Atacados por vários países, os Estados Unidos recuaram da ideia e anunciaram que estão perto de fechar um acordo com a China
Jamil Chade CORRESPONDENTE / BASILEIA – O Estado de S.Paulo
Os Estados Unidos recuaram de sua proposta de estabelecer limites para os superávits externos de outros países e anunciaram que estão perto de um acordo com a China.
O governo americano teria convencido a China a aceitar um acordo na reunião do G-20 (grupo dos 20 países mais ricos e influentes do mundo), que será realizada esta semana em Seul, na Coreia do Sul, para criar um “sistema de alerta” quando um país acumula superávits ou déficits excessivos.
Em troca, a Casa Branca abandonou sua ideia original de estabelecer um teto de 4% do PIB sobre o superávit de cada país, algo que era rejeitado pela China e por outros grandes exportadores e países emergentes.
O recuo ocorre depois de forte pressão internacional. Além de rejeitarem a proposta americana, China, Europa e países emergentes reagiram com irritação ao pacote econômico dos EUA. O pacote prevê a injeção de US$ 600 bilhões na economia americana. O excesso de recursos deve “vazar” para outros países, o que pode provocar uma forte valorização de outras moedas e criar bolhas especulativas.
Ontem, falando em Nova Délhi, na Índia, o presidente Barack Obama chegou a justificar sua política, alegando que “o que é bom para os EUA é bom para o mundo”.
Sinais. Os primeiros sinais de um entendimento entre Pequim – o maior exportador do mundo – e Washington – o maior importador – começaram a aparecer. Pelo acordo, caberia ao FMI adotar uma série de regras para monitorar desequilíbrios em contas correntes e coordenar respostas para promover sua redução. A China, no fim da semana passada, havia acusado os americanos de quererem “voltar ao tempo da economia planificada”.
Ontem, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, explicou o acordo. “É uma forma muito pragmática e multilateral de lidar com a questão. Isso vai permitir que possamos focar numa ampla gama de causas, e não apenas taxa de câmbio, e permite que a China passe a seguir uma série de compromissos multilaterais.” Geithner admitiu que a proposta de estabelecer um teto para o superávit de cada país “não faria sentido econômico”.
Enquanto isso, Obama saiu em defesa de sua política e, para a surpresa de vários observadores, ganhou o apoio da Índia. Manmohan Singh, primeiro-ministro da Índia, foi o primeiro membro dos Brics (grupo de países que inclui, alám da Índia, Brasil, Rússia e China) a romper com as críticas e sair em defesa de Obama. “O mundo precisa de um novo equilíbrio entre países com déficit e superávit”, disse.
Mas outras autoridades, como o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, o presidente do Eurogrupo (16 países que usam o euro), Jean-Claude Juncker, e presidentes de bancos centrais reunidos na Suíça, reforçaram os ataques ao pacote americano. A polêmica deve continuar na reunião do G-20.
Chuva de dólares. Nos últimos dias, as cotações de commodities, inclusive as metálicas, dispararam em reação ao pacote dos Estados Unidos. Ontem, a ação do Fed foi comentada por banqueiros centrais, durante reunião na Basileia (Suíça). No encontro, o Fed apresentou aos demais bancos centrais seus argumentos e garantiu que seu objetivo não é desvalorizar o dólar.
Falando em nome do grupo de BCs, Jean-Claude Trichet, do Banco Central Europeu (BCE) começou a pôr panos quentes na crise: “Todos concordam que há necessidade de evitar uma volatilidade excessiva na taxa de câmbio. Isso seria muito negativo para o crescimento da economia e para a estabilidade global.”
Postado por Luis FavreComentários Tags: Câmbio, China, dólar, EUA, G20, India
Do Blog do Favre.
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