Partidos buscam mulheres para preencher cota de 30% de candidaturas, mas previsão é não alcançar o percentual. Em ranking com 137 países, Brasil está na 110ª posição em relação à participação feminina na política
Caça às mulheres. Os partidos políticos estão à procura de candidatas para compor as chapas proporcionais às assembleias legislativas e à Câmara dos Deputados. Embora mais da metade da população do país seja do sexo feminino, faltam aspirantes à política. A julgar pela vã batalha retórica empreendida por líderes partidários na tentativa de cooptá-las, neste pleito, assim como em 1998, 2002 e 2006, as chapas mal conseguirão integrar 15% de participação feminina. "Não é fácil preencher as chapas. Vamos ter de trabalhar mais e mais, mas dificilmente conseguiremos atingir a cota de 30% de candidaturas femininas", afirma Roberto Freire, presidente nacional do PPS.
"O problema se repete em todos os estados e em todos os partidos", avança o deputado federal Rodrigo de Castro, secretário nacional do PSDB. "O PT tem tradição de candidaturas femininas competitivas. Mas, mesmo assim, tem dificuldades para envolver as mulheres na disputa eleitoral", considera o deputado federal Reginaldo Lopes, presidente do PT de Minas. Nada que surpreenda. Para a Câmara dos Deputados, a participação feminina tem sido baixa: em 1998, as mulheres representaram 10,3% das candidaturas; em 2002, 11,4% e, em 2006, 12,7%.
Motivos para resistir aos apelos, elas têm. Algumas revelam experiências frustrantes e repassam suas histórias em família e entre amigos. A cabeleireira Izabel Lina Alves, 45 anos, guarda triste experiência de sua aventura eleitoral, quando concorreu pelo PTN a uma cadeira na Assembleia Legislativa mineira. "Prometeram-me recursos para bancar a campanha e fui dando cheques pré-datados. No fim, estava endividada e só", afirma. "Por isso não pretendo voltar à política", garante. "A estrutura dos partidos está a serviço da eleição de uns poucos. E em geral, homens", acrescenta Izabel.
Na lanterna
Para a chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, Marlise Matos, ao longo das sete últimas décadas, tem sido desproporcional a participação político-institucional das mulheres no Brasil, principalmente quando se leva em conta o seu desempenho em outros segmentos. No mundo todo é baixa a presença feminina nos parlamentos. Mas no Brasil a situação é ainda pior. O país está na 110ª posição, com 8,8% de cadeiras na Câmara dos Deputados conquistadas por mulheres. "Nesse conjunto de 137 países estudados e classificados pela Inter-Parliamentary Union, o Brasil se iguala, por exemplo, aos países árabes, que também têm cerca de 9% de representação feminina", explica.
Em pelo menos uma cidade mineira, porém, os partidos não enfrentam dificuldades para conseguir mulheres candidatas. Em São João do Manhuaçu, na Zona da Mata, elas são maioria na Câmara Municipal. Dos nove vereadores, cinco são mulheres no único município de Minas onde elas têm a supremacia no Legislativo. "Por ser mulher, tenho mais liberdade de lidar com as eleitoras. Muitas vezes, trabalho como psicóloga", diz a vereadora Lucilene Ornelas (PR), a parlamentar mais experiente da Casa. Ela cumpre o segundo mandato.Correio
O número
12,7%
Percentual de candidaturas femininas à Câmara dos Deputados em 2006
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