A excelente reportagem de Isabela Bastos, na edição de hoje de O Globo éa melhor notícia para quem ama o Rio de Janeiro de verdade, porque entende esta cidade como a soma de sua beleza natural com o seu povo. O Rio dos cariocas – tão generoso que sabe que ser carioca é uma condição que vai muito além dos limites do munícipio, entra pela Baixada, atravessa a ponte, pega o avião e reúne todo mundo que gosta de uma vida alegre, fraterna, simples e feliz – está caminhando na direção de deixar de ser a “cidade partida”, expressão de Zuenir Ventura que ficou famosa para defini-la.
Vocês me desculpem se não estou sendo objetivo, mas é difícil ser objetivo quando se está feliz. É que a matéria de Isabela mostra que está acontecendo algo que recupera a cidade de uma forma que mesmo os nossos governantes mais bem intencionados, os que enxergam nosso povo por inteiro, puderam fazer, por falta de meios, sobretudo a falta de política habitacional neste país.
Mas vou tentar: é que a reportagem mostra, com base nos dados do serviço de licenciamento de construções da Prefeitura, que mudou radicalmente o panorama da indústria imobiliária da cidade. Agora, a zonas Norte (incluindo os subúrbios)e Oeste tomaram o lugar da Barra da Tijuca como pólo de desenvolvimento de novas habitações.
O Globo publica na internet apenas um resumo, mas o gráfico que está no jornal impresso e que reproduzo mostra com uma clareza solar que emergente, agora, no Rio, é o nosso povão. O número de licenciamentos de unidades habitacionais total cresceu, comparando-se o acumulado do primeiro trimestre de 2009 para 2010, em quase 90% (de 4.993 para 8.999), consideradas apenas aquelas três áreas. Mas a Zona Oeste ( 367%) e a Norte (317%) foram as grandes vedetes desta explosão.
Quando a criação de novas moradias ficava quase que exclusivamente por conta do “mercado”, dois terços dos licenciamentos – sempre considerando apenas as três áreas, sem considerar Centro e Zona Sul, onde o número de novas unidades é sempre baixo, pelo adensamento) ocorriam na Barra da Tijuca, uma alternativa para a classe média-alta e alta, pela disponibilidade de áreas livres. Para as zonas Norte e Oeste, ficavam apenas 33,5%.
Com o lançamento do “Minha Casa, Minha Vida” o panorama mudou radicalmente. Agora, as Zonas Norte, com os subúrbios, e a Oeste ficam com 80,3% das novas unidades autorizadas no primeiro trimestre de 2.010. Recuperou-se a proporcionalidade entre a o número de habitantes de cada região e o número de moradias nelas construídas.
Até mesmo para a Barra da Tijuca esta é uma boa notícia. Sinal de que diminui a pressão da especulação imobiliária sobre a região, que tem enormes problemas de tráfego e de preservação ambiental.
Agora, diante disso, é necessário que a Prefeitura da Cidade reflita sobre a necessidade de direcionar suas ações considerando este crescimento. Estas regiões, faz tempo, recebem menos investimento público, menos conservação, menos serviços. Estão aí os números mostrando que isso não pode seguir assim.
Uma cidade equilibrada e justa, num país equilibrado e justo, é um lugar onde se vive melhor, onde se vive com mais felicidade, onde se pode, afinal, ser carioca de verdade. Não uma onde tínhamos de fazer conviver uns poucos “emergentes” e uma multidão de “submergentes”.
Viva o Brasil de todos os brasileiros e viva o Rio de Janeiro de todos os cariocas, de todos os bairros, de todas as regiões, até mesmo de todos os lugares, como aqueles que o Rio adotou como filhos e os que querem, uma vez que seja na vida, olhar o mar e a montanha e as pessoas e dizer, de coração: que cidade maravilhosa!
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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