"Quem ninguém nunca mais ouse duvidar da maturidade política do povo brasileiro".
Foi mais ou menos essa frase que Lula disse ao ganhar em 2002 e tem repetido em alguns discursos ao redor do país.
Frase sensata. Ainda que falte muito, é óbvio que o povo abandonou certos picaretas.
Resta a classe média, eterna alienada, se dar conta. Mas até ela já está percebendo o que foi arrastado para debaixo do tapete da política.
Sendo assim, figuras como Fernando Gabeira, um aproveitador de ocasiões, tem sentido na pele que não basta ser o queridinho da mídia. Em certas ocasiões, é melhor até ser por ela odiado.
Gabeira é o seguinte. Fez parte do sequestro do embaixador americano nos anos 60 e está impedido eternamente de entrar nos Estados Unidos. Não pode nem ir para a Disneylândia. No linguajar da imprensa brasileira, ele seria um terrorista. Mas não é assim que a Veja (a sereia) e os jornalecos o tratam. Gabeira é o queridinho da elite branca do Rio, que desfila na praia de camisetas alvas pedindo paz. Mas consumindo drogas em seus apartamentos, não ligando de onde essa droga vem ou qual a consequência do tráfico. Elite hipócrita. Como Gabeira.
Nos estertores das eleições de 2002 o "verde" deixou sua sigla, o PV, e entrou para o PT. Levou toda a bancada do partido com ele: um deputado. Ele mesmo. Isso virou até piada, na época. Gabeira viu a oportunidade na sua frente. Percebeu que Lula venceria e ele poderia pegar uma carona. Mais tarde, quando as coisas começaram a esquentar com as tais denúncias do mensalão, ele, Heloisa Helena, Ivan Valente, Plínio (o atual candidato do PSOL) e mais uma galera, se mandaram do partido. Não queriam ser vitrine. Preferem ser sempre pedra. É bem mais cômodo.
Era mais cômodo. Gabeira caiu nos braços da imprensa brasileira, que recrutava dissidentes. Os mais vendidos aceitaram ser bucha de canhão da direita nacional, a mesma direita que tanto criticaram. E assim continuaram sua carreira política rumo ao ostracismo. Um por um, foram caindo. Jefferson Perez (morto), Pedro Simon, Gabeira, HH, Eduardo Suplicy. Cada um deles, em seu tempo e de um modo específico, foram entrando para a gaveta eternamente trancada dos políticos esquecidos pelo voto da pessoa comum. Encantaram a "elite". Mas só essa meia dúzia não elege mais ninguém.
Gabeira deu seu último suspiro. Perderá de lavada porque aceitou ser capa da Veja e traiu seus próprios princípios. Princípios aliás, que dizia ter. Ninguém sabe se tinha mesmo. Era mais um dos que pensam "cansei de ser esquerda, vou me esbaldar, agora".
Parece que o povo não é tão imbecil quanto eles pensam. Trololó da oposição o zé povinho já cansou. Quer ver atitudes. O PT, com todos os seus milhões de defeitos, tem atitude. Botou a mão na massa e aceitou ser vitrine. Alguns pagaram caro, com a própria sobrevivência política, pra não desmontar o partido todo e a governabilidade. Funcionou, porque o partido está forte como nunca. Acabou com a concorrência.
Os vendidos estão apenas colhendo o que plantaram. Gabeira é o exemplo mais evidente.
Paulo Coutinho
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