Os presidentes dos Clubes Militares foram obrigados ontem a publicar uma
nota desautorizando o texto do "manifesto interclubes" que criticava a
presidenta Dilma Rousseff por não censurar duas de suas ministras que
defenderam a revogação da Lei da Anistia.
Dilma não gostou do teor da nota, por não aceitar, segundo assessores do
Planalto, qualquer tipo de desaprovação às atitudes da comandante
suprema da Forças Armadas.
A presidenta convocou o ministro da Defesa, Celso Amorim, para pedir
explicações e este se reuniu com os comandantes das três Forças, que
negociaram com os presidentes dos clubes da Marinha, Exército e
Aeronáutica, a "desautorização" da publicação do documento, que foi
colocado no site do Clube Militar, no dia 16, como revelou o Grupo
Estado. O episódio deverá servir para acelerar a nomeação dos
integrantes da Comissão da Verdade, sancionada em novembro pela
presidenta e que está em banho-maria no Planalto.
Apesar de terem sido obrigados a recuar, para não criar uma crise
militar, os presidentes dos Clubes não se conformam com as críticas que
as Forças Armadas têm recebido e temem que a comissão da verdade só ouça
um dos lados na hora de trabalhar. Os presidentes dos Clubes da
Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, e da Marinha,
almirante Ricardo da Veiga Cabral, disseram que em momento nenhum
quiseram criticar a presidente Dilma e que a nota foi uma
"precipitação", no momento em que os principais assuntos para a
categoria, são a defasagem salarial e a necessidade de reaparelhamento
das Forças Armadas.
O almirante Veiga Cabral, no entanto, classificou como "provocação" as
falas das ministras das Mulheres, Eleonora Menicucci, e dos Direitos
Humanos, Maria do Rosário. "É uma provocação. Não podemos ficar parados.
É natural que haja uma reação porque não é possível ficarmos sendo
desafiados de um lado e engolirmos sapo de outro. A vida é assim, a cada
ação tem uma reação", comentou o almirante, que disse ter havido "uma
coincidência de interesses" neste momento, de se tirar a nota do ar. O
almirante ressalvou que embora os militares, mesmo na reserva estejam
sujeitos ao Estatuto dos Militares, "os clubes não estão subordinados ao
Poder Executivo".
A nota dos Clubes Militares foi publicada no site do Clube Militar, que
representa o Exército, quinta-feira que antecedeu o Carnaval e
reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo na edição de terça-feira.
No dia seguinte, houve a reunião do ministro da Defesa com os
comandantes e uma conversa com a presidente Dilma. Paralelamente a esta
movimentação, os comandantes das três forças telefonaram para os
presidentes dos três clubes para que a nota fosse suprimida. Ontem, o
"comunicado interclubes" produzido a partir da reunião da semana passado
foi retirado do site no início da tarde e por volta das 16 horas,
colocada no ar um outro, dizendo que os presidentes desautorizavam o
texto. Este desmentido, no entanto, não chegou a ficar meia hora no ar. O
Clube do Exército, para tentar encerrar a polêmica, retirou a nota e o
desmentido da nota, mas a polêmica já estava criada no meio militar. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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