É surreal o jogo de sofismas para explicar o envolvimento da Veja
com Carlinhos Cachoeira. Pega-se um diálogo aqui ou ali para se tirar
conclusões taxativas sobre a lisura das relações com o bicheiro.
Mesmo ainda sem as gravações de Policarpo Jr. – o que apareceu até
agora foram relatórios sobre o senador Demóstenes Torres - tem-se todo o
quadro de crime organizado: comando central, influência no Judiciário,
Legislativo e Executivo e braço midiático.
O que diferencia Carlinhos Cachoeira de tantas outras organizações
criminosas foi sua extraordinária influência política. E ela se devia,
na maior parte, ao acesso que tinha à revista Veja, à
possibilidade de detonar adversários ou recalcitrantes com matérias
escandalosas – mesmo, muitas delas, não obedecendo sequer aos critérios
de verossimilhança.
Confira aí no Apenso 1, Volume 7, página 6 (ou 110) a conversa do
Cláudio, da Delta, com Carlinhos Cachoeira (PJ é Policarpo Jr):
CLÁUDIO: Deixa eu falar, o DADA me posicionou aqui, aquela história,
nós não pediu nem nada, mas, deu uma reviravolta na turma lá, tá tudo
desesperado né ? O DADA já me falou que você falou pra ele "botou a
cabeça, agora deixa!" eles que tem que resolver, não resolvem minhas
coisas lá, bicho.
CARLlNHOS:Falei pro DADA, eu liguei pro nosso amigo, falei: "ó solta o bete" (...) é ao contrário, vai bater, aí, depois de arrumar os seus negócios, ele para, entendeu?
CLÁUDIO: É, exatamente (...).
(...)
CLÁUDIO: Arrebentou, hein, o bicho arrebentou, hein.
CARLlNHOS:Foi bom demais, hein.
CLÁUDIO: Mas eu já tinha falado isso pro PJ lá: "PJ, vai nesse caminho", bicho se o PJ for no em cima do cara que eu falei do "alcoforado (?)" , rapaz do céu, vai estourar trem pra cacete.
Há jornalistas experientes que, no afã de mostrar serviço à casa, estão
desmoralizando-se, interpretando esses jogos como mera oferta para
publicar notinhas inofensivas em colunas de fofocas.
Aí estão provas insofismáveis de crime, de organização criminosa. Cadê a
lógica da tal “delação premiada” – tese estapafúrdia desenvolvida pela
Veja para justificar esses crimes?
A cada divulgação do inquérito vai se comprovando que o poder de
Cachoeira residia no acesso que tinha à revista. E que ela a utilizava
recorrentemente para chantagear adversários.
Luis Nassif
.::.
Este é o resumo: o que era a organização criminosa de Cachoeira em 2004,
quando se associou a Veja com a gravação do Waldomiro, e o que era
agora, quando foi desbaratada.
E esta é a questão: sem a Veja, teria chegado a tanto ?
Se o sr. Civita provar que não existe correlação entre o conluio com a
Veja e o crescimento desta máfia, parabéns! Não será fácil, em tempos de
internet, como bem sabe o Kamel e o Bolina, perdão Molina.
Caso contrário, quedará demonstrada a contribuição da Veja em muito da
riqueza e poder acumulados criminosamente pela quadrilha, e portanto a
revista terá sido 'pelo menos' cúmplice de muitos dos seus crimes.
Por que 'pelo menos' ? Porque é difícil acreditar que a Veja e Cachoeira
sejam pares, ou que Veja serviu a Carlinhos. Ora, a Veja é o porta-voz
da elite econômica dominante no país, que manda e desmanda no Brasil há
séculos, e Cachoeira/Demostenes/Perillo/etc, por mais longe que pareçam
ter ido, nada mais são que bandidos periféricos com mania de grandeza.
O que interessa a esta turma que a Veja vocaliza não é espalhar
caça-níqueis em cidades-satélite, e sim apossar-se de um país.
Recuperar-se da incompetência de seus representantes políticos,
PSDB/FHC/PFL e caterva, ao permitir a "esta gente da esquerda" assumir o
poder central, mostrar e executar um outro projeto de Nação. E, uma vez
que democraticamente, se tornou muito dificil agora, "não tem arrego,
vamos derrubar este governo" nem que seja através de um golpe, e, se é
preciso usar dos serviços de tão reles criminoso, "às favas os
escrúpulos".
Portanto, se nesta história há um chefe de quadrilha ele não está em
Goiás, e sim na marginal, em São Paulo. E se esta CPI não chegar até
ele, não terá valido a pena.
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