Por JANIO DE FREITAS*
Todo
o falatório em torno de PIB de 1% ou de 2% nada significa diante da queda do
desemprego a apenas 4,6%
Quem não discute gosto anda na moda, que é um modo de não ter gosto
(próprio, ao menos). Até por solidariedade aos raros que não se entregam
à moda eleitoreira de dizer que 2013 foi um horror brasileiro e 2014
será ainda pior, proponho uns poucos dados para variar.
Com franqueza, mais do que a solidariedade, que tem motivo recente, é
uma velha convicção o que vê importância em tais dados. Um exemplo
ligeiro: todo o falatório em torno de PIB de 1% ou de 2% nada significa
diante da queda do desemprego a apenas 4,6%. Menor que o da admirada
Alemanha. Em referência ao mesmo novembro (últimos dados disponíveis a
respeito), vimos as manchetes consagradoras "EUA têm o menor desemprego
em 5 anos: cai de 7,3% para 7%". O índice brasileiro, o menor já
registrado aqui, excelência no mundo, não mereceu manchetes, ficou só em
uns títulos e textos mixurucas.
Mas o índice não pode ser positivo: "O índice caiu porque mais pessoas
deixaram de procurar emprego". Se mais desempregados conseguiam emprego,
como provava o índice antes rondando entre 5,6% e 5,2%, restariam,
forçosamente, menos ou mais desempregados procurando emprego? PIB
horrível, falta de ajuste fiscal, baixa taxa de investimentos, poucas
privatizações, coitado do país. E, no entanto, além do emprego, aumento
da média salarial, a ponto de criar este retrato do empresariado de São
Paulo: a média salarial no Rio ultrapassou a dos paulistas.
A propósito: com as alterações do Bolsa Família pelo Brasil sem Miséria,
retiraram-se 22 milhões de pessoas da faixa dita de pobreza extrema.
Com o Minha Casa, Minha Vida, já passam de 1 milhão as moradias
entregues, e mais umas 400 mil avançam para a conclusão neste ano. A
cinco pessoas por família, são 7 milhões de beneficiados com um teto
decente, água e saneamento.
Sobre dados assim e 2014, escreve o economista-chefe da consultoria MB
Associados, Sérgio Vale: "Infelizmente, veremos mais promessas de
ampliação do Bolsa Família e do salário mínimo, que, no frigir dos ovos,
é o que tende a reeleger a presidente". Da qual, aliás, acha que em
2014 "deverá se apequenar ainda mais". Da mesma linhagem de economistas
--a que domina nos meios de comunicação--, Alexandre Schwartsman dá à
política que produziu aqueles resultados o qualificativo de "aposta
fracassada", porque só deu em "piora fiscal, descaso com a inflação e
intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria
governar o pragmatismo".
"Infelizmente" e "aposta fracassada" para quem? Para os 22 milhões que
saíram da pobreza extrema, os 7 milhões que receberam ou receberão um
teto em futuro próximo, os milhões que obtiveram emprego, os milhões
ainda mais numerosos que tiveram melhoria salarial?
E, claro, ideologia existe só no que se volta para os problemas e
possíveis soluções sociais. Quem se põe de costas para o que não
interesse à elite financeira e ao poder econômico, não o faz por
ideologia, não. Por esporte, talvez.
Foi a esse esporte, quando praticado orquestradamente nos meios de
comunicação, que Dilma Rousseff se referiu como uma "guerra
psicológica", e gerou equívocos críticos. Não se trata de "expressão
antidemocrática", nem própria dos tempos da ditadura. É a denominação,
técnica ou científica, como queiram, de métodos de hostilidade não
militares, diferentes das campanhas por não serem declarados em sua
motivação e seus fins, e buscando enfraquecer o adversário por variados
tipos de desgaste.
Não é o caso da pregação tão óbvia no seu propósito de prejudicar
eleitoralmente Dilma Rousseff. E prática tão evidente que, já no início
de artigo na Folha, o empresário Pedro Luiz Passos definiu-a como
"o negativismo que permeia as análises sobre a economia brasileira, em
contraste com a percepção de bem-estar especialmente da base da pirâmide
de renda". Ou seja, há um negativismo, intenção de concentrar-se no
negativo, real ou manipulado, e a desconsideração do que deu à "base da
pirâmide" social alguma percepção de bem-estar.
O elemento essencial na existência de uma nação é o povo. Não é o
território, não é o Estado, ambos inexistentes em várias formas de nação
ao longo da história e ainda no presente (os curdos, diversos povos
nômades, povos indígenas). O PIB e os ajustes feitos ou reivindicados
nunca fizeram nada pelos brasileiros que são chamados de povo. A cliente
do PIB, dos gastos governamentais baixos e dos juros bem altos são os
que compõem a mínima minoria dos que só precisam, para manter o país, do
povo.
*Janio de Freitas (foto) é jornalista da FSP (fonte desta postagem)
Também do Blog do Júlio Garcia.
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