08/07/2010 - 09:59h
IPCA é o menor desde junho de 2006. Em 12 meses, acumula alta de 4,84%
Fabiana Ribeiro – O GLOBO
Os alimentos deram um alívio ao bolso dos brasileiros em junho e, com isso, a inflação oficial caiu para 0%. O IPCA, divulgado ontem pelo IBGE, foi o mais baixo desde junho de 2006 (-0,21%). Em maio, a taxa fora de 0,43%. No ano, o índice passou a acumular alta de 3,09% e, em 12 meses, 4,84%, acima da meta de inflação fixada pelo governo, de 4,5%.
— Os preços de alimentos, que subiram no início do ano até pelo clima, desaceleraram em maio e ainda mais em junho.
Com transportes, o grupo contribuiu no resultado — disse Irene Machado, gerente do IBGE.
Alimentação apresentou deflação de 0,90%, após alta de 0,28%.
Vários itens ficaram mais baratos em junho, a exemplo da batata (23,97%), do açúcar refinado (9,78%) e do leite (-3,78%). No ano, os alimentos subiram 4,54%.
— O inverno sem geada favoreceu a produção de alimentos.
As altas de alimentos no início do ano estimularam o produtor.
Com mais oferta de alimentos, os preços caem — disse o professor Heron do Carmo, da USP, acrescentando que em julho o índice deve subir pouco.
O grupo de transportes (0,21%) também influenciou o IPCA.
Em junho, ficaram mais baratos etanol (5,41%) e gasolina (0,76%), além de carros novos (0,37%) e usados (1,21%). Em alta, as passagens aéreas foram destaque: subiram 12,57%.
Segundo o economista Marco Franklin, o resultado foi influenciado ainda pelo comportamento do consumidor na Copa. Ao deixar de comprar artigos como leite e adquirir outros como bebidas, obrigou os varejistas a ampliar as ofertas.
— A Copa diminuiu a demanda no varejo e trouxe feriados.
A FGV divulgou ontem o IGPDI, que variou 0,34%, em junho, contra 1,57% em maio.
Toda Mídia – FOLHA SP
NELSON DE SÁ – nelsonsa@uol.com.br
E a inflação cai Na manchete da Folha.com ao meio-dia, “Inflação fica estável em junho, com menor taxa em quatro anos”. No texto “mais lido” do Valor Online no meio da tarde, “IPCA é o menor desde meados de 2006″. Fim do dia, manchete da Reuters Brasil, “Alimentos recuam e IPCA é o menor em quatro anos”.
Não foi diferente, no exterior. No topo das buscas de Brasil pelo Yahoo News, ao longo da tarde, com Bloomberg, “Preços estáveis em junho; taxa anual cai para 4,84%”. E pelo Google News, com “Wall Street Journal”, “Ações sobem com declínio da inflação”.
Também do jornal americano, porém, “Apesar da inflação baixa, Banco Central segue preocupado”. Goldman Sachs e Moody’s “atribuíram o resultado a fatores transitórios”. Para o “WSJ”, “é improvável que a notícia inesperada altere a política do Banco Central de aperto monetário”, elevação dos juros.
Conjuntura: Preços ficam estáveis ao consumidor e apresentam desaceleração disseminada na indústria
Inflação muda de rota e desacelera em junho
João Villaverde e Juliana Ennes, de São Paulo – VALOR
A tendência da inflação mudou em junho. Dois importantes índices divulgados ontem – o IPCA, que mede preços ao consumidor, e o IGP-DI, focado no atacado – recuaram fortemente em relação aos números de maio e indicaram a possibilidade de a inflação apresentar, no segundo semestre, um comportamento mais benigno. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou 0,0% pela primeira vez em quatro anos e o IGP-DI ficou em 0,34%, bem abaixo do 1,57% de maio. Esse duplo recuou colocou um ponto de interrogação sobre o manejo da política monetária e abriu a possibilidade de uma trajetória mais branda para a taxa básica de juros definida pelo Banco Central.
