Jornalão especula, mas segredos de Valério que sobraram são sobre tucanos, sobretudo entre 1999 e 2002 |
Empresário condenado como o operador do mensalão, Marcos Valério Fernandes de Souza prestou depoimento ao Ministério Público Federal no fim de setembro. Espontaneamente, marcou uma audiência com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Fez relatos novos e afirmou que, se for incluído no programa de proteção à testemunha - o que o livraria da cadeia -, poderá dar mais detalhes das acusações.Mais abaixo falo da real necessidade de proteção à Valério. Mas antes não há como deixar de falar sobre o jornalão. Ninguém merece esse tipo de jornalismo!
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Dias depois do novo depoimento, Valério formalizou o pedido para sua inclusão no programa de testemunhas enviando um fax ao Supremo Tribunal Federal. O depoimento é mantido sob sigilo. Segundo investigadores, há menção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-ministro Antonio Palocci e a outras remessas de recursos para o exterior além da julgada pelo Supremo no mensalão - o tribunal analisou o caso do dinheiro enviado a Duda Mendonça em Miami e acabou absolvendo o publicitário.
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Ainda no recente depoimento à Procuradoria, Valério disse já ter sido ameaçado de morte e falou sobre um assunto com o qual parecia não ter intimidade: o assassinato em 2002 do então prefeito de Santo André, Celso Daniel.
O que o jornalão quis dizer com "segundo INVESTIGADORES", se está noticiando um depoimento sigiloso ao Procurador-Geral? Por acaso o jornalão está dizendo que o gabinete do Procurador-Geral está grampeado por investigadores?
É claro que a "fonte" do jornal vem da parte da defesa do próprio Marcos Valério, querendo usar o jornalão como garoto de recados para criar confusão e pressionar menos os petistas (que já foram devassados e até condenados sem provas) do que o alto tucanato (que sequer foi denunciado).
Logo abaixo, o jornalão se trai e entrega o jogo, sob o subtítulo "RESSALVAS". Depois de dizer que desde o início da investigação Valério vem blefando como um jogador, oferecendo informações que não levam a lugar nenhum, o Estadão dá o recado que o advogado quer para beneficiar Valério no Programa de Proteção a Testemunhas:
O advogado de Valério não quis comentar o assunto num primeiro momento. Depois, disse: "Se essa matéria for publicada e o meu cliente for assassinado terei que dizer que ele foi assassinado por causa dessa matéria. Não tenho outra opção".Hoje no Brasil, todo mundo sabe que se quiser plantar nota em jornal, basta mencionar o nome do presidente Lula associado a qualquer coisa negativa, ou nome de Palocci (antes era Dirceu), ou o assassinato de Celso Daniel (que virou de 1001 utilidades aos propósitos oposicionistas). Funciona tão bem para plantar notas em jornais como jogar açúcar para atrair formigas.
Se a defesa de Valério citasse o nome de FHC, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Marconi Perillo, José Serra ou a morte do empresário Abel Pereira (ligado aos tucanos de Piracicaba no caso sanguessuga) nada seria publicado, sem uma "rigorosa apuração jornalística" (que jamais seria feita), conforme comprova a forma como como o livro "A Privataria Tucana" foi abafado na velha imprensa.
Mas o bom jornalismo não é o que publica apenas o que a fonte diz em interesse próprio. É o que sabe extrair as pistas do contexto em que são ditas e corre atrás delas.
Segundo o jornalão os "investigadores" falam que Valério disse saber de outras remessas para o exterior, por exemplo. Não chega a ser novidade. Só o Estadão que ainda não leu o relatório do delegado Zampronha, da PF divulgado pela revista Carta Capital. Nele consta movimentações financeiras de empresa de Valério, supostamente com doleiro, rastreadas como recursos da Visanet no ano de 2001, no governo FHC.
É uma constatação de que o mensalão tucano não se resume à campanha de Eduardo Azeredo (PSDB/MG) em 1998. Ele continuou rolando até 2002.
Há uma caixa-preta a ser aberta entre 1999 e 2002, que ainda não há notícia de que foi investigada.
Houve investigação e devassa em 1998 e de 2003 em diante, mas o período de 1999 a 2002 é um segredo ainda não revelado, e é esse período que poderia haver interesse em uma delação premiada. Outro interesse pode ser nos contratos com o governo de Minas durante a gestão de Aécio Neves (PSDB), a partir de 2003.
A princípio, Marcos Valério cumpriria pena em um presídio de Minas Gerais, administrado pelo governo tucano. E aí ele pode de fato correr risco de ser queimado como arquivo, para enterrar os segredos que ele guarda sobre o tucanato. Daí a necessidade de Valério necessitar de proteção.
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