Eu resolvi olhar o inquérito da polícia que deu ordem de prisão ao
Cachoeira. Lá tem algumas conversas muito interessantes, que ainda não
vi divulgadas na mídia, entre elas uma que fala sobre o governador do
estado. Talvez ajude as pessoas a entender melhor o caso ou até instigar
alguns jornalistas a investigar algumas pessoas. O fato é que todo o
comado da polícia civil, militar e o ministério público do estado estava
envolvido com a quadrilha, que por vezes comentava sobre o governador.
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- WLADIMIR = Wladimir Garcez (PSDB-GO), ex-presidente da Camara Municipal de Goiânia. Uma personalidade central na administração da quadrilha.
- AREDES = Aredes Pires, delegado e corregedor geral da Segurança Pública (GO)
- EDEMUNDO = Edemundo Dias (PSDB-GO), delegado-geral –comandante - da Policia Civil (GO) e tesoureiro do PSDB goiano. Atualmente está no controle da AGSEP – Agencia Goiana do Sistema de Execução Penal.
- GT3 = Grupo Tático da Policia Civil
- CARLINHOS = Carlos Augusto Ramos, famoso contraventor e chefe da quadrilha.
- GOVERNADOR = Marconi Perillo (PSDB-GO)
Essa transcrição foi comentada pelo jornal O Popular, mas não foi
publicada na integra. É possível encontrar a reportagem no site do
sindicato. Além do envolvimento de chefes da segurança do estado fica
claro que a quadrilha tem um certo poder sobre o GT3.
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# Transcrição da conversa gravada em 30/5/2011 as 09:40:02
WLADIMIR: Não, é o seguinte... eu tava com AREDES aqui agora, ficamos
um tempão. Ele tá tentando pegar os locais, pra gente, da INTELIGENCIA
agora. É... não tem definição, mais porque tirou do comando. Então... só
aqueles endereços que ele falou. Ai eu perguntei pra ele o negócio (do
processo do EDEMUNDO) da... o EDEMUNDO... do trem, da... do processo
do EDEMUNDO, pra mim tocar no assunto com EDEMUNDO e tal, né? O
EDEMUNDO não tá preocupado com isso não? Ele falou que não, que tá nem
um pouco preocupado. O GOVERNADOR disse que ia resolver pra ele. Tá
confiando no GOVERNADOR. E fui conversar com ele, ele falou isso: Mas
parece que ele não vai trabalhar nem hoje... por causa desse (
problema) -... tá com enxaqueca, segundo a secretária dele aqui.
CARLINHOS: Não, moço, mas e ai, cadê? Não resolveu nada então.
WLADIMIR: Nada, ele vai pegar... o AREDES ficou de passar para mim os
endereços... é que é aqueles endereços que a INTELIGENCIA levantou e
deixou pra GT3 fazer. A GT3 tá com hora extra para fazer. A INTELIGENCIA
saiu do caso. Não mexe mais, segundo... não tem mais determinação. Que
negocio do ENTORNO ai? É aquele trem da FORÇA NACIONAL?
CARLINHOS; Não, isso ai não é da FORÇA não. Foi a GT3, uai!
WLADIMIR: Foi a mando do EDEMUNDO, ainda falou, foi a mando do
EDEMUNDO, já tava previsto que era pra ter sido... foi feito. entendeu?
CARLINHOS: Mas a GT3 não vai entrar mais, até sexta-feira?
WLADIMIR: Não, CARLINHOS, o que ele falou pra mim foi o seguinte:
aqueles endereços que a INTELIGENCIA levantou, a GT3 pode fazer, segundo
ele. (...) Ai ele falou: "o que tenho certeza é TOCANTINS, RUA 3 e a
T-4. Esses eu tenho certeza."(...). Ele falou : " WLADIMIR, eu tenho que
ir pessoalmente. Eu vou ver e eu levanto. Eu te passo isso ai". A GT3 e
a INTELIGENCIA... a INTELIGENCIA saiu, não tem mais ordem pra eles
hoje. Mas isso não impede que a GT3 faça, segundo ele. A GT3 pode fazer
porque tão recebendo até hora extra.
***
Além de Aredes, outro chefe da segurança em Goiás que está
comprovadamente envolvido é o coronel Massatoshi Sergio Katayama, o
"Japão”, que é, então, o comandante da Policia Militar em Goiânia. Seu
auxiliar, o Ananias, chegava a tratar Carlinhos nas conversas como seu
chefe.
De O Popular - 17 de março de 2012Cachoeira enfrentou até a Força Nacional de Segurança
Quadrilha dos jogos de azar tentou evitar a apreensão de caça-níqueis e a prisão de vários comparsas
A atuação da Força Nacional de Segurança no Entorno do Distrito Federal
(DF), a partir de abril do ano passado, preocupou a quadrilha liderada
pelo empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, que passou a enfrentá-la ao se sentir ameaçada. Convocada
para reduzir os índices de violência na região, a Força Nacional começou
a atuar também no enfrentamento a outros tipos de crimes, inclusive a
exploração ilegal de jogos de azar.
