terça-feira, 9 de novembro de 2010

Movimento São Paulo para todos

Movimento São Paulo para todos (atualizado às 13h46m)

Os casos de racismo na internet contra migrantes nordestinos no dia da eleição presidencial ganharam notoriedade mesmo com uma discretíssima cobertura na mídia e agora se encadeiam com outro caso da mesma natureza que também pode ser conhecido através da web.

Trata-se do impressionante movimento “São Paulo para os paulistas”, que conta com um manifesto na internet que, até a noite de domingo, obteve 1536 assinaturas virtuais. Na noite de sábado, eram 1516.

O texto começa com “denúncia” de “desrespeito” derivado de hábitos nordestinos que estariam sendo “impostos” aos paulistas, de “alta criminalidade” entre os migrantes, de “hospitais superlotados” que seriam resultado da “migração nordestina” para São Paulo.

O manifesto propõe “formas de encarar o problema da Migração”. E que formas são essas? Essa é a parte mais impressionante. São vários tópicos. Um mais chocante do que o outro. Ei o que o manifesto propõe, em linhas gerais:

1 – Que o acesso a serviços públicos como Saúde e Educação seja restrito a pessoas que comprovem residência e trabalho fixo no Estado de S Paulo há pelo menos dois anos.

2 – Que a cobrança de água, luz e IPTU nas favelas não seja feita mais através de taxas diferenciadas.

3 – Suspensão de distribuição de medicamentos gratuitos, de auxílio-aluguel, do programa mãe-paulistana, de quaisquer “bolsas por número de filhos”, de entrega de “casas populares”, de acesso ao “leve-leite”, de entrega de uniforme, material e transporte escolar, de cestas básicas.

4 – “Total proibição de camelôs e todo tipo de comércio ilegal, com apreensão e prisão em caso de reincindência”.

As “justificativas” desses dementes para essa insanidade são as de que “São Paulo deve cuidar dos SEUS pobres” e de que “ambulantes” têm o “total direito” de fazer “suas atividades”, mas só em suas “terras de origem”.

Se fosse só o caso daquela pobre coitada – digna de pena – daquela garota criada sabe-se lá como e seus amigos doentes que infestaram a internet com seu racismo na noite de 31 de outubro, não seria nada. Poder-se-ia atribuir tudo a um pequeno grupo de dementes. Mas não é o caso.

O tal manifesto fascista vem envolto em toda uma elaboração pseudo jurídica. Basta a sua mera leitura para constatar que o “documento” não foi redigido por jovens destrambelhados. Há menções a leis – absolutamente descabidas – e os autores tomam até alguns cuidados de se “diferenciarem” de grupos neonazistas e que tais.

Nesse contexto, os paulistas se vêem obrigados a dar uma resposta tanto às iniciativas desorganizadas quanto às organizadas de fazerem valer preconceitos criminosos, idéias condizentes com uma xenofobia e um racismo de inspiração legitimamente fascista.

Um movimento em sentido oposto que defenda uma São Paulo para todos cumpriria esse papel. E com a adesão de um bom número de pessoas ao post em que este blog fez essa proposta, agora só falta definir dia, hora, local e elaborar o manifesto anti-racista.

Sobre dia, hora e local o diretor jurídico do Movimento dos Sem Mídia, o doutor Antonio Donizeti, deu uma sugestão que me pareceu interessante e que submeto à apreciação dos leitores.

Eduardo,

parece que será feito um ato na próxima semana em protesto contra esse surto racista contra nordestinos, negros e índios na Câmara Municipal de São Paulo.

A princípio, será no Salão Nobre da Câmara, espaço nobre do Legislativo paulistano que comporta cerca de 500 pessoas. Deverá haver participação de entidades representativas de nordestinos, negros e índios também.

Todo esse pessoal que está disposto a participar do ato pode ir a esse evento da Câmara. Poderemos fazer faixas para colocar na rua em frente. Ficaria muito bacana, pois, além do apoio do povo paulista e paulistano ao ato de desagravo aos nordestinos, negros e índios, teriamos, também, a manifestação oficial do Poder Legislativo Municipal.

Uniria o povo e seus representantes no Legislativo ao ato de desagravo, daria repercussão na mídia e deixaria claro que a cidade e o Estado de São Paulo não têm nada a ver com essa minoria raivosa e irresponsável que praticou essas barbaridades preconceituosas contra nossos irmãos brasileiros.

A princípio, a idéia parece boa. Será nesta semana. Os motivos apresentados parecem válidos. Que cada um dê a sua opinião para que tentemos chegar a um consenso mínimo no menor tempo possível. O que está acontecendo é extremamente preocupante. Não podemos ficar impassíveis diante dessa barbaridade.

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Polícia investigará responsáveis por manifesto

contra nordestinos

Com quase 1.500 assinaturas, texto liga “criminalidade” a migração

FERNANDO GALLO
FOLHA DE SÃO PAULO

Além da estudante de direito Mayara Petruso, acusada pela OAB-PE de racismo contra nordestinos no Twitter, a polícia de São Paulo vai investigar de quem é a responsabilidade por um manifesto virtual intitulado “São Paulo para os paulistas”.

No texto apócrifo, que circula há meses na internet, há a reivindicação do “fim da repressão ao paulista sobre o tema da migração em sua própria terra”.

O manifesto foi assinado por quase 1.500 pessoas, que também podem vir a responder, como a aluna de direito, pelo crime de incitação ao racismo. O texto relaciona a “alta criminalidade” e os “hospitais superlotados” à migração nordestina.

“Migrantes pretensiosamente julgam-se os responsáveis pela construção de S. Paulo [...] Julgam-se coproprietários e não subordinados na terra alheia. Afirmam de forma usurpadora que São Paulo é de todos. E assim negam a soberania do paulista”, diz um dos trechos.

Contraditoriamente, o manifesto afirma não compactuar com “ideias ilegais, clandestinas, desumanas ou intolerantes”.

Alguns dos signatários do movimento fazem comentários similares aos dos autores. “Foi o Nordeste o berço da sociedade colonial patriarcal e São Paulo a região que tirou o Brasil do atraso. Isso ninguém reconhece”, diz uma das mensagens.

INCITAÇÃO

Se condenados por incitação ao racismo, os investigados poderiam pegar de dois a cinco anos de prisão.

De acordo com a delegada Margarette Barreto, a apuração de autoria de crimes é mais complicada no mundo virtual porque os usuários costumam apagar seus perfis nas redes sociais quando casos polêmicos ganham notoriedade.

“Vamos fazer um trabalho sério dentro das possibilidades de prova”, disse.

A delegada afirma que os usuários das redes sociais podem contribuir com a polícia encaminhando a impressão de imagens de frases de outros usuários que incitem o preconceito ou o crime.

Segundo ela, as investigações de crimes virtuais geralmente demoram até que os registros eletrônicos dos autores -anônimos, muitas vezes- sejam rastreados.

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Comentário do editor do Blog: de sexta-feira (quando foi feita a matéria acima) para cá, dezenas de pessoas aderiram a um manifesto que incrimina seus signatários. Só para dar uma idéia do nível de inconsciência de parcela não mensurada da população paulista.

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Do Blog da Cidadania.

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