quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A bala de lata ou Devaju serrista

Se eles acham que essa história de "Estado policial" é a bala de prata que irá aniquilar a candidatura de Dilma Rousseff, acredito que se decepcionarão mais uma vez.

Em primeiro lugar, está se fazendo uma confusão deliberada: os auditores da Receita Federal tem liberdade para acessar as contas de qualquer cidadão ou empresa. Esse é o seu trabalho. O problema não está aí, e sim no vazamento desses dados para o público. E agora eu não consegui entender. Os dados do Eduardo Jorge, tudo bem, já viraram cabeça de criança, todo mundo põe a mão em cima e diz "que bonitinho". Em relação aos outros, aconteceu o mesmo?

Os três nomes do PSDB cujos sigilos fiscais foram "violados" são pessoas ligadas a arrecadação de campanha, afora o envolvimento de todos com o processo de privatização. Não são intocáveis. Muito pelo contrário, seus nomes mesclam-se a diversos escândalos cabeludíssimos. Investigá-los é uma obrigação dos auditores da Receita. Se seus nomes foram investigados quase ao mesmo tempo, deve ser porque há um elo unindo os três.

A Folha continua acusando a campanha de Dilma, de maneira leviana, sem provas, de ter montado uma "equipe de inteligência" para fazer um dossiê contra Eduardo Jorge. Entretanto, qual o interesse?

Trecho da matéria principal da Folha de hoje (26/08): "As cópias das declarações do imposto de Eduardo Jorge (dos exercícios de 2005 a 2009) faziam parte de um dossiê organizado por um "grupo de inteligência" que atuou na pré-campanha da candidata a presidente Dilma Rousseff (PT) - que nega todas as acusações."

Se houve algum ilícito dentro da Receita Federal, o PSDB é tão suspeito quanto o PT. Afinal, repito, a quem interessa? O prejuízo tem sido, até aqui, todo do PT.

Como num jogo pré-arranjado, colunistas políticos da grande imprensa fizeram coro hoje:

Merval Pereira: "Agora ficamos sabendo, graças ao jornalismo da grande imprensa que o governo Lula tenta constranger justamente para que fatos como este não sejam divulgados, que o vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, não foi o único tucano a ter o sigilo fiscal quebrado dentro da Receita Federal. Outros três personagens, ligados de alguma maneira a José Serra, candidato tucano à Presidência da República, também tiveram seus dados acessados irregularmente no dia 8 outubro, em 16 minutos de atividades através de um mesmo computador e com a utilização da mesma senha."

Editorial Globo: "Informações da declaração de Imposto de Renda de Eduardo Jorge foram retiradas dos computadores da Receita Federal e, segundo a "Folha de S.Paulo", circularam num bunker eleitoral da candidata Dilma Rousseff, onde iriam alimentar um dossiê de aloprados contra tucanos - mais um."

Dora Kramer: "Crime organizado - Quando o presidente Luiz Inácio da Silva ordena que seus correligionários criem "fatos políticos" capazes de inverter a tendência do eleitorado de São Paulo em prol do tucano Geraldo Alckmin para favorecer o petista Aloizio Mercadante, é o caso de se pôr um pé atrás. A penúltima tentativa oriunda do PT de criar um "fato" para tentar influir na direção da preferência dos eleitores foi em 2006. Um grupo de petistas foi pego pela Polícia Federal em um hotel de São Paulo quando se preparava para comprar um dossiê para ser usado contra o então candidato ao governo do Estado, José Serra."

Editorial Folha: "Delinquência estatal - Notícia de que sigilo fiscal de mais três tucanos foi violado expõe de maneira didática o aparelhamento do Estado em prol de interesses partidários. A aclamação de Lula e da candidata que inventou para lhe suceder não pode tornar cidadãos (ontem o caseiro, hoje os adversários, amanhã quem?) reféns da sanha de um Estado desvirtuado por interesses particulares. Se dependesse de alguns setores que compõem o atual grupo dominante, não há dúvida de que o país caminharia na direção de um regime de vigilância policial."

O mais engraçado é cotejar essa gritaria orquestrada com as declarações de Serra, registradas hoje pela Folha. Ele acusa Dilma impiedosamente, mesmo sem prova nenhuma:
"É um crime contra a democracia, e a Dilma Rousseff deve uma explicação ao país, porque isso foi feito pela campanha dela", disse, em Natal. "Isso foi feito por causa de campanha eleitoral, jogo sujo de campanha."

Segundo o tucano, o dossiê era "previsível", pois "o pessoal do PT faz espionagem, faz coisas gravíssimas". "Foi pura espionagem para encontrar armas eleitorais."
Entretanto, o suprassumo está no Globo, que publicou a seguinte observação de Serra:
O tucano elogiou a atuação dos jornais nesse episódio, ressaltando a importância da imprensa no Brasil:

- É a imprensa que mostra as coisas e denuncia. Não é por menos que eles (o PT) vivem querendo coagir a liberdade de imprensa no Brasil.

Não é fofo a maneira como Serra defende a grande imprensa e ataca os "blogs sujos"? E não acho que acusar sem prova e lançar pesadas suspeitas sobre as instituições brasileiras sejam atitudes republicanas ou democráticas. Ainda bem que o mundo compreende que estamos num processo eleitoral inflamado e todos já conhecem a irresponsabilidade histérica do tucanato, pois em caso contrário, tais declarações poderiam comprometer a imagem do Brasil lá fora.

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