quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lógica desfavorece estratégia tucano-midiática

Todos os dias, a blogosfera progressista comenta essa profusão de matérias políticas dos jornais, revistas, televisões e rádios ligados aos quatro principais grupos de mídia do país – Grupo Estado, Grupo Folha, Organizações Globo e Editora Abril – e do resto dos veículos que gravitam em torno das posições políticas dessas corporações.

São dezenas e dezenas de blogs políticos que podem se dar ao luxo de cada um escolher à vontade o veículo que quiser acusar de partidarismo em prol do PSDB e do seu candidato a presidente. Simplesmente porque há uma fartura tão expressiva de material para isso que mesmo com todos esses blogs é impossível abordar.

Todavia, esses mesmos impérios de comunicação insistem em se apresentar como isentos e chegam ao ponto de fazer acusações de partidarismo à blogosfera progressista através dos blogs corporativos. E, de vez em quando, através, até, de colunistas dos jornais dessas corporações midiáticas.

A grande questão que surge, portanto, é a seguinte: a parcela despolitizada da sociedade acredita que um Jornal Nacional ou uma Veja ou uma Folha de São Paulo sejam isentos? Explico, ainda, que estou me referindo à maioria que só costuma pensar em eleição quando começa o horário eleitoral na tevê e no rádio.

Essa questão é muito importante porque a maioria do eleitorado já pode chegar à eleição predisposta. As pesquisas de intenção de voto mostram que mais da metade do eleitorado já decidiu em quem votar. É muito? É pouco? Em minha opinião, é pouco.

Há um certo consenso de que, no Brasil pós redemocratização (período que, a meu ver, começou em 1989, com a primeira eleição direta depois da ditadura), um terço do eleitorado vota no PT e um terço vota contra, ficando para o terceiro terço a decisão de eleições presidenciais, principalmente.

Essas pessoas não têm convicções políticas arraigadas e costumam se guiar pelo que realmente pesa para os despolitizados, ou seja, pelo que o lado que governa (seja petista ou anti-petista) produziu para as suas vidas.

Em 1994 e em 1998, a decisão eleitoral da sociedade foi, de alguma maneira, sensata, chocando-se com a decisão eleitoral de 1989, quando o eleitorado, então absolutamente virgem em eleições presidenciais, em sua maioria se deixou levar por uma campanha difamatória contra Lula amplamente endossada pelos mesmos grupos de mídia supra mencionados. Havia a promessa do Plano Real.

De 1989 para cá, no entanto, foi se materializando essa situação de Lula e o PT serem atacados todos os dias na mídia ligada àqueles quatro grandes grupos de comunicação e ao grupo político antipetista de plantão, que já foi o de Fernando Collor de Mello e que, a partir de 1994, passou a ser o do PSDB, que tomou para si a tarefa de representar a direita brasileira.

Apesar de que de um ano e pouco para cá a mídia começou a veicular algumas acusações também ao grupo político conservador, do qual o líder já foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e hoje é José Serra, qualquer levantamento mostrará uma desproporção impressionante no volume de ataques a petistas e a tucanos.

O primo pobre da aliança conservadora, o Democratas, caiu em desgraça com o escândalo envolvendo o único governador que elegeu, José Roberto Arruda, e não houve como preservar o partido na mídia, sobretudo depois da prisão daquele que era visto como provável vice de Serra na disputa eleitoral deste ano, possibilidade que o ex-governador paulista chegou até a verbalizar.

Desta forma, aqueles grupos de mídia entendem que as raras acusações que veiculam contra tucanos se somam à profusão de notícias negativas para o DEM de forma a diminuir a sensação da sociedade de que só sai notícia contra o PT nas tevês, rádios, jornais e portais de internet das corporações já mencionadas.

São duas apostas que serão dirimidas em outubro próximo: se todo esse noticiário negativo contra o PT, como na capa da última Veja, será visto como apenas parte de um trabalho isento da mídia ou se o descomunal histórico antipetista dela está presente ao menos no inconsciente do terço despolitizado do eleitorado.

A única referência que se tem para tentar descobrir o que pode acontecer é a eleição de 2006 – na de 2002, em que venceu o PT, havia uma fadiga com o governo tucano que dificilmente teria deixado de desembocar na última opção não experimentada: Lula. Naquele ano, a sociedade ignorou solenemente a monumental campanha midiática em torno do mensalão.