Entre os sinais positivos que apareceram nos dois índices estão a deflação de 0,9% no grupo alimentação e bebidas (inflação ao consumidor), uma desaceleração bastante disseminada nos preços industriais no atacado (cuja alta recuou de 2,66% em maio para 0,42% em junho) e o índice de difusão no varejo, que indica quantos itens registraram elevação de preços no mês – em junho atingiu 57,3%, a menor desde outubro de 2009 e a primeira abaixo do patamar de 60% no ano.
Os preços agrícolas no atacado, por outro lado, tiveram variação maior entre maio e junho, passando de 0,19% para 0,46%, mas as matérias primas desaceleraram muito: de 8,1%, em maio, para 1,5%, em junho.
Além da deflação em alimentos, todos os itens pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula o IPCA, registraram queda frente a maio. Enquanto a alta dos preços administrados caíram pela metade, de 0,33% para 0,12%, os serviços perderam um pouco menos – dos 0,62%, em maio, para 0,41%, em junho. O tombo foi maior entre os preços livres, onde a alta próxima a 0,5% de maio se transformou em deflação no mês passado. No ano, o IPCA já acumula 3%, acima dos 2,6% de igual período em 2009, mas inferior aos 3,6% registrados em 2008, quando a atividade estava aquecida.
Na avaliação dos economistas, a deflação em alimentos deve permanecer neste mês. A oscilação destes itens pode ser explicada por fatores extraordinários e sazonais, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores. “No início do ano, com o excesso de chuvas no Brasil e em países exportadores, como a Índia, houve um choque de oferta em itens básicos. Agora vemos uma devolução, pois a situação se normalizou”, afirma Romão, para quem o movimento é amplificado por fatores sazonais.
Além disso, aponta o economista, a queda nos preços dos automóveis novos e usados em junho indica que o consumo não têm mais o ímpeto do início de 2010. Enquanto preço do carro novo caiu 0,37%, o automóvel usado despencou 1,41% no mês passado. “Muita gente tinha no horizonte a compra de um usado, mas adquiriu um novo graças aos incentivos do governo”, avalia. O IPCA zero de junho fez a LCA rever sua projeção de inflação no fim de ano – a projeção agora é de 5,1%, acima, ainda, da meta de 4,5% do BC.
Para Salomão Quadros, coordenador de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), que calcula o IGP, a inflação registrada em junho já demonstra desaceleração dos preços, principalmente durante a cadeia de produção, o que já indica menor possibilidade de haver repasses de preços ao consumidor. “Houve uma desaceleração bastante disseminada, bastante difundida, tanto na fase industrial, como na fase de consumo. Talvez seja cedo para o BC mudar a concepção do processo inflacionário, mas é sinal de que atenuou um pouco a pressão inflacionária”. Ele acredita não haver redução de demanda, mas, sim, maior capacidade de a indústria atender às necessidades de consumo.
Para Tatiana Pinheiro, do Santander, e Felipe Insunza, da Rosenberg & Associados, no entanto, os resultados de junho estão mais para “pontos fora da curva”. Segundo Tatiana, o fraco resultado da inflação no varejo foi muito influenciado pelos alimentos. Descontados do resultado final, o IPCA teria avançado 0,4% em junho. Além disso, diz ela, o item de alimentação fora de domicílio teve alta de 0,66%. “O tomate, a matéria prima, ficou mais barato. Mas ele está mais caro no restaurante porque há mais pessoas comendo fora de casa, uma vez que a renda está em alta”, diz. Para Insunza, o aumento no pedágio das rodovias paulistas e da tarifa dos ônibus interestaduais, a partir de julho, deverão voltar a pressionar os índices.
A perspectiva de que a inflação possa ter uma trajetória mais benigna do que o projetado pelos analistas e, assim, influenciar a política monetária, refletiu ontem no mercado futuro de juros, negociado na BM&FBovespa, que ontem recuou.
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