A Presidenta Dilma Roussef lançou hoje o Plano Brasil Maior, cujo vídeo institucional a gente posta aí em cima. Daqui a pouco, assim que conseguirmos baixar a hora e meia de vídeo que a Secretaria de Imprensa da Presidência, outra vez, não edita para tornar viável a difusão pela internet, vamos colocar aqui o discurso da presidenta Dilma. E um pouco mais, assim que concluir o levantamento de dados, uma explicação de quais setores e porque serão os beneficiados, num texto que estou escrevendo para o blog Projeto Nacional.
Mas ao ler o tratamento dado pela mídia ao plano, onde tudo fica centrado na “renúncia fiscal” do Governo, que deixa de arrecadar R$ 25 bilhões em impostos, me lembrei de coisas do passado, onde as decisões de defesa da economia brasileira eram apresentadas assim, como coisas sem sentido.
Quando eu era um garoto, nos anos 60, havia um argumento muito usado contra o fantasma de Getúlio Vargas. Sim, Getúlio era um fantasma que precisava ser exorcizado, tamanho era seu poder de assombrar os vivos e, sobretudo, os muito vivos.
Era o de que Vargas havia mandado queimar milhares ou milhões – e eram milhões, quase 13 milhões, mas isso não importava no imaginário – sacas de café.
E os guris, feito eu, achavam isso maluquice: afinal o café era tão caro, e era uma coisa tão boa, cheirosa, quando caía, em pó, nas gavetas dos moedores do “moído na hora”, porque o café empacotado era uma coisa, cruz credo, velha e sem aroma.
Porque queimar aquela preciosidade?
Só depois – e bem depois – fui entender o significado daquilo.
A crise de 29 arruinara os preços do café no mercado internacional. A queima foi uma medida extrema, adotada tempos depois do preço do café cair a 10% do praticado antes da crise de 1929, com os estoques do Governo abarrotados.
Na verdade, café foi apenas o que fisicamente se queimou ali. Na verdade, incinerou-se, mesmo, foi dinheiro público, já que aqueles milhões de sacas tinham sido comprados pelo Governo.
Ou seja, o Governo perdeu dinheiro para defender a economia – e, àquela época, nossa economia era cafeeira.
A queima daquelas quase 13 milhões de sacas de café foi um dos elementos que fez os preços reagirem.
É por isso que Vargas se refere ao episódio em sua carta-testamento.
“Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder”
Nascia ali a compreensão de que era vital uma política de industrialização, num país que não podia seguir apenas agrário e refém de um preço que ele não determinava. O da hoje “commodity” café.
Hoje, o Brasil depende, de novo, do comércio de produtos primários. Básicos e semimanufaturados representam 71% de nossa pauta de exportações (logo falarei sobre isso) e voltamos a ser inundados de produtos de uma indústria sem mercado num mundo estagnado.
Há momentos em que é preciso queimar café.
As perdas fiscais do plano lançado por Dilma são como aquelas:
Este episódio deve inspirar nossas autoridades na formulação dos planos de desoneração tributária da cadeia industrial exportadora.
Ou seja, o Governo perder dinheiro na arrecadação, o país vai ganhar com o alívio destes setores pressionados por um câmbio criminosamente aviltado pela economias centrais .
Ao contrário do que o ideário neoliberal apregoa, política econômica de governo não é uma relação contábil, onde o superávit é o grande critério de eficiência.
O protecionismo tributário, com a taxação pura e simples das importações, virou maldição. para nós, é claro, porque os países desenvolvidos o praticam sem a menor cerimônia.
Ou se incentiva, seletivamente, pelo critério do emprego e da tecnologia, a indústria nacional ou ficaremos, como aquele Brasil atrasado dependente da exportação do café deste o tempo do Império até os anos 40, à mercê de um preço de produtos primários que, embora hoje alto, amanhã poderá nos arruinar.
Do Blog TIJOLAÇO.COM
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