quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Crônica de tempos bicudos

Enviado por Luis Nassif
Por Leilaqdiz
Em 1973, o monstruoso Fleury invadiu nossa casa, só havia minha mãe e meus irmãos.Tudo foi destruído,ninguém podia entrar nem sair.Íamos ao banheiro e a porta tinha que ficar aberta com um soldado de frente.Meu pai preso, ficou 90 dias sem sabermos se estava vivo ou morto.Mamãe tomou de impulso,me puxou pelo braço e resolveu ir ao QG onde possivelmente papi se encontrava.Ficamos mais de um dia sentada na sala de espera com um soldado na nossa frente.
Qdo o coronel resolveu nos atender mame falou: se o senhor não me disser onde está meu marido, eu mato meus filhos e me mato, mas antes deixo uma carta, para quem vou entregar não interessa.Várias discussões se sucederam, mas não me lembro os detalhes pq fiquei horrorizada com que mame tinha resolvido a fazer e fiquei imaginando como ela iria nos matar. Pensei: ela resolveu isso sem nos consultar, mas logo em seguida pensei: mame pode está tentando enganar esse mostro.Lembro que íamos quase todos os dias e ficávamos sentadas por todo um dia.
A foto de nossa casa foi estampada nos jornais e qdo íamos à escola ouvíamos gritos: vc é comunista! sai comunista!Eu tinha 9 anos, minhas irmãs 7 e 6.Mame ficou estranha, pq soube do que fizeram com as esposas dos companheiros de papi.Lembro todas as mulheres da família em prantos.
Minhas avós, minha bisa, minhas tias.Pensava: pq choram tanto? Pai ainda não foi considerado morto.
Mas algum tempo depois fiquei sabendo o pq.
O coronel resolveu nos dar 5 minutos e depois de percorremos alguns corredores sempre com vários soldados a nossa volta armados, vi papi.
Eu pensei de imediato, não é meu querido pai, ele não é assim… O coronel fez um sinal para que eu ficasse quieta.
Mame chorava aos prantos, beijava-o desesperadamente.
Então com calma perguntava a todos.
O que aconteceu, pq ela estava assim?
Foi então que aos 9 anos fiquei sabendo o que era tortura e o que faz ao ser humano.
Deixei de ser criança naquele momento e tomei uma decisão, se ele foi preso por produzir panfletos, quem vai distribuir sou eu.

Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

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