O governo do presidente Obama pôs em marcha, há somente algumas semanas, novas medidas destinadas a permitir mais viagens dos Estados Unidos a Cuba, gerando entre a população todo o tipo de reações (furiosas entre a máfia da Flórida e mais contidas no resto da nação). Mas quais serão as consequências para os dois países?
Por Carlos Tena, em Revista Fórum*
O governo do presidente Obama pôs em marcha, há somente algumas semanas, novas medidas destinadas a permitir mais viagens dos Estados Unidos a Cuba, gerando entre a população todo o tipo de reações (furiosas entre a máfia da Flórida e mais contidas no resto da nação), e que de imediato fez com que eu me perguntasse se entre estes cidadãos com passaporte americano (sejam ou não de origem cubana), não tentará chegar à ilha algum carrasco com sinistras intenções, como vem acontecendo desde 1960, quando a CIA e o FBI, contando com o apoio de centenas de mercenários e terroristas, cometiam todo o tipo de atentados, tentando em vão assassinar Fidel Castro em mais de 638 ocasiões.
Estou convencido do perigo, especialmente com a propaganda que está se fazendo ao caso de Luis Posada Carriles**, que ocorre em El Paso (Texas) por vias tragicômicas, dignas de um poder judicial como o existente nos EUA. A imprensa dos EUA chama de lutador anticastrista um dos mais sanguinários assassinos entre os que passeiam livremente por Miami.
Esse processo cômico que a juíza Cardone comanda contra aquele cidadão (naturalizado venezuelano), não deixa dúvidas sobre a condição da justiça norte americana em sua inequívoca vocação para mimetizar a justiça que Fulgencio Batista pôs em prática em Cuba durante sua ditadura, ou o que é ainda mais terrível, imitar a justiça que esteve vigente durante o III Reich.
Tampouco se abre espaço para dúvidas diante da parcialidade, subjetividade e arbitrariedade dos juízes, fiscais e demais funcionários nesta farsa processual, começando com a acusação pela qual o terrorista mais sanguinário de tantos que protegem os senadores republicanos do estado da Flórida se senta na cadeira do réu: simplesmente é um mentiroso que teve acesso a território ianque falsificando documentos e data de entrada.
Tudo o que os governos de Venezuela e Cuba demonstraram em relação à segurança não vale nada para a justiça de Obama, não vale nada na hora de julgar Posada por crimes como a decolagem do avião da Cubana de Aviación (Vôo 455, em 6 de outubro de 1976. Barbados, 1976), que custou 73 vítimas inocentes, nem sequer para extraditar o assassino em questão, a quem a justiça venezuelana espera há mais de uma década.
Não vale, igualmente, que o próprio mercenário ex-agente da CIA tenha admitido publicamente o sangrento feito, em uma entrevista publicada pelo jornal diário estadunidense The New York Times em julho de 1998; nem as recentes declarações do terrorista salvadorenho Francisco Chávez Abarca*, detido em Caracas e extraditado para Havana em 2010. Os magistrados ianques se negam a incluir qualquer testemunho contra Carriles. Há algo de podre em El Paso.
Voltando às viagens dos EUA a Cuba, não cabem dúvidas acerca de que por parte do governo da Revolução serão tomadas medidas técnicas, aeronáuticas, policiais e de todo tipo para evitar que entre os três milhões de turistas norte-americanos (que se espera ao longo dos próximos anos) aporte em território cubano um só visitante com intenções criminais, ou o que é mais correto, um assassino disfarçado de simpático mochileiro, como também tenho a certeza de que entre as autoridades do governo de Barak Obama existirão funcionários que tratem de que não se exporte mais terrorismo para a ilha, simplesmente porque se coloca em jogo a vida de seus cidadãos, ainda que este último dado não seja de importância capital para Ileana Ross Lethinen, conhecida como La Loba, ou os irmãos Diaz Balart, Orlando Bosch ou qualquer um dos envolvidos em feitos criminosos contra a ilha mais digna do globo.
