sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vaivém faz campanha parecer sem rumo


Enquanto sobe tom dos ataques a Dilma e ao governo, Serra força vinculação de sua trajetória com a de Lula


TUCANO, QUE USA COMO MANTRA O FATO DE TER “UMA CARA SÓ”, MOSTRA LULA NA TV NO DIA EM QUE ACUSA GESTÃO DE CERCEAR MÍDIA


VERA MAGALHÃES EDITORA DE PODER – FOLHA SP

“A pior coisa é querer ser o que você não é. Tenho que ser como sou. Prefiro ter uma cara só.” A frase foi dita pelo então pré-candidato à Presidência, José Serra, em entrevista à Folha em abril. Com variações, esteve presente no discurso de lançamento do candidato e tem sido repetida ao longo da campanha.
Pois o que se viu desde a estreia da propaganda eleitoral no rádio e na TV foi um Serra que ora soa oposicionista, ora quer ter sua trajetória associada à de Lula.
Em apenas dois dias, a propaganda tucana mudou da água para o vinho. Depois de uma estreia em que Serra se fixou só na experiência no Ministério da Saúde e praticamente escondeu o resto de sua trajetória política e administrativa, o programa do rádio ontem tratou de reforçar outros pontos de sua biografia e partiu para a desconstrução do propalado protagonismo de Dilma Rousseff no governo Lula.
Paralelamente à propaganda, Serra subiu em muitos decibéis o tom dos ataques à adversária e ao governo que a apoia, tanto no debate Folha/UOL quanto em participação no congresso da ANJ, ontem, quando acusou o governo de tentar cercear a liberdade de imprensa e financiar “blogs sujos”.
Tudo levava a crer que Serra reforçaria, a partir de agora, seu papel de candidato de oposição, ainda que não atacando diretamente Lula.
Qual não é a surpresa, então, quando o programa do PSDB, à noite, abre com imagens de encontros cordiais entre o tucano e o presidente, associando suas trajetórias. “Serra e Lula. Dois homens de história. Dois líderes experientes”, diz a peça.
A guinada abrupta -logo no segundo dia do horário eleitoral- surpreendeu aliados, entre atônitos e constrangidos. Muitos se furtaram a comentar. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, antes apenas escondido, e agora relegado pelo candidato de seu partido, já manifestou sua contrariedade a correligionários.
Antes mesmo do início da propaganda já havia na campanha de Serra a ideia de tentar mostrar que ele tem origem humilde, mais próxima à de Lula que a de Dilma, nascida em uma família rica em Belo Horizonte.
Mas o fato é que tal estratégia soa a desespero, uma vez que o próprio Lula tem reiterado quem é sua candidata e aparece até em “primeira pessoa” num jingle, dizendo que “entrega” “seu povo” a Dilma, numa mostra de que não haverá limites ao uso do messianismo e do paternalismo para tentar elegê-la.
É difícil entender o que a campanha do PSDB espera conseguir tentando uma forçada ligação entre o “Zé” e o “Lula da Silva”. Ainda mais quando essa colagem vem acompanhada de críticas da gravidade das feitas pelo candidato nos últimos dias.

Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

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