Tão próximas e tão opostas. O Rio fazia o máximo de sensacionalismo,
inclusive com falsificações, nos seus anos críticos de violência urbana.
São Paulo procurou esconder e negou sua presença entre os Estados onde,
nos últimos 30 anos, foi ou é mais virulenta a epidemia da
criminalidade. O governo paulista persiste no erro, de consequências
sempre graves.
É recente a abertura de espaço na imprensa rica de São Paulo para
ocorrências criminais e problemas da segurança paulista e, mais ainda,
paulistana.
No Rio, o sensacionalismo leviano, e muito infiltrado de objetivos
políticos, atrapalhou os esforços intermitentes de ação governamental
contra a disseminação da violência, e afundou a cidade e sua imagem em
mitologias destrutivas.
Em São Paulo, a longa omissão jornalística, por mera vaidade
provinciana, deixou sua contribuição para a insegurança continuada, ou
mais do que isso.
A omissão jornalística dos assuntos de dimensão social resulta na
omissão das pressões políticas e administrativas implícitas no
jornalismo. Não por outro motivo foi sempre tão fácil para o poder
político, décadas após décadas, preservar no Brasil as desigualdades
sociais em todas as suas muitas formas, sem complacência nem sequer com
as mais perversas.
Na atual onda paulista de homicídios, já em setembro o seu número na
capital chegou a mais de 102%, ou 144 mortes, acima do havido em
setembro do ano passado, com 71 mortes.
O governador Geraldo Alckmin e seu secretário de Segurança, Antonio
Ferreira Pinto, negaram a onda, negaram conexão entre assassinatos,
negaram motivação de algum bando.
O secretário chegou a estabelecer em apenas 40 os criminosos integrantes de organização.
Em outubro, na mesma cadência do aumento dos homicídios diários a
repetidos picos, governador e secretário negaram-lhes maior anormalidade
e algum problema na segurança governamental.
Daí, o governo paulista foi para a desculpa final, aquela a que só resta
penetrar no ridículo: o aumento do índice de crimes deve-se à
mobilidade das motos e à falta de combate ao crime, pelo governo
federal, nas fronteiras. Mas antes da atual onda de homicídios as motos
já eram como são, e a situação nas fronteiras já era o que é.
Já não importa a continuação das negaças. O governo não resistiu à pressão das evidências noticiadas.
Admita-o ou não, lançou-se em uma operação em áreas de favelas que
desmente todas as suas recusas a ações conectadas na onda de homicídios
e, portanto, intencionais por parte de um dos bandos (ou facções, ainda
na velha maneira de não admitir que São Paulo tenha bandos).
Cada região assolada pela epidemia de criminalidade requer estratégias e táticas adequadas às condições locais.
O que tem alcançado êxitos no Rio não é, necessariamente, o procedimento
a ser aplicado a problemas alheios. Mas um fator adotado no Rio é
indispensável a todos: a recusa a subterfúgios, sempre interesseiros ou
temerosos, e o reconhecimento franco da realidade. Até porque a
população sabe o que a aflige e não cai nas tapeações de governantes.
Janio de FreitasNo fAlha
Nenhum comentário:
Postar um comentário