terça-feira, 6 de julho de 2010

Consumo de máquinas aumenta 30% este ano

06/07/2010 - 08:07h

Conjuntura: Produção e importação de equipamentos disparam, elevando capacidade produtiva do país

Aline Massuca/Valor
Foto Destaque
Fernando Puga, do BNDES: ciclo de investimento é saudável, puxado pela força do mercado interno

Sergio Lamucci, de São Paulo – Valor

As empresas brasileiras investem com força na modernização e ampliação da capacidade produtiva neste ano, estimuladas pelas perspectivas positivas para a demanda e pelas condições favoráveis de financiamento. De janeiro a maio, o consumo interno de bens de capital cresceu 30,1% em relação ao mesmo período de 2009, segundo estimativas do BNDES. As taxas mais expressivas aparecem no fornecimento de máquinas para o setor de construção civil, com alta de 156% nos primeiros cinco meses do ano, e para o de infraestrutura, com aumento de 46,9%.

O consumo interno é calculado pela soma da produção e da importação, com a exclusão das exportações, e os dados indicam que tanto a produção local quanto a importação de máquinas avançam rápido. O investimento em novas máquinas amplia a capacidade de produção de uma empresa e, consequentemente, eleva o potencial de crescimento do país no futuro.

Divulgada ontem, a Sondagem de Investimentos da Indústria da FGV indica que esse movimento tende a crescer: 40% das empresas consultadas dizem que a “ampliação da capacidade produtiva” é o principal motivo que as leva a investir em capital fixo, bem acima dos 24% de 2009. Outro ponto importante é que apenas 20% das companhias apontam “incertezas acerca da demanda” como fator que limita inversões – no ano passado, esse percentual era de 50%.

A força do mercado doméstico, em um quadro de alta da renda e do emprego, é o principal estímulo para o investimento em máquinas e equipamentos, diz o chefe da área de pesquisa econômica do BNDES, Fernando Puga. O bom momento do mercado de trabalho impulsiona a construção residencial, beneficiada também por juros baixos, afirma ele. Obras como as do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), acredita Piva, também ajudam o setor de construção.

Além da perspectiva de crescimento forte, o aumento do nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) na indústria ajuda a explicar a maior procura por bens de capital, acredita a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara. No caso do setor de material para construção, por exemplo, o Nuci atingiu 91,7% em junho, feito o ajuste sazonal, o nível mais elevado da série da Fundação Getúlio Vargas (FGV) iniciada em janeiro de 1993.

O esgotamento da ociosidade induz as empresas a investir na ampliação da produção, para dar conta de uma demanda maior e não perder fatias de mercado para os concorrentes, diz o economista Edgard Pereira, da Edgard Pereira & Associados (Edap).

De janeiro a maio, o consumo interno de bens de capital “sem rodas” (que excluem equipamentos de transporte como caminhões e ônibus) teve uma alta de 32%, levemente superior ao total, de 30,1%. Os números de bens de capital “sem rodas” mostram de modo mais claro o investimento na compra de máquinas voltadas para aumentar a eficiência e ampliar a capacidade produtiva na indústria.

Puga destaca a evolução do consumo interno de bens de capital voltados para infraestrutura. A produção local desses bens cresceu 46,3% nos cinco primeiros meses do ano, enquanto a importação teve alta de 30,7%. Para ele, os investimentos no setor vão continuar fortes nos próximos anos, tanto por conta de eventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, como pelas necessidades de inversões em áreas como a de saneamento.

“Esse crescimento ligado ao mercado interno, com melhora da renda, é bastante positivo para o país” diz ele, notando que a forte procura por automóveis estimula vários setores da economia, como os de aço e plástico. “Já a construção civil é grande demandante de produtos químicos, minerais não metálicos e cimento.”

Pereira vê o ciclo atual de modo um pouco menos otimista. Para ele, há projetos mais consistentes e significativos de investimento nas áreas de energia (principalmente os da Petrobras) e de infraestrutura, ao passo que, em grande parte dos segmentos, há muito mais “aumentos incrementais” da capacidade produtiva, estimulados pela redução da ociosidade.

Os analistas destacam a importância do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) do BNDES. Com juros baixos e fim da vigência no fim do ano, o PSI facilitou a decisão de investir de empresas que tinham projetos em carteira e tinham alguma dúvida em fazê-lo, diz Pereira.

Indústria de bens de capital também quer investir para ampliar a oferta

Juliana Ennes, do Rio – VALOR

A Sondagem de Investimentos da Indústria, realizada pela Fundação Getúlio Vargas, identificou que também os fabricantes de máquinas e equipamentos querem ampliar sua capacidade de produção. A pesquisa dividiu as intenções de investimento por setor e identificou que cerca de 41% das indústrias de bens de capital pretendem expandir a capacidade produtiva este ano, percentual que chegava a apenas 20% em 2009. De acordo com a pesquisa, o setor também bateu recorde entre as empresas sem planos de investimento – as indústrias de bens de capital que não vão investir somam apenas 7%. O recorde anterior, registrado em 2008, era de 14%.

“A recuperação do setor de bens de capital consolida totalmente a recuperação da indústria brasileira, não só em termos de produção, mas de retorno ao investimento. Isso mostra que todas as fases estão recuperadas”, explicou Aloísio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre).

Outro recorde foi registrado pelo setor de bens duráveis de consumo. Muito voltados para o mercado interno, com a produção de eletrodomésticos de linha branca, as empresas de bens duráveis que desejam expandir a capacidade produtiva chegam a 56% do total, enquanto no ano passado somavam apenas 36%. “Ainda estamos influenciados pela aceleração bem mais forte dos segmentos voltados ao mercado interno, que puxam os investimentos em expansão da capacidade produtiva”, disse Campelo.

Os não duráveis também tiveram grande avanço, passando de 23% para 40%. E as indústrias de bens intermediários que desejam ampliar a capacidade produtiva passaram de 19% para 39%.

Entre os setores de uso, o de materiais de transporte – que inclui tanto montadoras como autopeças – foi o de maior percentual entre as empresas que estimam investir prioritariamente em expansão de capacidade produtiva. No setor, 96% das empresas planejam investir, sendo que 60% são para expansão da capacidade. Este é o segundo maior percentual, atrás apenas do registrado em 2008, quando foi de 68%.

Outro setor de destaque em expansão de capacidade produtiva foi o de materiais elétricos e telecomunicações, que inclui eletrodomésticos, eletroeletrônicos, televisores e celulares, registrou 39% das empresas buscando expansão da capacidade produtiva.

No conjunto da pesquisa, 40% das empresas ouvidas apontaram a ampliação da capacidade como a principal razão dos investimentos em andamento ou planejados. Esse é o segundo melhor resultado da série histórica iniciada em 1998, atrás apenas de 2008, quando o percentual chegou a 50%. Por outro lado, a participação de empresas sem programa de investimentos para este ano é de 14%. Este é o menor percentual da história, empatado com 2007 e 2008.

Para Campelo, quando uma empresa investe em aumento da capacidade de produção é porque vislumbra um crescimento sustentado por mais tempo, não deve ser pontual. O objetivo de expandir as plantas industriais seria reflexo da melhora do cenário econômico a partir do segundo semestre do ano passado, quando a ociosidade das plantas foi reduzida.

Postado por Luis Favre

Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)





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