Tanto que rodamos, tanto que especulamos e a verdade sobre a eleição presidencial esteve o tempo todo sob os nossos narizes.
Aliás, quando flexiono os verbos do período anterior a partir da primeira pessoa do plural, sou bondoso, pois nós é uma vírgula… Eles, a direita, é que construíram teorias insólitas sobre como Serra venceria a eleição; a blogosfera progressista, os que integramos essa avassaladora “onda vermelha”, sempre dissemos a causa pela qual Serra cairia como fruta podre quando a campanha eleitoral chegasse ao auge.
A frase que intitula este texto foi dita por James Carville em 1992. Era, então, um dos craques mundiais do marketing político. Sua teoria se tornou notória durante a campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos. Explicava como o democrata poderia combater o então presidente americano, George Bush (pai), que buscava a reeleição pelo partido Republicano.
“É a economia, estúpido”, dizia Carville. A economia favorecia a vitória de Clinton como favoreceu a de Lula em 2002 e a de Obama em 2008, por estar mal, e foi a mesma economia que favoreceu a vitória de Lula em 2006 e favorecerá a de Dilma neste ano por estar bem. O resto é papo furado.
Atribuem a popularidade de Lula a uma sua lábia que teria poderes mágicos ou, ao menos, hipnóticos, e que enganaria um povo incauto, inculto, incompetente, irresponsável. Um povo, porém, que quando elegeu FHC era o supra-sumo do amadurecimento político decorrente da redemocratização do país, pelo menos para a mídia.
No fim, a explicação mais correta continua sendo a mais simples. A teoria de que o povo elegeria o maior adversário de Lula durante o seu mandato para continuar a sua obra se mostrou tão burra quanto a estratégia de negar até a morte os avanços que o país estava – e está – experimentando e de tentar atrapalhar sua governança de todas as formas.
Serra não vencerá a eleição, portanto, simplesmente porque não haveria como um oposicionista vencer. Claro que não precisaria ser por margem acachapante – e talvez não seja, porque ainda há muito chão pela frente até 3 de outubro. Mas a derrota da oposição sempre foi o cenário mais provável e continuará sendo mesmo fazendo todas as necessárias menções ao imponderável que se possa fazer…
Aliás, vale dizer que Serra até poderia ter uma pequena chance de vencer a eleição se ele e os seus aliados não tivessem passado os últimos anos sabotando tudo o que Lula fazia.
Será que o tucano acha que as centenas de milhares de famílias dos jovens que se beneficiaram do Prouni ficariam caladas enquanto ele prometia não interromper o programa apesar de seu aliado DEM ter entrado na Justiça para extingui-lo?
Nunca antes na história deste país um candidato deve ter sido tão chamado de mentiroso por tantos.Essas centenas de milhares de famílias de estudantes pobres converteram-se em milhões de pessoas que as integram, pessoas que vêm ascendendo na escala social e que não estão dispostas a eleger aquele que, através de aliados, tentou impedi-las de ascender.
E as milhões de famílias integrantes do Bolsa Família que passaram quase oito anos sendo estigmatizadas pelos aliados de Serra e pelo próprio como hordas de “vagabundos” e de “mendigos” que exploravam o resto da sociedade através do “bolsa esmola”? Essas milhões de famílias, à razão de 5 membros cada uma, converteram-se em dezenas e dezenas de milhões de pessoas que sabem muito bem o que significaria devolver o poder a tucanos e pefelês.
E as dezenas de milhões de trabalhadores que passaram a era FHC escutando os tucanos dizerem que era preciso acabar com direitos trabalhistas para viabilizar a geração de empregos no Brasil? Será que toda essa maré humana se esqueceu disso enquanto viu Lula criar 14 milhões de empregos com todos os direitos e com salários mais altos?
Até parece que o povo daria a mesma aprovação a Lula se a economia estivesse no fundo do poço como estava quando Serra, FHC e o resto deles estavam no poder. O atual presidente já teria caído há muito tempo, ou caminharia para o mesmo destino de FHC em 2002.
Note-se que a clareza da população sobre a situação política é tão grande que em 2006, com a mídia colocando imagens de pilhas de dinheiro para acusar Lula no horário nobre da TV e tudo, e com a economia muito menos vigorosa que hoje, o presidente foi reeleito por ampla margem de votos. O povo sabia o rumo em que o país tinha entrado.
O grande erro de Serra, de seu grupo político e de sua mídia foi o de subestimarem o povo, a capacidade do brasileiro de enxergar os fatos e, sobretudo, a melhora impressionante da qualidade de vida desencadeada por medidas e escolhas que a oposição e sua máquina de desinformação contestaram uma a uma com grande estardalhaço por anos a fio.
Como sempre se disse neste espaço, acima de tudo o que acontece nesta campanha eleitoral duas apostas estão se confrontando – uma feita pela direita midiática e outra pela centro-esquerda petista. Os conservadores apostam na burrice popular e os progressistas, no amadurecimento. Ainda que falte muito chão pela frente até 3 de outubro, até agora a aposta conservadora está virando pó.
Tenho certeza de que ao menos Serra já está repetindo para si mesmo a frase de James Carville e se perguntando por que, diabos, foi dar ouvidos ao Otavinho e companhia limitada.
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