Por meio do vazamento de informações, a quadrilha tentava evitar o
recolhimento de caça-níqueis e a prisão de comparsas, segundo revela o
inquérito da Operação Monte Carlo. Além disso, investigações da PF
mostram que Cachoeira tentou desmoralizar a Força Nacional por meio da
mídia local.
Nos primeiros dez dias de atuação, com ações concentradas em bares, a
Força Nacional apreendeu 13 máquinas caça-níqueis no Entorno. Depois,
até agosto, foram mais de cem equipamentos. Isso teve reflexo direto na
contabilidade da quadrilha, visto que, conforme as investigações da
Polícia Federal, uma casa de jogos de azar clandestina em Valparaíso,
com até 30 máquinas, chegava a faturar mais de R$ 1 milhão em um mês.
Para driblar a ação da Força Nacional, Cachoeira contou com o apoio de
policiais militares – incluindo o comandante do 5º Comando Regional da
Polícia Militar (CRPM) de Luziânia, major Uziel Nunes dos Reis, de
policiais civis e federais, e de pelo menos um jornalista. Outro
policial militar do Entorno que aparece com frequência nas conversas
telefônicas e que citou algumas vezes a ação da Força Nacional é o cabo
Francisco Miguel, que seria, segundo as investigações, responsável por
gerenciar a segurança dos bingos de Cachoeira em Valparaíso.
Em uma conversa interceptada no fim de junho, Miguel pede ao major o
“cronograma da festa”, referindo-se à agenda de atuação da Força
Nacional na Região do Entorno do DF. As informações estariam em um bloco
de anotações na mesa de Uziel. Neste mesmo dia, o então comandante da
5ª CRPM teria ligado para Lenine Araújo de Souza, considerado o
primeiro na linha sucessória da quadrilha depois de Cachoeira, e
repassado toda a agenda.
Agosto foi o mês em que a Força Nacional é mais vezes citada nas
conversas entre membros do grupo de Cachoeria interceptadas pela PF. No
dia 5 de agosto, Raimundo Washington de Souza Queiroga, que
administrava as casas de jogos em Valparaíso, pediu para Francisco que
visse com o major Uziel informações sobre a atuação da Força Nacional
para que antecipassem medidas para evitar o fechamento dos bingos
clandestinos. “Era duas horas da manhã, passou lá na porta do bingo.
Precisa saber se ela tá hoje, se tava ontem” (sic), disse Washington em
uma conversa com o cabo da PM.
Em outra conversa interceptada em agosto entre um soldado da PM que
trabalhava para o grupo em Valparaíso e Francisco, os dois falam sobre
“um problema com a Força Nacional” no dia 6 de agosto, que atrasou o
pagamento de uma propina ao soldado.
Cachoeira contava também com o apoio de informantes dentro da Polícia
Civil. Em uma conversa com o empresário, interceptada no dia 30 de
maio, o ex-vereador Wladmir Garcêz – que fazia a ponte entre Cachoeira e
o então corregedor da Polícia Civil, delegado Aredes Pires – explica
que as operações contra os caça-níqueis no Entorno do DF saíram das mãos
do Grupo Tático da Polícia Civil (GT3) e passaram para a Força
Nacional.
Ainda na mesma conversa, segundo o ex-vereador, que hoje se encontra
preso no Núcleo de Custódia da Casa de Prisão Provisória (CPP), em
Aparecida de Goiânia, a transferência de responsabilidade foi uma
determinação do então delegado-geral Edemundo Dias, hoje presidente da
Agência Prisional.
Para enfrentar a Força Nacional, Cachoeira recorria até à imprensa. Em
uma conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal no dia 24 de
junho, Lenine e um jornalista de uma rádio do Entorno do DF combinavam a
atuação do jornalista no programa dele criticando a Força Nacional.
“Vou passar uns quatro, cinco dias batendo para ver se eles desanimam
um pouquinho”, disse o jornalista.
Subordinação
A secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça,
Regina Miki, que responde pela atuação da Força Nacional em todo o País,
afirmou que a PM de Goiás coordena todas as operações desenvolvidas
com a equipe de cerca de 50 homens da Força Nacional. Além disso,
segundo a secretária, a equipe usava o mesmo sistema de rádio da PM, o
que facilitaria vazamentos de informações. Regina ressalta que
desconhece o conteúdo do inquérito da Operação Monte Carlo, mas
reconhece que a Polícia Militar tinha acesso a todas informações das
atividades da Força Nacional.
Regina diz que a ação da Força Nacional em bares e locais onde foram
encontrados caça-níqueis se deu principalmente porque foram
identificados como os pontos onde os índices de violência eram maiores.
“A Força Nacional buscou atacar o problema diretamente. E se precisava
fechar bares irregulares, casas de jogos, boca de fumo, a equipe agia
neste sentido”, disse.
No Entorno desde abril, a Força Nacional já esticou o prazo de
permanência duas vezes. Uma em novembro e outra em fevereiro. “A equipe
fica pelo menos até maio, mas se o governo estadual pedir novamente
estenderemos o prazo”, informou Regina.
