Guilherme Scalzilli, via Observatório
da Imprensa
O jornalista Luis Nassif está mobilizando a blogosfera com seu dossiê Veja, série de artigos que denunciam o antijornalismo
praticado pela revista nos últimos anos. Envolve interesses corporativos, destruição
de reputações, tráfico de influência. Desmascara a diretoria editorial da revista
e, principalmente, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Trata-se de estudo avassalador,
embora não surpreendente, que precisa ser lido e divulgado.
O material já causou estragos. A Veja
esboça uma ligeira mudança de tom nas suas edições semanais e há suspeitas de que
ela tem obstruído as ferramentas de busca eletrônica aos conteúdos de matérias e
postagens antigas – especialmente as que corroborariam as denúncias. A revista processa
Nassif e, aparentemente, utiliza funcionários anônimos (além dos supracitados) para
espalhar ataques pessoais a ele.
É compreensível que Nassif tente evitar conotações político-partidárias
em sua empreitada. Seria (e continua sendo) cômodo para a revista refugiar-se numa
batalha moral contra o “lulo-petismo”. Quando se trata de ética jornalística, entretanto,
não cabem desculpas ideológicas.
E o respaldo da imprensa?
Mas o público sabe que esse comportamento da Veja também possui um viés eleitoral. Ela é acusada de defender interesses
que se beneficiam do poder conferido pelas urnas a eles próprios ou a terceiros.
Se alguém escancara essa contaminação, direta ou indiretamente, mexe nas suas motivações.
Por isso, é importante não esquecer que o gesto de Nassif insere-se num contexto
político, pois assim será tratado pelos detratores.
Os grandes veículos, assim como a Associação Brasileira de Imprensa, fingem
que a querela não existe. Não querem se expor a exumações semelhantes, principalmente
depois que a Folha de S.Paulo foi envolvida
num dos episódios denunciados. Os comentaristas abordam a questão com cuidado, sabedores
do poder destrutivo de Veja.
Esse comportamento revela muito sobre a categoria. A manipulação teria sido
aberta, conhecida por todos, durante anos. E a revista só foi confrontada por iniciativa
de um indivíduo isolado que, apesar da força de sua biografia e de seus argumentos,
não angariou o respaldo de uma imprensa que se diz combativa e independente (ou
melhor, que é “combativa” e “independente” quando interessa).
Precedente histórico
Imagina-se que a direção da revista tenha instruído seus advogados a causarem
o maior estrago possível, financeiro e pessoal, na vida de Nassif. As despesas são
altíssimas, os prazos dilatados, os resultados incertos e as primeiras instâncias,
imprevisíveis. A desigualdade de forças resvala na coerção do gigante empresarial
que tenta destruir exemplarmente seus desafetos incômodos.
Mesmo assim, parece alvissareira a hipótese do Judiciário ser constrangido
a se manifestar. Passou o tempo de tratar falsos depoimentos, incriminações indevidas,
denúncias vazias, deturpações e mentiras como simples efeitos colaterais da liberdade
de imprensa. A integridade moral dos indivíduos e o interesse coletivo são protegidos
por leis que estão acima de couraças retóricas.
A nobre iniciativa de Nassif não envolve apenas os leitores de Veja e talvez nem o público genérico de periódicos.
Trata-se de esclarecer o uso antiético e quiçá ilegal da grande imprensa para favorecer
determinadas facções corporativas ou políticas. Tamanha abrangência só pode ser
respeitada por um poder de envergadura equivalente, conferindo máxima lisura ideológica
à decisão.
O desejável sucesso da defesa do jornalista, ainda que custoso e demorado,
pode abrir um precedente histórico e contribuir para uma análise profunda sobre
o jornalismo nacional.
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