“Em editorial, jornal de João Roberto
Marinho desfaz a crítica velada da presidente Dilma Rousseff ao STF e enxerga
uma declaração que, ao contrário, exalta o papel das instituições
O que a presidente Dilma Rousseff quis
dizer quando afirmou que decisões do Supremo Tribunal Federal devem ser
acatadas, mas "que ninguém está acima dos erros e das paixões
humanas"?Parece evidente que está dito ali que ministros do STF não são
infalíveis. O jornal O Globo, no entanto, enxergou nas palavras de Dilma um
outro sentido, mais ajustado às suas próprias conveniências. Leia, abaixo,
editorial de hoje:
Dando
um limite às paixões
Entrevistada pelo jornal espanhol “El
País”, a presidente Dilma Rousseff afirmou que acata e não discute as decisões
do Supremo Tribunal Federal, mas acrescentou que “ninguém está acima dos erros
e das paixões humanas”, sobretudo as relacionadas com a política.
Dependendo da posição política de cada um, haverá quem leia nisso uma crítica velada ao Supremo, que, ao votar, teria sofrido a contaminação da paixão política. Mas há outra leitura, mais substantiva e mais importante: a de que é exatamente a presença sempre perigosa da paixão política que dá todo o seu valor ao edifício das instituições, em cujo andar mais alto está o Supremo.
Paixão política, sem nenhum disfarce, é o que tem mostrado até agora a cúpula do PT, com seus manifestos que representam um desrespeito à própria evolução política do Brasil moderno. É um tipo de postura que beira o ridículo, na medida em que a maioria dos ministros que hoje compõem o Supremo foi nomeada pelo ex-presidente Lula.
Mas paixão é paixão; e neste sentido, melhor é que o ex-presidente, num assunto que definitivamente mexe com as suas emoções, prefira dizer que não viu, não ouviu, não cheirou.
O ano de 2012 vai ficar marcado por um julgamento que fez e faz história, e que configura um avanço institucional concreto. Quem acompanhou os seus muitos capítulos não viu, de maneira geral, demonstrações de interesses pessoais. Dentro das inevitáveis diferenças de opinião (às vezes gritantes), o que a opinião pública identificou foi a tentativa de destrinchar, da melhor maneira possível, um assunto tenebroso que tinha a ver com o próprio miolo das instituições. O que veio à tona, nos menores detalhes, foi a tentativa de tornar um dos poderes da República subordinado a outro, através de expedientes deletérios. Da gravidade desses fatos — e não da paixão política — é que veio a dramaticidade das sessões, acompanhadas pelo mais vasto público que já assistiu a um julgamento neste país.
O resultado disso é um passo à frente numa história que vem-se desdobrando pelos últimos 27 anos, e que teve outros momentos de tensão extrema. Foi a aposta nas instituições que permitiu, pouco tempo depois da redemocratização, o impeachment e substituição de um presidente que perdera a noção da dignidade do cargo. Foi o vigor institucional que permitiu a tranquilíssima transição do ciclo Fernando Henrique para o ciclo lulista — e por isso, nunca esteve tão longe da verdade o ex-presidente Lula quando disse que recebera do antecessor uma herança maldita. Recebeu, sim, a melhor de todas as heranças: a possibilidade de construir um projeto político sem precisar procurar inimigos atrás de cada porta. É esse processo que agora sobe um degrau com o momentoso julgamento do mensalão.”
Dependendo da posição política de cada um, haverá quem leia nisso uma crítica velada ao Supremo, que, ao votar, teria sofrido a contaminação da paixão política. Mas há outra leitura, mais substantiva e mais importante: a de que é exatamente a presença sempre perigosa da paixão política que dá todo o seu valor ao edifício das instituições, em cujo andar mais alto está o Supremo.
Paixão política, sem nenhum disfarce, é o que tem mostrado até agora a cúpula do PT, com seus manifestos que representam um desrespeito à própria evolução política do Brasil moderno. É um tipo de postura que beira o ridículo, na medida em que a maioria dos ministros que hoje compõem o Supremo foi nomeada pelo ex-presidente Lula.
Mas paixão é paixão; e neste sentido, melhor é que o ex-presidente, num assunto que definitivamente mexe com as suas emoções, prefira dizer que não viu, não ouviu, não cheirou.
O ano de 2012 vai ficar marcado por um julgamento que fez e faz história, e que configura um avanço institucional concreto. Quem acompanhou os seus muitos capítulos não viu, de maneira geral, demonstrações de interesses pessoais. Dentro das inevitáveis diferenças de opinião (às vezes gritantes), o que a opinião pública identificou foi a tentativa de destrinchar, da melhor maneira possível, um assunto tenebroso que tinha a ver com o próprio miolo das instituições. O que veio à tona, nos menores detalhes, foi a tentativa de tornar um dos poderes da República subordinado a outro, através de expedientes deletérios. Da gravidade desses fatos — e não da paixão política — é que veio a dramaticidade das sessões, acompanhadas pelo mais vasto público que já assistiu a um julgamento neste país.
O resultado disso é um passo à frente numa história que vem-se desdobrando pelos últimos 27 anos, e que teve outros momentos de tensão extrema. Foi a aposta nas instituições que permitiu, pouco tempo depois da redemocratização, o impeachment e substituição de um presidente que perdera a noção da dignidade do cargo. Foi o vigor institucional que permitiu a tranquilíssima transição do ciclo Fernando Henrique para o ciclo lulista — e por isso, nunca esteve tão longe da verdade o ex-presidente Lula quando disse que recebera do antecessor uma herança maldita. Recebeu, sim, a melhor de todas as heranças: a possibilidade de construir um projeto político sem precisar procurar inimigos atrás de cada porta. É esse processo que agora sobe um degrau com o momentoso julgamento do mensalão.”
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