ESPECIAL PARA A FOLHA
Esta semana analisei o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, através de um vídeo que ele gravou para Dilma Rousseff no Dia da Independência.
Ele parece bastante intenso, provavelmente bravo e amargo com a campanha eleitoral. Diversas vezes, tensiona as pálpebras e abaixa suas sobrancelhas não apenas para intensificar o que está falando, mas também para mostrar sua irritação.
Dado o conteúdo do discurso, me pareceu que suas expressões eram apropriadas. Quando ele menciona “nosso adversário”, ele passa uma grande repugnância, o que parece demonstrar bem a intensidade de seu sentimento sobre a questão.
Lula também dá um rápido microssorriso para dizer que os “brasileiros saberão repelir” a campanha rival. Foi um sorriso de convicção. Fiquei com uma forte impressão de seus sentimentos, fortes e honestos. O segundo vídeo que analisei trouxe o candidato do PSDB, José Serra. Mais uma vez não fiquei com uma boa impressão do que vi.
Por exemplo, quando ele fala que está “indignado” com o escândalo do sigilo fiscal violado de seu genro, ele está sorrindo. Eu não vejo muita indignação. Suas expressões faciais eram muito inconsistentes com o que ele estava falando.
Ele dá o mesmo microssorriso quando fala que os crimes não são contra ele pessoalmente e sim contra o próprio Brasil. Quando diz que o PT debocha das vítimas, percebi outro microssorriso. Serra amplifica seu discurso de forma apropriada com gestos e expressões faciais, mas sem emoção. Parece que estava tentando muito convencer o espectador de sua sinceridade, mas, com esses exemplos que eu citei, suas expressões foram totalmente inconsistentes com sua fala.
Penso que esses podem ser exemplos do que chamamos de “dupers delight”, algo como “prazer dos trapaceiros”, nos quais uma pessoa que não é totalmente franca está curtindo em não ser totalmente franca.
Em depoimento a FERNANDA EZABELLA, em Los Angeles
DAVID MATSUMOTO é professor de psicologia da Universidade de San Francisco (EUA) e fundador da Huminell, empresa de serviços para análises de comportamento não-verbal.
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
Quando ainda circulava a Revista Bundas, da turma do extinto Pasquim, Cacá Diegues foi entrevistado pela inteligente turma da Revista. Entre as inúmeras perguntas que lhe foram feitas, guardei na memória uma resposta dada sobre o que ele achava do rico. Respondeu ele: "Eu não gosto do rico. Geralmente ele é cínico, debochado, cafajeste e mau-caráter". Nesta ordem. Embora saibamos que, em toda regra há exceção, no meu entendimento, o comportamento da maioria é esse mesmo. Esta análise feita acima das expressões fisionômicas do Serra me fizeram reviver a entrevista do Cacá. Os microssorisos e os gestos exaltados não convencem. Por trás está o cinismo disfarçado em seriedade. O prazer sentido não é autêntico porque ninguém engana a si mesmo. É óbvio que ser pobre não é sinônimo de valor. Ser pobre é uma situação que clama por Justiça. Há muito pobre, porém, que age da mesma forma que o rico. Já os microssorrisos do Lula são de convicção, como diz o autor da análise. São sinceros e não denotam o "prazer do trapaceiro". Eis aí uma das razões do sucesso de alguém que veio da mais extema miséria e que não se deixou contaminar por "valores" que nada valem. DAVID MATSUMOTO está de parabéns! Expressões não-verbais falam mais alto do que, muitas vezes, um belo e bem elaborado discurso. (Leda Ribeiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário