quarta-feira, 3 de março de 2010

ELEIÇÕES - Sobre a política carioca


Do blog OURO DE TOLO.

Sobre a política carioca


Venho escrevendo muito aqui sobre a eleição presidencial, mas não poderia me esquecer do quadro previsto para o estado do Rio de Janeiro.

A política carioca vem sofrendo um efeito muito curioso nas últimas eleições: uma guinada à direita absolutamente consistente e radical. Basta lembrar que os três senadores atuais do estado defendem posturas de direita e extrema-direita, tendo sido eleitos, à exceção do suplente Paulo Duque, com expressiva votação.

Tal postura, creio, deve-se principalmente a três fatores: à má avaliação dos governos de Leonel Brizola e posteriormente Garotinho, a um crescente predomínio das classes médias urbanas da Zona Sul na formação de opinião e sua amplificação pela imprensa conservadora e às políticas assistencialistas e populistas determinadas por governos recentes.

No município do Rio, tal fenômeno é mais antigo. Teve seu ponto de inflexão em 1992 com a primeira eleição de César Maia para a prefeitura, e a política de governar para a Zona Sul vem se aprofundando esde então. Basta ver que, hoje, o alcaide Eduardo Paes não toma nenhuma medida importante de governo sem consultar o impacto para bairros como Ipanema, Leblon e Barra da Tijuca. Também não custa lembrar que o último segundo turno, em 2008, foi disputado por um candidato de direita (Eduardo Paes) e outro de extrema-direita.

No estado tal tendência demorou um pouco mais para se consolidar. Após o desastroso governo de Marcello Alencar - cujos filhos, à época, ganharam os curiosos apelidos de "Rato Aurélio" e "Rato Antônio", houve espaço para a eleição do grupo político de Antony Garotinho. Este, representante do que eu classificaria de uma "direita evangélica", aliou-se ao PT a fim de conquistar o Palácio Guanabara. Entretanto, tal aliança implodiria em pouquíssimo tempo. Seu "populismo de direita" gerou um governo desastroso, em especial após o governo de sua esposa Rosinha Garotinho.

Temos de ressaltar o poder paralelo exercido pelo presidente da Assembléia Legislativa Jorge Picciani, que já há algum tempo é uma espécie de "eminência parda" do estado. Deputado com várias denúncias contra si - todas devidamente engavetadas sem a investigação adequada - Picciani tem a sua opinião ouvida e inúmeras vezes acatada em todas as grandes decisões tomadas nos últimos dez anos, pelo menos.

Diante disso, como podemos ver o quadro para as próximas eleições ?

Vejo três fortes candidatos, todos representantes conservadores e alinhados com posturas políticas relacionadas à direita.

O atual governador Sérgio Cabral desponta como o mais forte candidato, em especial devido ao apoio do presidente Lula. Ele apresenta como grandes marcas de governo uma maciça injeção de recursos federais, pela primeira vez em quase três décadas (mérito maior do governo federal) e seu programa fascista de segurança pública, representada pelas UPPs - sobre as quais já escrevi antes e que não passam de um "Gueto de Varsóvia" sofisticado - e pela política do "atire primeiro, pergunte depois".

Garotinho, que pretende voltar ao governo estadual, representa a chamada "direita evangélica", segmento muito representativo no estado. O Rio de Janeiro possui um expressivo contingente seguidor das seitas pentecostais; estas significam um "voto de cabresto" líquido e certo naqueles ungidos pelos líderes destas denominações religiosas. Sérgio Cabral procura parte deste manancial, mas sem dúvida alguma tal terreno é ocupado majoritariamente pelo ex-governador.

Em uma terceira vertente temos a "direita festiva" da Zona Sul do Rio, representada pelo antes guerrilheiro e hoje aristocrata Fernando Gabeira. Majoritária no município do Rio, não encontra maior eco no restante do estado - em especial na Baixada Fluminense - apesar da ressonância de suas idéias feita pelo principal jornal do estado. Ao contrário das duas vertentes anteriores, assume-se como elitista e isso bloqueia um pouco a amplitude de sua votação.

Curiosamente os partidos que galvanizam a eleição a nível nacional possuem papel quase insignificante no Rio de Janeiro. O PSDB ainda paga pelo governo Marcello Alencar e pela progressiva expulsão de quadros feita pelo referido político, à moda de seu mentor Leonel Brizola. Já o PT paga por sucessivos erros de avaliação e por um certo sectarismo, estando relegado a um papel definitivamente secundário. Tanto que irá se coligar ao atual governador e, com sorte, terá direito apenas a uma das candidaturas ao Senado.

Em resumo, o quadro que se apresenta hoje é este. Parece cedo para determinar um favorito, mas é certo que teremos um vencedor atrelado a idéias conservadoras, elitistas e que mantenham o atual estado de coisas.

Voltarei proximamente ao tema, pois este está longe de se esgotar nestas linhas.

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