Sábado, Agosto 14, 2010
O esquema do vídeo anti-Lula versão 2010
Mauro Carrara
A Internet e suas ferramentas de comunicação são espetaculares. Permitem ao cidadão comum atravessar o cerco da mídia monopolista.
Ao mesmo tempo, porém, permitem que gente desonesta se utilize desses canais para caluniar desafetos e desconstruir reputações.
Foi o que ocorreu com o vídeo gravado em Dezembro de 2009, durante a inauguração de obras do PAC, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.
O rapaz Leandro dos Santos de Paula, hoje com 18 anos, confabula com o presidente Lula e com o governador Sérgio Cabral.
Com uma das mãos, discretamente, opera uma pequena câmera na qual vai gravando a conversa.
Lula brinca com o garoto, o abraça e diz em tom de galhofa que tênis é esporte da burguesia.
Provavelmente, não percebe que está sendo gravado. Assim, age e fala de forma informal e descontraída.
Na sequência, inicia-se um diálogo que deixa o governador exasperado. Lula sugere que o garoto pratique natação, mas é informado de que as piscinas estão fechadas.
O presidente, então, reclama com as autoridades locais e fala em prejuízo eleitoral. Afirma que basta colocar dois guardas no local.
Leandro segue apresentando suas reclamações, como a presença do Caveirão (veículo da polícia) na rua de sua casa.
E aí o governador se irrita de vez, chamando o rapaz de “otário”. Vê nele um laranja provocador, agenciado por seus rivais locais.
Pronto! Com esse registro, Leandro se tornou celebridade, algo como um novo Juruna, o índio que costumava gravar o áudio de suas conversas com políticos.
Em meio à propaganda eleitoral, o vídeo foi minuciosamente editado e está sendo exibido com alarde no Youtube e replicado em comunidades como o Orkut. Na segunda semana de agosto, alcançou 515 mil exibições.
A ideia é mostrar Cabral como um carrasco e Lula como um político ignorante e insensível, cujo único intuito é ganhar eleições.
O título é o seguinte: “Lula preocupado com prejuízo eleitoral e Sérgio Cabral xingando menino de 17 anos (na época)”.
É imensa a fieira de internetespectadores que se manifestam indignados e revoltados com o presidente e com o governador.
Obviamente, a mídia de apoio ao candidato José Serra aproveitou-se para dar maior visibilidade à peça de campanha.
A Folha de S. Paulo, por exemplo, levou a chamada do vídeo para a primeira página do UOL.
A matéria correlata tem um título maroto: “Chamado de otário em vídeo com Lula e Cabral, Leandro quer laptop”.
Obviamente, o interesse do repórter Ítalo Nogueira é confundir o leitor-eleitor, e dar a entender que foi Lula quem ofendeu o rapaz.
Mas, afinal, como o tal vídeo chegou às paradas de sucesso?
Leandro foi, há tempos, assediado pelo blogueiro Ricardo Gama. Trata-se de uma figura típica dos tempos de combate político virtualizado.
Os políticos graúdos recrutam figuras menores, jagunços digitais, para efetuar o serviço sujo na Internet.
Assim, livram-se de processos na Justiça e de outros inconvenientes da luta franca.
Esses “blogueiros” profissionais acusam, caluniam e agridem, e normalmente têm um alvo específico.
Em troca, ganham generosos mimos de seus pequenos ou grandes coronéis.
Gama age, sobretudo, na defesa de interesses do DEM, a sigla que carrega a herança da Arena, o partido da Ditadura.
Seu protetor é o deputado estadual Rodrigo Dantas, homem de confiança do ex-prefeito Cesar Maia.
Em seu blog, Gama faz também a defesa canina do candidato a governador Fernando Peregrino, do PR, apoiado por Anthony Garotinho.
Qualquer pessoa pode, pelo mesmo Youtube, entender quem é Ricardo Gama. Basta assistir ao vídeo em que declara apoio ao presidente do Instituto Republicano.
Neste episódio, tudo parecerá muito claro ao observador atento. Leandro quer um laptop ou uma raquete nova para praticar tênis, Gama quer vencer na nova “profissão”, Dantas quer jogar esterco sobre Lula e Cabral, interesse que compartilha com Cesar Maia e Garotinho.
Admirável é a ingenuidade dos assessores do presidente da República. Não é a primeira vez que lhe pregam uma peça dessa natureza no Rio.
Na abertura do Pan, a claque de Cesar Maia protagonizou a grande vaia ao presidente, episódio que repercutiu até mesmo no Exterior.
Na época, pude mostrar com certa facilidade a armação. Gente selecionada, sabotadores adestrados e puxadores de vaias estrategicamente distribuídos pelo estádio.
Não bastou a experiência, no entanto, e permitem que o presidente caia nesse tipo rasteiro de pegadinha perversa.
Chegamos à Era da Mídia e das redes sociais! Hora de acordar e construir um projeto de gestão eficiente da imagem para o presidente da República.
Dilma certamente necessitará. E muito. Desde já.
Clique aqui para conhecer o polêmico vídeo:
Clique aqui para conhecer o educado intelectual Ricardo Gama:
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)