em 1989 é completamente diferente do que existe em 2009 e do que vai votar ano que vem. Mudou em tudo. Aumentou significativamente e suas características demográficas e socioeconômicas ficaram muito diferentes. Em números redondos, éramos 82 milhões de eleitores em 1989. Nas duas décadas a seguir, passamos a ser pouco menos que 132 milhões. Ou seja, no período, o eleitorado cresceu em quase 50 milhões de pessoas. A incorporação de um contingente de novos eleitores desse tamanho, sem crises ou rupturas, apesar da manutenção de um padrão de desenvolvimento que associa altos níveis de pobreza e elevada concentração de renda, diz muito a respeito da capacidade adaptativa de nossa sociedade. Significa que, em última instância, o sistema político foi capaz de oferecer a esses novos cidadãos a expectativa de que, na democracia, suas necessidades seriam atendidas, ainda que parcialmente. O veículo por excelência desse processo foi o PT, simbolizado pela figura de Lula. Mesmo quem não gosta dele tem que admitir que, na sua ausência, o potencial de conflitos e instabilidades de nosso arranjo social e político seria muito maior. O outro conjunto de transformações do eleitorado tem a ver com duas mudanças concomitantes, no perfil etário e na escolaridade. Nossos eleitores envelheceram e o peso dos segmentos com mais tempo de escola aumentou. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 1988, 57% da população com 16 anos ou mais tinha, no máximo, o antigo curso primário, enquanto a parcela com acesso ao atual segundo grau ou mais representava 21%. Arredondando: havia quase três vezes mais pessoas analfabetas ou com escolaridade muito baixa do que indivíduos que conseguiram chegar ao segundo grau ou ao ensino superior. A Pnad de 2008 mostrou a mudança: no primeiro grupo, fomos de 57% para 32%; no segundo, de 21% para 43%. A pequena minoria de pessoas com escolaridade média e alta virou a parcela de maior peso no eleitorado. Na estrutura etária, mudanças menos espetaculares, mas igualmente relevantes em suas consequências políticas. Nas eleições de 1989, 43% dos eleitores tinham até 30 anos e os com mais de 40 representavam 35%, confirmando o padrão do “país de jovens”. Hoje, os primeiros caíram para 34% e os eleitores mais maduros passaram a ser quase a metade. Juventude quer dizer pouca experiência eleitoral e era isso que caracterizava nosso eleitorado em 1989. A baixa escolaridade tende a se traduzir em maior dificuldade para adquirir e processar informações, o que era a regra para a grande maioria das pessoas que votaram então. Somos diferentes agora. Nas eleições de 2010, serão majoritários os segmentos com mais escolaridade e mais velhos, portanto, mais experientes na tomada de decisões eleitorais. Uma parcela imensa entrou na vida política sob a égide de Lula e só a percebe com ele. Na hora de atrair os eleitores no ano que vem, vai errar feio quem achar que continuamos iguais ao que fomos há vinte anos.
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