Delegado foi afastado no meio de investigação
Responsável por um relatório de três meses de investigação e cerca de
500 páginas sobre a exploração ilegal de jogos de azar em Goiás, o
delegado Alexandre Lourenço diz que foi informado sobre sua
transferência para a Delegacia de Homicídios logo após a entrega do
documento, em setembro do ano passado. O relatório foi citado em
reportagem da revista Época deste fim de semana.
Em entrevista ao POPULAR, Alexandre desmente o delegado Edemundo Dias,
diretor-geral da Polícia Civil em 2011, que afirmou ao jornal que a
transferência foi informada antes a Alexandre e que o relatório seria
para que o trabalho dele tivesse continuidade por outra equipe. A
investigação, entretanto, foi interrompida após a transferência do
delegado. Ao ser informado da declaração de Edemundo sobre o aviso
prévio de sua transferência, Alexandre foi direto: “Isso não é verdade.”
O delegado foi designado para investigar a exploração ilegal de
caça-níqueis em junho de 2011 pelo próprio diretor-geral. Alexandre
estava no 12º Distrito Policial e foi realocado, então, para o Serviço
de Inteligência da Polícia Civil. “Fiz o relatório para concluir um
ciclo de investigação. Quando apresentei, fui informado da
transferência”, disse. O delegado disse que não tem autorização para
falar sobre o conteúdo da investigação, mas reforçou que até a entrega
do documento não sabia sobre sua transferência para a Homicídios.
Edemundo afirma que o relatório apresentava um levantamento de
endereços, nomes, telefones e outras informações sobre pessoas que
exploravam máquinas caça-níqueis, mas não tinha nenhum nome de
autoridade pública ou líderes de quadrilhas. Disse também que o
relatório foi encaminhado para um recém-criado grupo de combate ao crime
organizado. Entretanto, esse grupo nunca chegou a funcionar direito
por falta de estrutura e recursos. “A intenção era que esse relatório
fosse aprofundado, mas eu saí em novembro da direção da Polícia Civil,
antes que pudesse estruturar o grupo”, disse Edemundo, que hoje comanda
a Agência Prisional.
O ex-diretor-geral diz que Alexandre era delegado de sua confiança e
que precisou dele na Delegacia de Homicídios. “Ele sempre fez um
excelente trabalho por onde passou e considerei necessária sua ida para
reforçar o trabalho na Delegacia de Homicídios”, disse. Alexandre ficou
responsável por investigar homicídios ocorridos antes de 2007, objeto
da Meta 2, fixada pelo Ministério da Justiça, para apurar todos os
processos sem solução.
Nas investigações feitas pela Polícia Federal do Distrito Federal e
pelo Ministério Público Federal em Goiás, Alexandre aparece citado em
uma conversa telefônica interceptada em junho do ano passado entre o
então corregedor-geral da Segurança Pública de Goiás, o delegado Aredes
Pires, e Carlinhos Cachoeira. O empresário queria saber as chances de
corromper Alexandre. “Zero, zero… Cara complicado. Não dá nem para
conversar com esse cara. Foi bem achado, viu, acharam o cara”, teria
dito Aredes a Cachoeira, segundo a transcrição da conversa. A reportagem
tentou contato com a diretora-geral da Polícia Civil, a delegada
Adriana Accorsi, mas ela não atendeu aos telefonemas.
Edemundo confirma contato com ex-vereador
O ex-diretor-geral da Polícia Civil de Goiás, Edemundo Dias, confirmou
que recebeu o ex-vereador Wladmir Garcêz em seu gabinete no primeiro
semestre do ano passado, mas negou que tivesse tratado com ele sobre
investigações contra exploração de jogos de azar. Segundo Edemundo, o
ex-vereador – preso durante a Operação Monte Carlo por suspeita de ser
um dos principais braços direitos do empresário Carlinhos Cachoeira – o
procurou para falar em nome de uma “grande empresa” que pretendia
criar um sistema de biometria em massa.
“Ele me ligou inúmeras vezes, mas eu nunca atendi. Até que resolvi
recebê-lo em meu gabinete, como sempre faço com todo mundo que me
procura. Ele veio falar em nome desta empresa, disse que ela pensava em
participar da Copa de 2014 e que esse sistema poderia interessar à
Segurança Pública. Foi tudo registrado. Talvez ele tivesse tentado
abordar algum outro assunto, mas não encontrou abertura da minha parte”,
disse.
Edemundo nega que tenha determinado a transferência de responsabilidade
sobre as investigações dos caça-níqueis no Entorno do Distrito Federal
do Grupo Tático 3 (GT3) da Polícia Civil para a Força Nacional,
conforme foi sugerido por Garcêz em conversa interceptada pela polícia
com Cachoeira. “O GT3 não ficava sob minha jurisdição. Muito menos a
Força Nacional. E eu nunca determinei que um delegado deixasse de
investigar algo relacionado a caça-níqueis”, disse.
Joao GoianoNo Advivo
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