segunda-feira, 23 de abril de 2012

A “ética” da Veja não resiste ao Código Penal


O editoral da revista Veja sobre “ética jornalística” é uma peça de um cinismo à toda prova.
Parece que o que está sendo questionado no comportamento da revista é o fato de, eventualmente, ter se valido de informações provindas de um criminoso, no caso o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Não foi isso o que aconteceu.
Veja e Cachoeira associaram-se de forma contínua, e o fizeram porque esta associação trazia vantagens para ambos.
Desde o caso Waldomiro Diniz até a demissão do sr. Luiz Antonio Pagot do Ministério dos Transportes, foram pelo menos sete anos de associação a um processo de chantagem. E a chantagem, não importa se o chantageado é ou não inocente – e no mais das vezes não é – do que se lhe pode acusar é um crime para o qual concorrem todos os que dele participam.
O chantagista, para ter sucesso, precisa ameaçar o chantageado com o conhecimento público daquilo que este quer esconder.
Mas, ao mesmo tempo o chantagista não pode, para escapar ao crime que comete e a seus envolvimentos, fazer de público esta denúncia.
Quando a chantagem é privada, apela-se para cartas anônimas para pessoas do círculo de relações da vítima.
Quando é relativa a negócios públicos, os meios de comunicação são as ferramentas. E jornais não publicam cartas anônimas: têm de conhecer muito bem as atividades de quem denuncia e saber quais foram as relações que lhe permitiram conhecer e até ter provas do objeto da chantagem.
Veja sabia que Carlinhos Cachoeira comandava um processo de extorsão e obtenção de favores sobre governos e agentes públicos e privados.
Sabia e associou-se a ele para ser beneficiária dos segredos com os quais se praticava a chantagem. Chantagem que, aliás, sequer era mencionada nas reportagens onde veiculava as informações trazidas por Cachoeira, para não abalar a “credibilidade” do seu informante.
Veja associou-se de forma contumaz – mais, permanente – a Cachoeira, e isso não pode ser escondido por qualquer texto pretensioso sobre “pureza jornalística”.
Porque texto algum pode ter pureza se esconde a verdade.
As gravações da Operação Monte Carlo começaram no segundo semestre de 2010. O contraventor foi preso em fevereiro de 2012. O volume de ligações entre Policarpo Júnior e Cachoeira – cerca de 200 – revela que os telefonemas, portanto, eram quase diários, ou “dia sim, dia não”.
Jamais eventuais, pontuais. Sistemáticos, íntimos, parceiros.
Veja sabia estar colaborando para um esquema de extorsão, como um receptador sabe que está dando eficácia a um esquema de roubos e assaltos.
Foi sócia nas vantagens e cúmplice no crime.
PS. Na gravação do Jornal Nacional de ontem, apenas uma dúvida, pois sabemos perfeitamente que é o “ele anotou tudo”. Mas quem será  a outra vítima  sobre a qual Cachoeira estava “plantando em cima dele igual o que eu plantei do Pagot aquela hora”? Curioso -  não é? -  que quem teve o áudio não se interessasse em dizer quem era a vítima da chantagem de Cachoeira via imprensa. Outro caso de jornalismo “seletivo”.
Fernando Brito
No Tijolaço

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