terça-feira, 7 de setembro de 2010

A mídia e os blogueiros

Eu mesmo não achava que a blogosfera fosse ser tão influente nessas eleições. Para mim, ela teria importância em dar coesão política e ideológica aos núcleos de opinião, como de fato faz, mas não que pautasse e, pior (ou melhor), que intimidasse a grande mídia, como tem acontecido.

Ontem, para vocês terem uma idéia, Ricardo Noblat, que já foi o principal blogueiro político do país, possui coluna no jornal Globo e tem suas opiniões sempre publicadas em destaque no site do jornal, bateu boca com esse humilde blogueiro. Explico melhor.

Noblat publicou um post intitulado: "Dilma cai em pesquisa interna do PT". E divulgou-o no Twitter.

Todo mundo que segue o Noblat foi lá conferir. O título era sensacionalista, o conteúdo era mentiroso. Publico apenas o trecho inicial:

Acendeu a luz vermelha dentro do comando da campanha de Dilma Rousseff.

Pesquisa para consumo interno registrou uma queda de 10 pontos da candidata entre os chamados "formadores de opinião".

Nada a ver com políticos ou jornalistas. Mas com pessoas que dentro de seus grupos sociais costumam influenciar a opinião dos outros.

Eu li aquilo e até acreditei que pudesse ser verdade. Já expliquei que não trabalho na base do "acredito" ou "não acredito". Uso apenas meu bom senso e julgo se a notícia é verossímil ou não. Sou extremamente escaldado com esse mundinho da política e não descarto nada. Cheguei a comentar no Twitter que podia ser verdade, depois de tantos factóides.

Alguns minutos depois, porém, o presidente do PT surge no Twitter desmentindo enfaticamente a mensagem de Noblat, que também rebateu de pronto:


Irritou-me um pouco a arrogância de Noblat, de pretender conhecer melhor as "pesquisas internas" do PT do que o próprio presidente da legenda e me manifestei:


Disse uma mentira? Afinal o Noblat pode até ter conseguido informação sigilosa (termo perigoso hoje em dia) de algum petista ou pseudo-petista, mas deveria ter a sensatez, ou honradez, de divulgar que o próprio presidente do PT negava a pesquisa. Ora, o presidente do PT estava ali, dando uma informação, disposto mesmo a ser entrevistado e consultado. O que faz Noblat?: esnoba a fonte mais importante do PT, que é seu presidente, para dar crédito à uma história anônima, cuja origem ou fonte ele não dá sequer a mais remota pista.

Mesmo assim, ele, Noblat, se dá ao trabalho de me responder. E a conversa também logo descambou para um semi-barraco virtual:






Ora, eu não sou burro. Eu sei que um dirigente partidário sofre restrições políticas. Isso é óbvio. Ele não pode falar mal do próprio partido, nem dar informações constrangedoras, do tipo: ontem fulaninho do PT encheu a cara de cachaça numa festa, ou sicrano do PT foi internado por overdose de cocaína, ou beltrano do PT foi traído pela mulher, enfim, não pode, por razões de fidelidade partidária ou mesmo por simples lealdade entre amigos, revelar fatos negativos de seus companheiros.

A informação de Noblat, porém, tem poder de influenciar as eleições. Noblat deveria, no mínimo, ter tentado confirmar isso, e, no caso de negativa, ter informado, no mesmo post, que a pesquisa não fora confirmada. Ou então, após a manifestação de Dutra, poderia ter publicado, em seu blog, que o dirigente negava aquela pesquisa. Isso sim seria ético. Ora, se o presidente do PT afirma que a informação acerca de uma pesquisa interna não procede, um jornal deve, no mínimo, dizer isso a seus leitores: tal informação é negada pelo presidente da legenda. Afinal, é uma pesquisa interna do partido.

A informação de Noblat logo virou chacota no Twitter. Eu mesmo respondi o seguinte a uma pergunta de um amigo sobre o democrata cristão Eymael, candidato a presidente da república:



Pois bem, depois das peraltices de Noblat ontem, nesta terça-feira foi a vez do indefectível Merval atacar a blogosfera, no texto-xarope "Lula rebaixa a cidadania". Leiam um trecho:

Há também o raciocínio segundo o qual como apenas 40 milhões de brasileiros declaram o Imposto de Renda, a imensa maioria dos eleitores não estaria preocupada com o assunto.

Para se ter uma noção do que esse raciocínio perverso embute, dos 130 milhões de eleitores, cerca de 60% são formados por analfabetos, analfabetos funcionais ou pessoas que não completaram o ensino fundamental.

Ora, a esta altura dos acontecimentos, todo cidadão de boa-fé e minimamente informado sabe que os dados colhidos em diversas instâncias da Receita Federal, em várias partes do país, estão espalhados em diversos documentos que circularam no comitê da candidata oficial Dilma Rousseff.

Não foram usados formalmente, nem nunca seriam, pois trata-se de material ilegal. Mas estão sendo espalhados há muito tempo em diversos blogs e continuam sendo usados com insinuações contra as vítimas dos atentados.

É muito cara-de-pau. Ele volta a bater na tecla, de forma implícita, de que só analfabetos funcionais apóiam Lula e votarão em Dilma.

Ora, eu tenho duas empresas. Por enquanto não ganho quase nada com elas. Só pago imposto. Uma delas, que não está no Super Simples, tem me consumido milhares de reais nos últimos anos, apenas em impostos misteriosos dos anos 90 e início dos anos 2000. Eu pago tudo certinho, mas sempre aparece mais. E, no entanto, não estou nem aí para esse escândalo do sigilo. Quer dizer, acho um absurdo e tal e também quero que a Polícia Federal desbarate as quadrilhas que violam sigilo dos outros, mas não estou preocupado a ponto de isso alterar minhas posições políticas. Sei que são coisas que poderiam ter acontecido nos governos Itamar, Collor ou FHC.

E sou um sujeito extremamente bem informado. Leio muito mais jornais do que eu deveria. Não fosse essa tensão horrível de ver o noticiário manipulado diariamente, eu poderia fazer coisas mais agradáveis e úteis a meu bem estar psicológico, como escrever poesia ruim, ou financeiro, como estudar para meu mestrado e virar professor. Mas não, aqui estou eu lendo vários jornais, dezenas de blogs, enfiado no Twitter o dia inteiro, e vem esse infeliz, esse golpista canalha, dizer que "todo cidadão de boa-fé e minimamente informado sabe que os dados colhidos em diversas instâncias da Receita Federal, em várias partes do país, estão espalhados em diversos documentos que circularam no comitê da candidata oficial Dilma Rousseff".

Cidadão de boa-fé? Esse não seria um sinônimo para "homens bons da pátria", conceito tão querido a nosso heróico e retumbante Professor Hariovaldo? "Minimamente informado"? Esses não seriam os tolinhos que lêem exclusivamente O Globo e que, a meu ver, são as pessoas mais melancolicamente desinformadas do mundo?

Por fim, Merval ataca os blogs com uma mentira e uma calúnia odiosas:

Não foram usados [os dados colhidos na Receita] formalmente, nem nunca seriam, pois trata-se de material ilegal. Mas estão sendo espalhados há muito tempo em diversos blogs e continuam sendo usados com insinuações contra as vítimas dos atentados.

Que safado! Eu desafio esse pilantra a mostrar um blog que tenha publicado "dados colhidos na Receita" de algum tucano. Tudo que se publicou (não no Óleo, mas em outros blogs) são dados disponíveis na internet, ao alcance de qualquer um, em geral trechos de processos administrativos, pedaços de documentos de CPIs antigas, etc. É incrível. Merval finge desconhecer a internet, onde basta você digitar o nome da pessoa no Google para aparecer tudo sobre ela, ainda mais quando se trata de figura pública, que tem seus dados repetidamente publicados em documentos disponíveis em sites de instituições. Vou ensinar ao Merval como se faz:
  1. Entre no Google.
  2. Clique em Pesquisa Avançada.
  3. No item "Formato de Arquivo", escolha o formato PDF, que é o mais comum para documentos públicos.
  4. No campo de busca, digite o nome da pessoa e o CPF. Por exemplo: "Eduardo Jorge, CPF".
  5. O primeiro documento mostrado já lhe mostrará o CPF do Eduardo. Você pode pegar esse CPF, entrar no site da Receita e pesquisar o cadastro do tucano, como eu fiz rapidamente aí abaixo.
  6. Da mesma forma, você pode ter acesso a documentos de processos judiciais, tanto aqui como no exterior. É isso que alguns blogs fazem. Ninguém "viola" dados sigilosos, como você absurdamente acusa. Os blogs são tocados por pessoas simples, civis sem recursos nem especialização em espionagem. Fazem-no por curiosidade, cidadania, diversão, ócio, militância, ou por motivos que não lhe interessam.

Os jornais publicam dados sigilosos de cidadãos brasileiros há anos, e nunca se levantou uma voz de protesto entre editorialistas e colunistas. Em 2009, por exemplo, a mídia fez uma orgia com os dados fiscais dos diretores da Petrobrás. É só aparecer um dado sigiloso de um tucano (que pelo jeito é mais cidadão que outros) que os jornais passam a caluniar TODOS os seus adversários: Lula, campanha de Dilma, blogueiros. Todos nos tornamos criminosos.
Não tenho estrutura, tempo ou saco para processar Merval Pereira. Deixo, no entanto, um protesto formal contra essas acusações sistemáticas que Merval, imitando José Serra, faz aos blogueiros.

Para cúmulo da hipocrisia, soubemos que no Rio Grande do Sul, um agente de segurança do gabinete da governadora Yeda Crusius, do PSDB, violou dados sigilosos do petista Tarso Genro e até de crianças de oito anos, filhos de parlamentares. E o que fez O Globo, no Jornal Nacional de ontem? Disse que o tal agente espionou também Yeda Crusius! Ora, ele pode até ter acessado os dados da governadora, mas ele era intimamente ligado à ela! A resposabilidade deve ser imputada à ela e, portanto, ao PSDB!

Um comentário:

thiago disse...

inventam todas e não adianta, é dilma no 1º turno. Só falta agora mercadante em SP