Os ataques recrudesceram. Comento alguns dos textos bem barra-pesadas que encontrei nos jornalões. Por exemplo, a coluna do Ferreira Gullar, de um moralismo doente, tendencioso e conspiratório, que acusa o PT de toda espécie de sordidez, inclusive assassinato; o poeta desvincula a política de toda e qualquer fundamentação econômica e mergulha num lacerdismo maniqueísta e simplório de fazer inveja a blogueiros da Veja. O PT, segundo Gullar, tem votos porque "manipula a opinião pública". Para ele, o presidente Lula deveria ter sido deposto há tempos, e os petistas todos encarcerados. Leitura bem leve e literária para a edição de domingo de um caderno de cultura...
Outro ataque particularmente agressivo veio de Elio Gaspari. O homem de "todos os chapéus", como a ele se refere Paulo Henrique Amorim por sua habilidade em defender e atacar todo mundo, a depender do feeling da hora, hoje faz troça da participação de Dilma numa loja de "cacarecos panamericanos". Veja como Gaspari refere-se ao currículo de Dilma na administração pública: "Fora daí [a lojinha de cacareco], seu currículo ficou na barra de saia da Viúva".
As críticas à Serra são sempre focadas em sua estratégia política. Dilma recebe nos peitos outro tipo de munição, muito mais pesada: ataca-se sistematicamente suas qualificações pessoais. Os romanos antigos criticavam os discursos políticos que visavam antes o orador que as idéias que ele defendia, o famigerado ad hominem. Pois agora, temos, com Dilma, outra expressão: ad feminam.
Gaspari inicia o texto afirmando que: "segundo a superstição petista, Dilma Rousseff é uma executiva altamente qualificada". Ora, o colunista tem todo o direito de por em dúvida a capacidade gerencial de Dilma, mas é mentira dizer que se trata de apenas "superstição petista". A mulher tem 60% dos votos válidos, ou seja, a maioria absoluta dos 140 milhões de eleitores a considera uma administradora capaz. Quais são os parâmetros para se julgar se alguém é um "bom executivo", se é que o termo faz sentido em se tratando de administração pública? É a boa aparência? É saber se a lojinha de Dilma de há 20 anos fez sucesso?
Que eu saiba, Dilma foi secretária de Fazenda em Porto Alegre, uma das capitais mais modernas e exigentes da América Latina. Isso é ficar "na barra da viúva"? A expressão, que sugere alguém a mamar indolentemente nas tetas do Estado, teria sentido se ela tivesse exercido funções meramente decorativas, mas... secretária de Fazenda? Depois foi secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, um dos estados igualmente mais modernos e exigentes da América Latina. Tanto é exigente que a última governadora do PSDB, Yeda Crusius, encerra seu mandato com índice recorde de reprovação, mesmo contando com apoio e blindagem da poderosa RBS, a Globo do Sul.
A experiência como ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil também são funções cuja responsabilidade política e exigências técnicas vão muito além do que corresponde à expressão jocosa de Gaspari sobre ficar sob a "barra da viúva". Pode-se não concordar com os projetos de Dilma ou com o que ela representa, pode-se discordar frontalmente da maneira como ela e seu partido vêem o Brasil e o mundo, mas a desqualificação pessoal, da maneira como é feita por Gaspari, parece-me uma atitude simplesmente esnobe, quiçá preconceituosa. Isso se chama "subestimar" os outros, e não se deve fazer isso com seus piores inimigos.
Gaspari também dá seus arrotinhos éticos para impressionar a choldra. Enxerta um Silas Rondeau na história, confusamente, sem explicar direito como culpar Dilma por um executivo que ele mesmo informa ser alguém indicado pelo PMDB e Sarney.
Em seguida, Gaspari entrega-se de vez a seu evangelismo barato, novamente voltado à patuléia pequeno-burguesa, por conta dos R$ 113 mil que Dilma informou guardar em casa. É probibido guardar dinheiro em casa? Não. É imoral? Não. É estranho? Desde que a moeda se tornou estável e valorizada, não mais. As pessoas costumam usar dinheiro vivo para adquirir todo o tipo de imóvel, porque se obtém bons descontos. Meu irmão, infinitamente mais pobre que Dilma, duas vezes mais novo, vendeu o quarto e sala que tinha numa área degradada do centro do Rio por 80 mil reais, pegou o dinheiro vivo e comprou o sítio dele em Rio Bonito por 50 mil, numa área bem isolada. Com a sobra, comprou moto e uma caminhonete.
Se o meu irmão, desempregado, filho de professora aposentada do município, pode ter 80 mil reais em mãos, nem que seja uma vez na vida, qual o problema de Dilma Rousseff, a mulher mais poderosa do país, com salários altíssimos como presidente do Conselho da Petrobrás e ministra-chefe da Casa Civil, além de pertencer a família de classe média alta de Belo Horizonte, ter R$ 113 mil guardados em casa? Se ela tivesse 113 milhões de reais, tudo bem, seria estranho; mas 113 mil reais... mal dá para comprar um barraco num ponto melhorzinho de algumas favelas do Rio.
Outro ataque particularmente agressivo veio de Elio Gaspari. O homem de "todos os chapéus", como a ele se refere Paulo Henrique Amorim por sua habilidade em defender e atacar todo mundo, a depender do feeling da hora, hoje faz troça da participação de Dilma numa loja de "cacarecos panamericanos". Veja como Gaspari refere-se ao currículo de Dilma na administração pública: "Fora daí [a lojinha de cacareco], seu currículo ficou na barra de saia da Viúva".
As críticas à Serra são sempre focadas em sua estratégia política. Dilma recebe nos peitos outro tipo de munição, muito mais pesada: ataca-se sistematicamente suas qualificações pessoais. Os romanos antigos criticavam os discursos políticos que visavam antes o orador que as idéias que ele defendia, o famigerado ad hominem. Pois agora, temos, com Dilma, outra expressão: ad feminam.
Gaspari inicia o texto afirmando que: "segundo a superstição petista, Dilma Rousseff é uma executiva altamente qualificada". Ora, o colunista tem todo o direito de por em dúvida a capacidade gerencial de Dilma, mas é mentira dizer que se trata de apenas "superstição petista". A mulher tem 60% dos votos válidos, ou seja, a maioria absoluta dos 140 milhões de eleitores a considera uma administradora capaz. Quais são os parâmetros para se julgar se alguém é um "bom executivo", se é que o termo faz sentido em se tratando de administração pública? É a boa aparência? É saber se a lojinha de Dilma de há 20 anos fez sucesso?
Que eu saiba, Dilma foi secretária de Fazenda em Porto Alegre, uma das capitais mais modernas e exigentes da América Latina. Isso é ficar "na barra da viúva"? A expressão, que sugere alguém a mamar indolentemente nas tetas do Estado, teria sentido se ela tivesse exercido funções meramente decorativas, mas... secretária de Fazenda? Depois foi secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, um dos estados igualmente mais modernos e exigentes da América Latina. Tanto é exigente que a última governadora do PSDB, Yeda Crusius, encerra seu mandato com índice recorde de reprovação, mesmo contando com apoio e blindagem da poderosa RBS, a Globo do Sul.
A experiência como ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil também são funções cuja responsabilidade política e exigências técnicas vão muito além do que corresponde à expressão jocosa de Gaspari sobre ficar sob a "barra da viúva". Pode-se não concordar com os projetos de Dilma ou com o que ela representa, pode-se discordar frontalmente da maneira como ela e seu partido vêem o Brasil e o mundo, mas a desqualificação pessoal, da maneira como é feita por Gaspari, parece-me uma atitude simplesmente esnobe, quiçá preconceituosa. Isso se chama "subestimar" os outros, e não se deve fazer isso com seus piores inimigos.
Gaspari também dá seus arrotinhos éticos para impressionar a choldra. Enxerta um Silas Rondeau na história, confusamente, sem explicar direito como culpar Dilma por um executivo que ele mesmo informa ser alguém indicado pelo PMDB e Sarney.
Em seguida, Gaspari entrega-se de vez a seu evangelismo barato, novamente voltado à patuléia pequeno-burguesa, por conta dos R$ 113 mil que Dilma informou guardar em casa. É probibido guardar dinheiro em casa? Não. É imoral? Não. É estranho? Desde que a moeda se tornou estável e valorizada, não mais. As pessoas costumam usar dinheiro vivo para adquirir todo o tipo de imóvel, porque se obtém bons descontos. Meu irmão, infinitamente mais pobre que Dilma, duas vezes mais novo, vendeu o quarto e sala que tinha numa área degradada do centro do Rio por 80 mil reais, pegou o dinheiro vivo e comprou o sítio dele em Rio Bonito por 50 mil, numa área bem isolada. Com a sobra, comprou moto e uma caminhonete.
Se o meu irmão, desempregado, filho de professora aposentada do município, pode ter 80 mil reais em mãos, nem que seja uma vez na vida, qual o problema de Dilma Rousseff, a mulher mais poderosa do país, com salários altíssimos como presidente do Conselho da Petrobrás e ministra-chefe da Casa Civil, além de pertencer a família de classe média alta de Belo Horizonte, ter R$ 113 mil guardados em casa? Se ela tivesse 113 milhões de reais, tudo bem, seria estranho; mas 113 mil reais... mal dá para comprar um barraco num ponto melhorzinho de algumas favelas do Rio.
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