O diagnóstico dos políticos e dos jornalistas sobre a série de pesquisas que vai apontando o crescimento da intenção de voto para Dilma Roussef a uma superexposição na mídia e, ao contrário, culpam o recolhimento de José Serra pela sua queda está, ao meu ver, a anos-luz de ser uma avaliação precisa.
Dilma está longe de ser uma pessoa cujo simples aparecimento na mídia fosse provocar intenção de voto. Não é especialmente carismática, não faz discursos bombásticos ou promessas mirabolantes. Nem poderia fazer. Não andou aparecendo especialmente ao lado de Lula, exceto no dia do lançamento de sua pré-candidatura.
O fenômeno que ocorre com Dilma não é de exposição, é de informação de sua ligação com Lula e de consolidação de sua imagem própria.
Essa informação acontece natural e progressivamente. Informação se propaga como as ondas, e como elas chega mais fracamente quanto mais longe dos centros. Este processo é ajudado pela exposição, claro, mas não se liga mecanicamente a ele. Não é ver o rosto de Dilma no jornal ou na TV ou numa foto, como falei no post O Datafolha de Caetés, comentando a execelente reportagem de Leticia Lins e Isabela Martin, no O Globo de domingo.
Mas eu creio que há outra coisa mais importante, que é a afirmação própria de Dilma, como candidata. A imagem que se construía dela na mídia era arrogante, autoritária, tecnocrática. Numa palavra, antipática.Mesmo entre as camadas que sabiam de sua condição de “candidata do Lula”, isso se manifestava.
Quem quiser consultar os dados das pesquisas mais antigas, verá que os índices de rejeição a ela caíram vertiginosamente.
Por que? Porque, aí sim, ela começou a mostrar-se de maneira mais informal. A dar entrevistas, a conversar, a mostrar que era uma pessoa simples, sem artifícios. Até mesmo a mudança de sua aparência, desde que pôde se livrar da forma em que aparecia, em razão de seu tratamento quimioterápico, influiu na sua imagem.
Pura exposição? Vejam só: ela e Serra foram para o Carnaval. Dilma nadou de braçada frente a Serra. Embora ambos tenham entrado no cenário carnavalesco, não há dúvida de que ela se comportou de maneira muito mais natural e descontraída do que Serra. Isso não apareceu, senão de relance, na grande mídia. Mas, entre os segmentos mais informados, sim.
Dilma cresceu não apenas por saberem que é candidata do Lula, mas também por desfazer parte da imagem que dela se construiu.
E Serra, está escondido? Absolutamente, não. Tirem a média da centimetragem do noticiário dos jornais e verão que não passa um dia sem matéria do Serra. Ele foi ao Carnaval do mesmo jeito. E, coitado, muito sem jeito. Nas fotos e imagens publicadas não se vê um sorriso franco, não se vê uma imagem que não paarente constrangimento, não se vê um instante em que não pareça – sem trocadilho com a situação de São Paulo – um peixe fora d’água.
Parem um pouco para pensar. O Serra pode ser o que for, mas burro não é. Tem razões para evitar a antecipação da polêmica. Desde o final do ano passado sua imagem de administrador está em xeque.E é nessa imagem de admistrador que ele depositava suas fichas para fugir de um embate ideológico, no qual ele sabia ter poucas chances, e Lula sabia ter muitas, tanto que insistia na tese das eleições plebiscitárias.
Serra não tem de fazer o jogo da “exposição”. Ele é conhecido ou, pelo menos, reconhecido.
Serra não está fazendo um jogo suicida. Não tem paixão para isso. É um homem frio, metódico na sua personalidade. Ele tem muito claro o debate que quer, e este debate é curto, necessariamente.
Sua arma não são projetos de Brasil, mas a competência de administrador. O novo slogan que escolheu para a propaganda oficial de São Paulo ´“Um estado cada vez melhor” – foi, literalmente, um tiro n’água.
Serra “recolheu os arfes para evitar a catastre“, como dizia o filósofo do futebol de praia, Neném Prancha.
Seu encolhimento é dosado, planejado. Como o de um caramujo, amorfo. É uma estratégia de “minimizar os danos” e esperar. Se a sua avaliação é de que dará para, depois da tempestade, sem trocadilho, emergir, irá retormar o caminho que traçou.
Se não achar assim, fará o que fez em 2006. Esta, e não outra, é a causa do bate-cabeça tucano.
Serra não tem causa, não esqueçam disso os analistas.
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