A partir de meados do ano passado, segundo o IBGE o Brasil passou a ser um país de maioria negra ou descendente de negros. Trata-se de um fenômeno que se reproduz em muitos países que tem grandes contingentes de negros, pois a miscigenação é um processo inexorável, em tais condições. Nos EUA, a miscigenação vai diminuindo a “pureza racial” a cada ano.
Contudo, em países como aquele a maioria branca ainda é enorme. No Brasil, a história é outra. Em regiões do país como o Nordeste, a maioria negra ou mestiça é avassaladora. Até em São Paulo, mais branco que o Nordeste, os negros e mestiços representam enorme parcela da população.
É por essas e por outras razões que minha irritação com a publicidade e com a TV brasileiras chegou a um ponto insuportável. Essas produções imagéticas retratam um país nórdico que nada tem que ver com o nosso, em termos étnicos.
Comecei a me revoltar com essa situação na primeira vez em que estive em um país africano, em Angola, há alguns anos. Percebi como a distorção étnica na televisão e na propaganda brasileiras era grave ao visitar um país em que seu povo se vê nesses espaços.
Outdoor em Luanda, Angola
Tomemos o exemplo das novelas da Globo. Nunca têm mais do que uma fração de negros e mestiços. Retratam um país que pode ser facilmente confundido com os do extremo Norte da Europa central. Supermercados, bancos, redes de lojas de roupas, enfim, o que for que apareça na propaganda utiliza quase que exclusivamente modelos brancos, em enorme parte loiros e de olhos claros.
E não existe um único político de expressão que ao menos critique essa situação vergonhosa e afrontosa à maioria negra dos brasileiros, claramente considerada “feia” pelas televisões e pelas agências de publicidade.
O presidente Lula, por exemplo, com uma simples declaração sobre essa situação indigna poderia provocar mudanças consistentes. Com seu prestígio no Brasil e no mundo, certamente colocaria a mídia em uma saia justa diante de todo um povo. Mas, em ano de eleição, político nenhum quer mexer nesse vespeiro.
Lula fecharia com chave de ouro seu governo humanista e distributivista se tivesse coragem de dar essa declaração pública antes do fim de seu mandato. Enquanto isso não acontece, pelo menos haverá um protesto formal junto ao Conselho de Autorregulamentação Publicitária. Será feito pelos Sem Mídia, entre os quais os negros podem ser considerados o maior contingente.
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