Do
Tijolaço 16/-5/2011
Brizola NetoNão tive como analisar em detalhes o plano de investimentos da Petrobras, anunciado hoje. Claro que todos desejamos que nossa grande empresa invista sempre mais, embora todos nós esperemos dela a lucidez estratégica de compreender que seu investimento – pelo montante que alcança – é um elemento de indução do emprego, da formação de mão de obra e da produção nacionais. Deve, portanto, ter um ritmo forte, mas adequado também à capacidade do país de responder aos estímulos que ele produz.
Porque, do contrário, este investimento em lugar de ser uma mola propulsora do nosso desenvolvimento para a ser apenas uma maneira de drenar, numa rapidez imprudente, a riqueza do país. E sei que o projeto da Presidenta Dilma Rousseff, tal como foi o de Lula, não é o de, simplesmente, transformar o Brasil num exportador de óleo cru, com a entrada em operação comercial das áreas do pré-sal.
Aliás, na sua primeira entrevista como Presidente eleita, ela deixou isso bem claro: “Nós não podemos ser exportadores de óleo bruto senão perderemos muito dinheiro”, disse Dilma, explicando que a margem de lucro seria maior, se o Brasil exportasse petróleo já refinado.
Até podemos fazer isso, em quantidades limitadas, desde que seja para financiar o investimento e o lucro continuado do país, mas não como vocação permenente, cujos desastres e insustentabilidade podemos ver mundo afora.
Dito isso, posso me dedicar ao tema deste post, que é ter me ocorrido comparar os lucros e os investimentos de duas empresas gigantes: a Petrobras e a Vale, ambos recordes históricos neste primeiro trimeste.
A Vale, que cava a toque de caixa, o mais rápido possível, o minério de ferro brasileiro para exportar in natura, com baixíssimo valor agregado, lucrou US$ 11,29 bilhões no trimestre, e anuncia um plano de investimentos de R$ 20 bilhões para 2011.
A Petrobras, que explora o petróleo desenvolvendo tecnologia, encomendando navios e sondas no Brasil e investindo no desenvolvimento de fornecedores e dos trabalhadores brasileiros, lucrou um pouquinho menos: R$ 10,9 bilhões, mas vai investir este ano R$ 93 bilhões.
Embora tanto o ferro quanto o petróleo estejam com o preço internacional lá em cima, é claro que extrair petróleo de grandes profundidades marinhas exige investimentos maiores do que colocar escavadeiras, caminhões e esteiras para levar o minério às ferrovias e aos portos. Da mesma forma, exatamente por isso, os lucros descrescem na mesma proporção.
Então, os números do que investem evidenciam e aquilo no que investem
é que ambos revelam a diferença entre os dois modelos e as duas visões.
Na Petrobras, o lucro é uma ferramenta viabilizadora de algo que constrói, talvez nem tão rápido, mas solidamente um país. Na Vale, e oxalá isso mude com a nova direção da empresa, o lucro é razão de si mesmo, porque o Brasil é apenas um lugar a ser escavado.
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