Pode-se argumentar, a favor da aposta da direita, que o candidato dela era fraquíssimo na última eleição presidencial, e que disputou com aquele que já se tornara uma lenda viva na política brasileira. De fato, em contraposição ao insosso Alckmin havia um dos políticos mais carismáticos, conhecidos e debatidos da história nacional.

Por essa tese, haveria uma despolitização do pleito neste ano, pois não estará sendo travada uma disputa entre Lula e um anti-Lula. Seria possível, assim, vender àquele terço da sociedade que votar na indicada pelo popularíssimo presidente não contemplaria um desejo de continuidade de seu governo que nem mesmo os adversários dele ousam contestar.

Em desfavor da visão conservadora está o fato de que não se consegue entender por que a mesma sociedade que tem desprezado os reiterados e incessantes ataques da mídia a Lula – que incluem, inclusive, acusações de ser um pervertido, um assassino, um ladrão, um alcoólatra etc. –, concedendo-lhe aprovação de mais de 80%, deixaria de acreditar em sua promessa de que Dilma é quem melhor continuaria a sua obra.

Nesta terça-feira (14/07), por exemplo, o dois maiores jornais paulistas – os quais estão entre os três maiores do país – publicam a mesma manchete acusando Lula de ter violado a lei eleitoral. As manchetes acusatórias são as principais da primeira página e usam até a mesma estrutura nas frases.

Estado de São Paulo: “Lula desafia a lei eleitoral ao promover Dilma em evento”

Folha de São Paulo: “Lula usa evento oficial para enaltecer Dilma”

Qual o efeito dessa prática reiterada entre o eleitorado? Até hoje, nenhum. Pelo menos em relação a Lula. Aliás, ao sempre envolver Dilma nos ataques a ele, acredito que essas empresas de comunicação estão confundindo a imagem dele com a dela e ajudando a divulgar, cada vez mais, que é a sua candidata, o que ainda há um contingente apreciável de eleitores que não sabe.

Vou mais longe: acredito que os ataques à dupla Lula-Dilma terminou por dar a ela a identidade política que não tinha. Eu mesmo, confesso que sabia muito pouco sobre ela até a mídia lhe fazer o favor de jogá-la na arena política, mesmo dizendo ser um “fantoche” de Lula.

A idéia de Lula ter “fantoches” já pressupõe que ele seja um manipulador, um mistificador, alguém que pretende enganar as pessoas. Então surge a pergunta inevitável: quanto tempo faz que os ataques da mídia a Lula têm produzido efeito negativo zero para ele? E se a população não acredita nesses ataques e continua apoiando-o, por que levaria em conta a versão dos seus detratores sobre Dilma?

Valendo-me da mais pura lógica, não consigo enxergar efetividade e racionalidade na estratégia dos grupos de mídia que acreditam que conseguem esconder suas posições políticas vendendo a teoria de que atacam mais Lula e Dilma porque eles seriam os bandidos e Serra, o mocinho alvo de perfídias lulo-petistas como dossiês, por exemplo.

O gigantismo volumétrico dos ataques a Lula, a Dilma e ao PT é impressionante. Nos veículos dos quatro grupos de mídia em questão, se se contar quantos desses ataques são feitos todos os dias concluir-se-á que só cego não enxerga que os que atacam têm lado, porque são ataques de uma insistência quase patológica.

Até aqui, esses ataques têm fracassado também em relação a Dilma. Pelo menos é o que mostram as pesquisas. Basta procurar nos arquivos dos jornais ou mesmo no Google a estatura eleitoral de Dilma há alguns meses e compará-la com a de hoje e se descobrirá que ela teve um crescimento meteórico, tendo saído de coisa de 5% das preferências, na melhor hipótese (para Serra), para “empate” com o principal adversário.

A direita argumenta que esse “empate” era “previsível”. Não é o que se verifica lendo os jornais dos Grupos Folha, Estado e das Organizações Globo e a revista política da Editora Abril, a Veja. Até há poucos meses, chamavam os institutos de pesquisa Sensus e Vox Populi de desonestos por terem aferido o empate que, agora, ninguém mais nega.

Mídia e PSDB acreditam que o terço despolitizado do eleitorado não nota; Lula, Dilma e o PT, acham que nota e que foram, inclusive, ajudados por essa campanha política disfarçada dos meios de comunicação oposicionistas. E o único histórico disponível em eleições dá razão mais à situação do que à oposição, ainda que não se possa afirmar nada peremptoriamente.

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Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

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