Sep
Quando alguém concede – reparem no verbo conceder – uma entrevista, me parece que deve ser tratado com um mínimo de respeito. Até porque, ao representar um jornal e, por isso, poder ter acesso a fazer perguntas a um candidato a presidência, está desempenhando um papel público e não numa conversa regada a chope num botequim.
Não é o mesmo, também, que escrever um blog pessoal, sem a cobertura e a chancela de um grande veículo de comunicação,
Dilma não comparceu à tal “sabatina” que fez O Globo. E fez muito bem. O jornal, hoje, publicou as perguntas que Dilma teria de responder. A maioria, embora não fosse – e não devesse, mesmo – qualquer tipo de “candura” era feita com urbanidade. Mas reproduzo aqui duas, claro, de Merval Pereira e Míriam “Que Bobagem” Leitão que se assemelham a discursos, de tão longas, e a provocações, de tão raivosas:
Merval Pereira: Candidata, a senhora vem sofrendo uma transformação radical, à vista de todos, tanto na fisionomia quanto na ideologia. Qual é a verdadeira Dilma, a gerentona do governo, que já colocou muitos ministros a chorar depois de discussões, ou a mãe gentil do povo brasileiro? A que coloca o chapéu do MST e diz que não trata dos movimentos sociais na base da polícia, ou a que diz que não convém colocar o chapéu do MST e que não tolerará ilegalidades? A que se orgulha de ter participado da luta armada contra a ditadura e foi saudada por José Dirceu como “minha companheira em armas” ou a que nega ter pegado em armas contra a ditadura? A que classificou de “rudimentar” a proposta do então ministro Antônio Palocci de limitar os gastos do governo, ou a que defende o corte de gastos e tem o mesmo Antônio Palocci como coordenador de sua campanha?
Miriam Leitão : O governo tem banalizado o crime de quebra de sigilo fiscal dos líderes da oposição e familiares do candidato José Serra com frases espantosas. O ministro da Fazenda disse que vazamentos sempre acontecem; o presidente Lula perguntou num comício “cadê esse tal de sigilo?”; a senhora declarou que falar disso é desespero e jogo eleitoral da oposição. Tente imaginara situação inversa: os dados da sua filha sendo espionados no órgão que deve zelar pela proteção constitucional do sigilo. O que a senhora sentiria? A senhora considera normal que órgãos do Estado sejam usados para espionar adversários políticos?
Lendo estas perguntas a gente entendende como O Globo escolheu o slogan de sua publicidade institucional: O Globo, muito além do papel de um jornal. Verdade.
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