sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Saldo eleitoral

Embalados pela grande vitória obtida no primeiro turno, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados confirmaram no último domingo um desempenho que os transforma nos grandes vencedores das eleições municipais deste ano.
O único partido a crescer a cada nova eleição, o PT somou ao excelente resultado da primeira etapa a conquista de oito grandes cidades, consagrada com a vitória de Fernando Haddad em São Paulo.
As vitórias nas capitais São Paulo, Rio Branco e João Pessoa — derrotando o PSDB —, em Guarulhos, Santo André e Mauá — as duas últimas especialmente importantes, por fazerem parte da região do ABCD paulista, berço do partido — e em Niteroi (RJ) e Vitória da Conquista (BA) levarão o PT a governar, a partir de 2013, com 37,1 milhões de brasileiros, dentre os quais 20,4 milhões concentrados nas 83 maiores cidades do país.
Nesses grandes centros urbanos, os petistas são seguidos pelo PSB, que governará para 10,6 milhões, pelo PMDB, para 9,7 milhões e pelo PSDB, para 9,4 milhões.
Esse resultado singular do PT, a despeito de todo empenho e apostas negativas da oposição e da grande mídia, teve em São Paulo a sua conquista mais emblemática.
Pela terceira vez desde a redemocratização, o partido estará no comando da principal cidade brasileira. O prefeito eleito tem muitos desafios para frente, mas está determinado a inserir a capital paulista no grande projeto nacional de desenvolvimento desencadeado no país a partir de 2003.
O avanço do PT de duas para nove cidades na região paulista do Vale do Paraíba, berço político do governador Geraldo Alckmin, e a maior votação entre os partidos em Minas Gerais, reduto do senador Aécio Neves (PSDB-MG), também são bastante significativos.
Já o desempenho do partido na região Nordeste — onde, apesar das campanhas vitoriosas no interior dos Estados, perdeu nas capitais Fortaleza, Recife e Salvador —, precisa ser avaliado.
Sobre os outros partidos há os que cresceram, como o PSB, e os que amargaram contundentes derrotas, como é o caso do PSDB.
O PMDB teve bom desempenho. Ainda que tenha perdido em Florianópolis e Campo Grande, elegeu o prefeito de Boa Vista e teve sua vitória mais expressiva no Rio de Janeiro, com a reeleição de Eduardo Paes.
O PSB foi de fato o segundo mais vitorioso destas eleições e sai fortalecido com a conquista de seis capitais, depois de levar Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho no segundo turno.
O PDT também obteve um saldo positivo e administrará três capitais — Porto Alegre, Curitiba e Natal —, enquanto o PSD, partido recém fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, venceu apenas em Florianópolis, capital do Estado que já administra.
Kassab, aliás, foi um dos grandes perdedores destas eleições. Além do desempenho pífio de seu partido e da derrota de José Serra, candidato que apoiou e de quem “herdou” a prefeitura, deixa o cargo com uma das maiores rejeições e piores avaliações de todo país.
Já o DEM ganhou sobrevida com as vitórias de Aracajú e Salvador, onde o carlismo renasce.
O PSDB foi, sem dúvidas, o partido que mais acumulou desgastes. Apesar de vencer em Manaus, Belém e Teresina, os reveses sofridos em Rio Branco, João Pessoa, São Luis e, especialmente, em São Paulo e Vitória imprimem aos tucanos perdas que os obrigarão a repensar suas estratégias.
O principal partido de oposição perdeu massa de votos (queda de 5,02% ante 2008) número de prefeituras e de vereadores e foi literalmente varrido das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Em São Paulo, a derrota do partido e, em particular, de José Serra, diz muito sobre a rejeição a um discurso reacionário e conservador, muito mais empenhado em desconstruir adversários do que em apresentar um projeto alternativo com propostas para solucionar problemas concretos.
Em contrapartida, a vitória do PT nas urnas não se restringe aos números. Trata-se da vitória política de um projeto que, na última década, tem transformado o país e tem ampla aprovação popular.
Aprovação que se confirma e que não pode ser atribuída apenas às suas principais lideranças. É uma vitória do partido, que sobrevive ao bombardeio midiático e renasce, cresce, se renova.
A força de sua militância e o profundo enraizamento social do PT em todo o país são as principais razões de seus sucessos eleitorais. Esse é um capital político que, por mais que insistam, não pode ser subtraído do partido.
O povo brasileiro percebe que há projetos diferentes para o país e está fazendo a sua opção. Por isso, a vitória inconteste do PT e de seus aliados nestas eleições deve ser entendida não apenas como aprovação e apoio, mas, sobretudo, como a expressão do desejo dos brasileiros de avançar para superar as desigualdades e os muitos problemas que ainda temos, a fim de construirmos uma nação plenamente desenvolvida.
José Dirceu

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