Vocês me desculpem, mas não dá para não ficar enojado com as declarações de Fernando Gabeira de que as obras de urbanização do PAC nas favelas do Rio de Janeiro estariam beneficiando o tráfico de drogas. Uma coisa é questionar o alcance e os métodos das Unidades de Polícia Pacificadora e, até, discutir a prioridade dada a este ou aquele local para sua instalação. Isso é legítimo e saudável. Outra é atacar obras de urbanização, que beneficiam pessoas deixadas por décadas à margem das atenções do poder público, em nome de uma suposta “trégua” com os traficantes.
Eu detesto hipocrisia. Não é possível – e nem desejável – colocar policial armado ao lado de cada operário nem um blindado para proteger cada carrinho de mão. Não é função dos empreiteiros, nem da Secretaria de Obras, muito menos dos engenheiros e operários fazer o papel de polícia. O fato de um criminoso foragido estar no Morro do Alemão – para quem não conhece, um imenso complexo de favelas – não tem nenhuma relação com fazer ou não obras naquele local.
Ou Gabeira acha que não podem ser feitas obras em Copacabana porque era lá que Nestor Chaparro, um dos maiores traficantes de drogas colombiano, estava escondido, até ser preso, em abril deste ano?
Isso é típico de uma visão elitista – a tal que vê “alma suburbana” na preocupação com os pobres, que Gabeira soltou em 2008, num ato falho e que, todos sabem, derrotou-o na eleição para a prefeitura do Rio. Duvido que Marina Silva, que é uma pessoa correta, partilhe desta visão sobre os pobres.
E me lembra a campanha que fizeram (e ainda fazem) contra Leonel Brizola por ter urbanizado favelas. Houve um jornal que, na ocasião, chegou a dizer que a pavimentação das ruas das comunidades do Pavão e Pavãozinho, também em Copa, havia sido feita para que assaltantes pudessem subir e descer do morro com mais facilidade, como se ali só morassem bandidos e não uma gente digna, trabalhadora e honesta.
Gabeira, infelizmente, passou para o lado que o Gil chamou muito propriamente de “gente hipócrita”. Ele faz o discurso da direita já com tanta naturalidade que ninguém mais estranha e, por isso, está amargando um desempenho pífio nas preferẽncias de voto dos cariocas e fluminenses. O ex-vermelho e ex-verde Gabeira não enrubesce mais e, hoje, de verde, parece estar mais interessado é na ajuda financeira que o presidente do DEM, Rodrigo Maia, disse que Serra prometeu e não deu para sua campanha.
Não há tanga, por maior que seja, que possa tapar as vergonhas que tomaram conta de sua alma elitista.
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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