Saúde da Família reduz morte de bebês
FOLHA SP
Pesquisas mostram que, a cada 10% de aumento na cobertura do Saúde da Família, a mortalidade infantil cai 4,6%.
Duas cidades de SP confirmam. Enquanto a mortalidade infantil no Estado é de 12,5 (mortes por mil nascidos vivos), Amparo tem 7,7 e Ibiúna, 23,7.
Ambas têm tamanho parecido. Em Amparo, o Saúde da Família atinge quase toda a população; em Ibiúna, não existe.
O programa, segundo estudos, também é capaz de reduzir internações por certas doenças. (RW)
Com baixo alcance, Saúde da Família patina em SP
No Estado, menos de 30% da população é visitada por equipes de saúde
SP tem 2ª pior cobertura do Brasil; ao contrário de MG e SC, Estado não envia verba específica aos municípios
RICARDO WESTIN – FOLHA SP
DE SÃO PAULO
Dois anos atrás, a família de Fernando Vitorino, 38, trocou um conjunto habitacional em São Paulo por uma casa com quintal.
Subiu na escala social, mas sente falta de uma coisa: a equipe de saúde que todo mês batia à porta para saber do casal e dos dois filhos.
“Na gravidez, como ajudou! A enfermeira orientava e via se minha mulher tinha tomado as vacinas e ido ao pré-natal”, ele diz.
O bairro de Vitorino é o mesmo, Itaquera (zona leste), mas a nova rua fica fora da área do programa Saúde da Família. A maioria dos paulistas está na mesma situação. Só 27,4% da população do Estado é coberta pelo Saúde da Família. É o segundo pior alcance do Brasil.
Há Estados onde mais de 95% da população é visitada.
O Saúde da Família conta com médicos, enfermeiros e agentes de saúde. Cada equipe cuida de mil famílias de uma área, com visitas mensais. Detecta doenças, agenda consultas e exames, busca quem faltou à consulta, vê se o remédio está sendo tomado e ensina a prevenir doenças.
Para especialistas, é importante até em locais onde as pessoas dispõem de planos de saúde privados e hospitais públicos de ponta.
“Muitas doenças são resolvidas na atenção básica, com pouco dinheiro, antes de se complicarem e exigirem tratamentos caros no hospital”, explica Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família.
Ele cita a hipertensão arterial como exemplo. Quando não é tratada, pode levar a enfarte, AVC e lesão nos rins.
VERBAS
O Saúde de Família foi criado em 1994. Cerca de metade dos brasileiros -97,8 milhões- é coberta. Um dos obstáculos para a expansão é a falta de médicos que trabalhem em áreas distantes, miseráveis ou violentas.
Em SP, pesa outro fator. O Estado não destina verbas específicas aos municípios.
A responsabilidade direta é das prefeituras -recebem do ministério R$ 6.500 mensais por equipe. O valor só cobre metade do custo. O resto sai dos cofres municipais.
Embora os Estados não estejam obrigados, 17 financiam o Saúde da Família.
“O incentivo estadual faz falta”, diz Ligia Giovanella, diretora do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde.
Dos 304 municípios sem o programa, metade fica em São Paulo. Osasco é um deles. “Precisaríamos aumentar muito o salário dos médicos, mas não há verba”, diz Gelso de Lima, o secretário da Saúde da cidade.
Na capital, o alcance é de 31,7%, segundo o ministério.
Quando não se adere à nova estratégia, quem sai perdendo é a população…
MARIA ALICE P. DE CARVALHO – FOLHA SP
ESPECIAL PARA A FOLHA
Por que ainda há municípios sem a ESF (Estratégia Saúde da Família)? O que perdem os moradores desses locais? Essas questões inquietam pesquisadores, trabalhadores da saúde e políticos. Deveriam ser objeto de inquietação da população.
A ESF se propõe a atender famílias por meio de uma equipe multiprofissional que vai às casas. Os profissionais falam sobre nutrição infantil, saneamento básico, acompanham o pré-natal e explicam como evitar doenças como malária, tuberculose, hipertensão e diabetes.
Objetivam principalmente prevenir, promover a saúde, acompanhar agravos e evitar que as pessoas necessitem de outros serviços de saúde.
A ESF é também uma forma de orientar a população a entrar no sistema público de saúde. Funciona como filtro eficiente para uso adequado de tecnologias disponíveis em hospitais e clínicas.
Implantar a ESF significa, além de trazer uma nova prática, reorganizar o velho modelo de atenção à saúde. Esse modelo, historicamente, é voltado para atender à doença já instalada, realizar procedimentos cirúrgicos evitáveis e reabilitar os incapacitados. Implica maiores recursos para pagar exames, procedimentos caros e medicamentos que enriquecem a indústria farmacêutica e fabricantes de próteses e aparelhos de reabilitação.
Uma consequência dessa opção sentem os pacientes de diabetes. Quando não têm acompanhamento na atenção básica, acabam desenvolvendo problemas que podem levar a amputações.
No Rio, 53% dos diabéticos que chegam aos hospitais de emergência acabam em amputações. Ações de prevenção as reduzem em 60%.
Vários outros problemas, como tuberculose, hipertensão e mortalidade infantil e materna, podem ser controlados quando há uma busca ativa das equipes da ESF.
Por que alguns municípios não aderiram à Saúde da Família? São interesses ideológicos? Optam pela atenção à doença e pelo cuidado hospitalar, aumentando as emergências? São interesses financeiros e mercadológicos que se unem ao interesses dos planos de saúde? Enquanto isso, quem perde é a população…
MARIA ALICE PESSANHA DE CARVALHO é pesquisadora da Ensp/Fiocruz
Postado por Luis FavreComentários Tags: governo SP, PSF, Saúde da família Voltar para o início
Do Blog do Favre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário