Quero me posicionar claramente sobre dois assuntos que, desde o fim da semana passada, estão marcando o debate sobre a sucessão presidencial. Refiro-me, primeiro, ao caso do “sigilo” de José Serra e, depois, às especulações sobre qual será a “bala de prata” final que a estrutura extra oficial de marketing da campanha do ex-governador tucano – composta, essencialmente, mas não só, pelos Grupos Folha e Estado, pela Editora Abril e pelas Organizações Globo – irá disparar contra a adversária.
Em relação à possível quebra do sigilo de tucanos e de parentes de Serra (sua filha), só o que é lícito dizer, até o momento, é que alguém cometeu um crime para influenciar o processo eleitoral.
Todavia, não se pode dizer se foi a campanha tucana ou a petista que delinqüiu, pois se a acusação que domina a mídia é a de que Dilma e seu grupo político teriam engendrado ação criminosa contra os adversários, há outra hipótese, tão verossímil quanto a primeira, de que tudo pode ser uma armação tucana para tentar estancar – ou até reverter – a queda pronunciada nas pesquisas do candidato do PSDB a presidente.
O envolvimento de “petistas” no caso foi previsto por este blog antes de surgir na mídia pela última vez com a dimensão que surgiu nos últimos dias, e antes de esses “petistas” efetivamente aparecerem.
Já se dizia, neste blog, que o envolvimento de algum petista seria “(…) um indício não conclusivo, mas que buscará induzir no eleitorado maior suspeita de que as acusações de Serra à campanha de Dilma são verdadeiras. A mídia, mais uma vez, tratará o indício como prova, jogando com o pouco tempo que resta para 3 de outubro para que não seja possível desmentir o factóide (…)”.
O fato é o de que os petistas envolvidos têm filiação dúbia, que tanto pode ser produto de uso de laranjas por um lado (o PT ou aliados) quanto pelo outro (o PSDB e seus aliados).
Diante de uma situação como essa, o mais lógico – e ético – seria não haver exploração por algum dos lados ou pela imprensa, até porque o delinqüente de qualquer dos lados pode ter agido sem autorização dos comandos das campanhas petista ou tucana.
É clara a tentativa de Serra de usar irresponsavelmente um factóide que ainda precisa ser apurado de forma a gerar conseqüências para um dos lados. Várias matérias jornalísticas têm se referido como “estratégia” ao discurso dele de acusar Dilma Rousseff de ser a autora da violão de seus sigilos fiscais, de acusar assim a uma adversária que o vence nas pesquisas por até 26 pontos percentuais de vantagem…
A revista Época desta semana até estampou na capa essa evidência, sob a manchete “A cartada de Serra”, conforme a imagem que ilustra este texto comprova.
Todavia, enquanto chegam até a expor a própria estratégia, os grupos empresariais de comunicação já citados neste texto também produzem manifestações de apoio ilegais a acusações de Serra que de maneira alguma podem ser consideradas como verdadeiras ou falsas, conforme, inclusive, deliberou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recentemente, em resposta a consulta do PSDB à Corte sobre o caso da quebra de sigilos de seus membros.
O caso da “quebra” de sigilos fiscais de tucanos, portanto, não deve ser considerado pela sociedade neste momento. Simplesmente porque, se posteriormente for apurado que a acusação de Serra é verdadeira, bastará à Justiça Eleitoral cassar o mandato de Dilma, uma medida perfeitamente legal e possível de ocorrer diante da comprovação do crime.
A derradeira “Bala de Prata”
Surgem especulações sobre a última “bala de prata” (cartada final de Serra contra Dilma) que a coalizão política formada pelo PSDB, pelo DEM, pelo PPS e pelas empresas de comunicação supracitadas estaria preparando para disparar na antevéspera das eleições, quando a campanha de Dilma Rousseff não puder mais responder ao ataque.
Fala-se em surgimento de denúncias contra a candidata em momento que tão claramente revela que tais denúncias serão produtos de tentativa de reverter a vontade eleitoral da população em favor de José Serra.
Devo dizer que não conheci ninguém, até hoje, que não soubesse que haveria uma denúncia de última hora contra Dilma exatamente como sempre aconteceu com seu padrinho político, o presidente Lula.
A Justiça Eleitoral parece estar aceitando o uso claro e ilegal de concessões públicas de rádio e tevê em benefício da candidatura de José Serra, já que, pela lei, o uso da imprensa escrita por um dos lados não pode ser considerado ilegal apesar de jornais e revistas receberem muito dinheiro público. A ONG que este blogueiro preside, portanto, tentará fazer o TSE tomar uma atitude representando à Corte contra os abusos que estão sendo cometidos.
Todavia, este blogueiro e, até agora, mais de dois mil e quinhentos eleitores brasileiros que o lêem, tentaremos cobrar do TSE que cumpra a sua obrigação. É só o que se pode fazer, além de acreditarmos na maturidade política do povo brasileiro.
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