sexta-feira, 13 de abril de 2012

A ciência e a religião


Mino Carta, CartaCapital
“Sou filho de um anticlerical agnóstico e de uma católica praticante. Meu pai, que poderia ser visto pelos anjos como “homem de boa vontade”, não hesitou em matricular os dois filhos no curso primário do colégio genovês das marcelinas, por serem elas, em plena Segunda Guerra Mundial, antifascistas. Tenho das freiras lembrança saudosa, embora as aulas de catecismo e relativas provas não fossem de pura diversão. Outras coisas valiosas aprendi com elas, e neste aprendizado não incluo o fato de ter sido competente coroinha, presa de uma ponta de exibicionismo a bem do justo exame de consciência.

A lição paterna, de todo modo, influenciou bem mais meus comportamentos do que a de minha mãe, e assim esclareço por que meu propósito é tocar em assuntos a envolverem fé religiosa e atitudes eclesiásticas. Espanta-me, confesso, que ao cabo de oito anos de debates, o Supremo Tribunal Federal somente agora decida se grávidas de fetos sem cérebro podem abortar sem risco de acabarem presas. E falamos de seres destinados ao oblívio em vida.

Quando, candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff aventou a possibilidade da descriminalização do aborto, foi grita geral. A ex-guerrilheira ousava além da conta e a ideia foi rapidamente abortada. Há muito tempo o aborto deixou de ser crime nos países mais civilizados e democráticos do mundo. Na Itália, cujo Estado e cuja Justiça foram afrontados pelo governo brasileiro no Caso Battisti, o aborto foi descriminalizado na década de 70, na época em que, segundo o ex-ministro Tarso Genro e eminentes juristas nativos, a Península era dominada por um governo de extrema-direita contra quem se insurgiam heróis da resistência como Cesare Battisti. Diante disso, o arco da velha descoloriu.

Não sei o que se pode esperar do nosso Supremo. Mas que aquela questão esteja em pauta, e em uma versão que não aceita perplexidades, é de pasmar. Leio um pequeno livro que a Editora Einaudi acaba de lançar na Itália, registra o diálogo entre o cardeal Carlo Maria Martini, figura extraordinária que concorreu à vaga papal com o então cardeal Ratzinger no Consistório de 2005, e o cientista Ignazio Marino. Observa Martini que a postura negativa e apriorística da Igreja diante das mudanças provocadas pelo progresso e pela técnica nunca foi bem-sucedida. Galileu docet, ensina, acrescenta.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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