Em 23 de abril deste ano, a ONG Movimento dos Sem Mídia pediu à Procuradoria Geral Eleitoral abertura de investigação contra os institutos de pesquisa Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi devido à disparidade entre os números desses institutos sobre a sucessão presidencial e devido à troca de acusações entre, de um lado, jornais e revistas ligados a Datafolha e Ibope contra os institutos Sensus e Vox Populi e, de outro, de blogs e sites simpáticos ao governo Lula contra o instituto de pesquisas da Folha de São Paulo e o instituto ligado às Organizações Globo. Tais acusações foram de manipulação em prol de Serra ou de Dilma.
Acusações e números disparatados entre duas duplas dentre os quatro institutos – Datafolha e Ibope de um lado e Sensus e Vox Populi do outro – fizeram com que a PGE acolhesse a denúncia do Movimento dos Sem Mídia e determinasse a instauração de inquérito policial de acordo com a lei eleitoral nº 9504/97 e suas alterações, artigo 35, parágrafo 4º (Pesquisas Eleitorais), e com a resolução do TSE nº 23190/2009, artigo 18 (Pesquisas Eleitorais Eleições 2010), lei essa que versa sobre crime de falsificação de pesquisas eleitorais. Em 11 de maio, a vice-procuradora-geral-eleitoral, doutora Sandra Cureau, acolheu a representação do MSM e determinou à Polícia Federal que instaurasse inquérito contra os institutos representados. O processo junto à Procuradoria Geral Eleitoral–DF recebeu o número 4559.2010-33.
A divulgação da última pesquisa Ibope sobre a sucessão presidencial permite compor gráficos que revelam clara divergência das pesquisas Datafolha e Ibope de um lado e Sensus e Vox Populi do outro. Neste estudo, levou-se em conta apenas os três institutos que publicaram maior volume dessas pesquisas no primeiro semestre deste ano (Datafolha, Ibope e Vox Populi). Abaixo, os gráficos reproduzindo o que divulgaram esses institutos sobre as trajetórias estatísticas de Dilma Rousseff e de José Serra entre 31 de março e 30 de julho deste ano.
Como se pode ver nos gráficos, na pesquisa publicada em 15 e 16 de abril o instituto Datafolha joga para cima a candidatura Serra e mantém estagnada a candidatura Dilma. No mesmo período, em 13 a 18 de abril, o instituto Vox Populi joga a candidatura Serra marcantemente para baixo e a candidatura Dilma, da mesma forma, para cima, em uma trajetória das duas candidaturas que, naquele instituto, prossegue até hoje, enquanto que o Datafolha, em 20 a 21 de março, produz trajetória oposta para os candidatos, com o tucano e Dilma estagnados. A situação das duas candidaturas permanece estável no mês de junho e, em julho, Vox Populi volta a mostrar queda acentuada de Serra e subida acentuada de Dilma, enquanto que Datafolha e Ibope mantêm as duas candidaturas sem alterações, culminando com a pesquisa Ibope da última sexta-feira na qual o instituto, como em momentos anteriores, converge para o Vox Populi.
Fica fácil perceber, nos gráficos acima, que Datafolha e Ibope, no decorrer deste ano, produziram reações de Serra que não ocorreram no Vox Populi e que nos próprios Datafolha e Ibope vão se revertendo a cada dois ou três meses, sempre convergindo para o mesmo Vox Populi.
Ora, desde março deste ano o debate eleitoral no país vem se dando, em boa parte, em torno das divergências das pesquisas. As tentativas de Ibope e Datafolha de se descolarem da trajetória de Serra e de Dilma traçada pelo Vox Populi e pelo Sensus, portanto, ocorreram enquanto a imprensa corporativa e a imprensa dita alternativa acusavam, respectivamente, Vox Populi e Sensus, de um lado, e Datafolha e Ibope, do outro, de favorecimento a este ou àquele candidatos, o que, aliado à persistência do “descolamento” dos institutos tidos como serristas dos institutos tidos como dilmistas, elimina a possibilidade de alguém estar meramente “errando” sem intenção oculta.
A mera análise das pesquisas dos quatro maiores institutos do país certamente levará a investigação deles pela Polícia Federal – investigação que o Movimento dos Sem Mídia apurou que está, sim, acontecendo – a concluir que Datafolha e Ibope provocaram divergência de Sensus e Vox Populi de forma artificial e que vai tendo que ser revertida em uma trajetória na qual Dilma sempre acabava, primeiro, ficando mais próxima de Serra até, como se viu na pesquisa Ibope de sexta-feira, ultrapassá-lo, como o Vox Populi previra antes de todos, meses atrás, que aconteceria.
É zero a possibilidade de o Datafolha, por exemplo, estar errando inocentemente, sob a saraivada de acusações que todos os institutos de pesquisa estão sofrendo – e, ainda mais, com uma investigação da Polícia Federal em pleno curso.
O Ibope decidiu recuar devido à cada vez mais clara inexorabilidade da prevalência de Dilma sobre Serra, mas o instituto de pesquisa do jornal Folha de São Paulo – veículo que já publicou falsificação grosseira de ficha policial de Dilma em sua primeira página e que, portanto, não hesita em desafiar a lei –, provavelmente com base na confiança que tem nas relações políticas que o jornal mantém com a oposição ao governo Lula – relações que vão do Poder Legislativo ao Poder Judiciário, passando por instâncias estaduais e municipais do Poder Executivo –, acredita que pode continuar sustentando as chances eleitorais de Serra impedindo a sociedade de saber que tais chances estão diminuindo vertiginosamente.
Em minha opinião, o Ibope tomou uma boa decisão, mas que, entretanto, não elide um passado recente no qual as investigações da Polícia Federal fatalmente mostrarão que ao menos dois institutos de pesquisa cometeram crime eleitoral de uma natureza que atentou escandalosa e gravemente contra a democracia brasileira, a qual todo cidadão decente e consciente tem obrigação de proteger com todo empenho e com toda a convicção, pois esta nação sabe o quanto lhe custou recuperar a sua democracia depois do período de trevas ditatoriais em que foi atirada também por esses que hoje falsificam pesquisas.
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