Também é certo que as medidas anunciadas pela administração de Obama em 14 de janeiro passado não implicam na retirada do embargo à ilha, somente facilitam em parte o turismo estadunidense, assim como as visitas organizadas por escolas, igrejas e grupos culturais permitindo a estes organizar voos fretados como parte de um plano destinado a aumentar os contatos pessoais entre ambos os países. Este gradual, porém irrefreável, aumento das visitas dos norte-americanos a Cuba vêm se confirmando ainda que tenha se iniciado há pouco tempo.
Um visitante que chegou à mesma casa de hóspedes na qual eu mesmo me hospedei em Havana, de 5 de novembro a 20 de dezembro de 2010, me garantiu que no último mês deste ano houve cerca de 20 voos diários provenientes de Miami. Agora, as agências de viagens poderão organizar voos muito econômicos com propósitos
culturais que permitiriam (se a administração Obama interpretar com flexibilidade suas próprias regras) incluir qualquer temática: desde observação do tocororô (ave-símbolo do país) ou do totí (outro pássaro endêmico do país), a criação de crocodilos, ou as visitas aos templos de santería em Regla e Guanabacoa.
No entanto, os agentes turísticos na região (República Dominicana, México, Jamaica, Porto Rico etc.) se mostraram preocupados com o mais que provável desvio do turismo dos EUA para a maior das Antilhas em detrimento de outros destinos.
“Não vai haver uma explosão imediata de turismo estadunidense para Cuba através destas medidas, mas isto eventualmente ocorrerá”, disse Andy Dauhaire, um conhecido economista que dirige a Fundação Economia e Desenvolvimento da República Dominicana, “... porém, quando isto ocorrer, vai haver um impacto significativo sobre vários destinos turísticos como Cancun, Bahamas, Jamaica e República Dominicana”.
Um estudo do FMI em 2008, intitulado Acabaram-se as férias: Implicações para o Caribe de uma abertura do turismo de Estados Unidos para Cuba, concluía que o levantamento total da proibição das viagens à ilha produziria um cambio sísmico na indústria turística daquela área.
Diante de tudo isto, em torno das novas medidas e de seu possível alcance, surge a declaração do Ministério de Assuntos Exteriores cubano (Minrex), neste dia 14 de janeiro de 2011, publicada, transmitida no rádio e lida em todos os meios de difusão, com o objetivo de esclarecer a verdadeira repercussão social, econômica e política deste decreto do governo Obama.
Da minha parte, que sejam bem recebidos os cidadãos norte-americanos honestos e pacíficos que chegarão à Cuba vindo dos EUA. Ninguém duvida que ambos povos podem e devem manter uma política comum fraternal e de colaboração mútua. A Revolução poderia ajudar ao presidente Obama em muitas matérias, e Barak poderia demonstrar sua inteligência e coragem tomando algumas valentes decisões, como as que Carter ditou durante seu mandato ao final dos anos 1970.
Faz-se necessária a retirada gradual do embargo e a revogação da lei Helms-Burton. Ah, e uma visita oficial a Havana para bater um papo com Raúl Castro.
No entanto, me pergunto: Será que o presidente dos EUA sabem o que é a liberdade?
** O terrorista de nacionalidade salvadorenha, Francisco Chávez Abarca, confessou ter sido contratado pelo fugitivo Luis Posada Carriles para realizar atos desestabilizadores na Venezuela. Da mesma maneira, Chávez Abarca confessou que recebia instruções em código através de um e-mail que mencionava um restaurante localizado próximo ao Aeroporto Internacional Simon Bolívar de Maiquetía, onde ele se encontraria com três pessoas, entre elas dois venezuelanos para dar inicio ao plano desestabilizador.
O terrorista afirmou que os que estavam contratando estas ações contrárias ao Governo venezuelano estavam dispostos a realizar o que fosse necessário para alcançar seus objetivos. O criminoso detido confessou ainda igualmente frente as câmeras da TELESUR que foi enviado à Venezuela para realizar ações de conspiração e que tentou entrar no país com um passaporte falso, assim como participou com a ajuda de Posada Carriles nos atentados contra pontos turísticos de Havana em 1997, em um dos quais o jovem italiano Fabio Di Celmo perdeu a vida.
*Texto originalmente publicado por Rebelión.
Tradução de Cainã Vidor
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