Analisar com frieza um debate político pré-eleitoral em um momento de ânimos tão acirrados quanto este constitui um desafio intelectual dificílimo – e estimulante. Ainda mais se quem for analisar tiver preferências políticas. E quem não as tem?
Todavia, quem acompanhou as análises que este blog divulgou sobre os debates anteriores sabe que em todos os momentos em que a candidata Dilma Rousseff foi mal o fato foi reconhecido aqui.
O debate de ontem à noite na TV Record poderia terminar empatado. Para as acusações de José Serra sobre Erenice Guerra, Dilma opôs Paulo preto. Para as acusações sobre “Dilma” ter privatizado áreas para exploração de petróleo, ela explicou – de forma um pouco técnica demais – que o que ele chamava de “privatizar” era seguir o modelo que o governo do qual fez parte deixou.
Mas as acusações de Serra eram tantas e tão descontroladamente insistentes que a sensação de que o debate se transformara em briga foi inevitável.
Dilma, porém, surpreendeu. À diferença do debate na Rede TV, começou calma, enervou-se e passou a gaguejar no meio e, ao fim da contenda, recuperou o controle. Apesar do nervosismo, conseguiu fazer ironias finas e foi bem mais respeitosa com o adversário.
Em dado momento, ao desmentir afirmação dele, deixou claro que não o estava chamando de mentiroso e sim de “mal-informado”, o que estaria gerando a informação incorreta que dera. Na vez de Serra replicar, partiu para cima da adversária chamando-a de mentirosa.
A irritação de Serra era palpável. Dilma estava nervosa, mas não havia irritação. Foi do que se valeu para cobrar serenidade, elegância e respeito ao adversário.
Serra cometeu um erro sério. Esqueceu-se de que estava debatendo com uma mulher, uma senhora. Não falava mais do que duas frases sem fazer alguma acusação a ela e a desqualificou o tempo todo. Chegou a dizer que Dilma lera alguma coisa em algum lugar e que meramente repetia o que ouvira, mesmo sem entender.
Os argumentos dos dois lados foram solenemente ignorados. Como em toda briga, analisa-se mais a entonação da voz e a expressão corporal e facial dos contendores do que as suas ações. Nesse ponto, talvez até Serra se saísse melhor por ter maior experiência ou, como preferirão alguns, maior cara-de-pau. Todavia, desperdiçou a oportunidade.
A agressividade de Serra foi muito maior, Dilma percebeu e teve a habilidade de destacar isso em suas considerações finais, pedindo desculpas ao telespectador por o debate não ter sido tão qualificado quanto ele mereceria. A percepção de dizer isso foi perfeita. Pode ser a diferença entre ter vencido, perdido ou empatado.
A opinião do blogueiro, portanto, é a de que Dilma venceu o debate da Record, ainda que por pontos.
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