Emir Sader
As relações do Brasil com os EUA quase sempre foram de subserviência.
Hoje mudaram. Não por eles, que continuam imperiais, prepotentes, sem
consciência da sua decadência.
Terminada a segunda guerra, Octávio Mangabeira beijou as mãos do
presidente dos EUA, Harry Truman, que visitava o Brasil. Instaurada a
ditadura militar, Juracy Magalhaes, ministro de Relações Exteriores,
adaptando a frase da General Motors, afirmou: “O que é bom para os EUA é
bom para o Brasil.” Logo apos os atentados de 2001 nos EUA o então
ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Lafer, se submeteu a
tirar os sapatos para ser controlado em um aeroporto dos EUA. Os três
são da mesma linhagem tucano udenista, sombras que deixamos para trás.
As relações entre o Brasil e os EUA mudaram, porque mudamos nós e porque
o mundo está mudando. A Presidenta que chega hoje aos EUA é uma mulher,
que lutou contra a ditadura militar que os EUA promoveram e apoiaram,
eleita por seu antecessor, um operário que colocou o Brasil no caminho
da soberania e do respeito internacional.
Não importa se o tratamento que eles deram ao seu aliado canino há
poucos dias, foi pomposa, cheia de reconhecimentos e salamaleques. Que
eles se abracem na decadência anglosaxã. Temos certeza que eles
trocariam imediatamente esse apoio caquético por uma aliança estratégica
conosco, se estivéssemos dispostos a isso.
Mas não estamos. Temos uma política externa independente, digna, que
brecou o projeto norteamericano da Área de Livre Comercio das Américas
(ALCA), que rejeita Tratados de Livre Comércio com os EUA, que
privilegia a América Latina e seus projetos de integração regional, que
prefere as relações com o Sul do mundo que com o Norte.
Não estarão na mesa os grandes temas da política internacional nas
reuniões de Dilma com Obama. Porque sobre eles nós temos posições
irreversivelmente antagônicas – Cuba, Irã, Palestina, crise econômica
interacional, entre tantos outros.
Serão relações bilaterais, sobre temas particulares, entre uma potência
decadente e uma potência emergente. Uma que projeta o mundo do século XX
e outra que reflete o novo mundo, o do século XXI. Ninguem tem dúvidas
qual delas tem projetada uma tendência descendente no novo século e qual
tem uma tendência ascendente. Ninguém tem dúvidas que o século
norteamericano ficou para trás e o novo século já é o século do Sul do
mundo. Como representante desse mundo é que Dilma viaja hoje, digna, com
a força moral da nossa soberania, aos EUA.
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