quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Amigas e amigos, não pensem que eu não me contaminei com o “medo” que está sendo sub-repticiamente inoculado dia e noite através da safardana mídia brasileira. Posso me valer das palavras reginas e danuzinas para gritar:
EU TAMBÉM ESTOU COM MEDO!
Lamento não ter os seus holofotes, nem a mídia. Tenho meia dúzia “de três ou quatro” leitores e só.
Estou com medo do que as FARC estão fazendo na Colômbia. Todo o aparato militar norte-americano instalado no país vizinho, as bases aéreas, os marines, o poderoso armamento ultra sofisticado, tudo está cercado, sem ação, sem mobilidade, enquanto os famosos guerrilheiros rompem fronteiras livremente, sem qualquer impedimento ou coação, rumo aos países vizinhos, invadindo-os e proporcionando o fabuloso tráfico de cocaína rumo aos indefesos EUA que, sem desejar, estão se drogando e, ainda, sendo obrigados a fabricar e vender armas numa troca mortífera: pó branco versus armas e mais armas, como fazem, com êxito, no México.
As fronteiras bolivarianas foram ultrapassadas sem que um marine, um teco-teco estadunidense, uma garrucha sequer, impedisse tal invasão.
O domínio das FARC é tão grande que o exército colombiano com uma retaguarda sofisticada montada pelos EUA, nada pode fazer para defender e fazer valer fronteiras que estavam mortas. Os vizinhos que se danem, se cuidem e se protejam.
Sem que militares colombianos e norte-americanos possam impedir, os guerrilheiros vão ultrapassar as nossas fronteiras e nos estuporar ou estuprar também, e eu estou com medo.
Eu estou com medo do que andou escrevendo em 1926 o presciente Monteiro Lobato no seu “O Presidente Negro”, vendo naquela máquina demoníaca a Europa toda amarela, o que se materializou estes dias com a China alcançando o segundo lugar no podium da economia mundial, a mesma que anda sustentando um Tio Sam muito doente, com uma aparente falência dos órgãos.
A China tem uma bandeira vermelha com estrelas. Faz pouco tempo, descobriram que o símbolo da Copa 2014 tem uma data vermelha, e isso é mau sinal.
Vejo agora, não havia reparado, que a bandeira dos EUA tem listras vermelhas e estrelas e no Atlas Mundial, inúmeras bandeiras são vermelhas com estrelas. Ainda bem que o meu Flamengo já está usando um uniforme azul, retirando do manto sagrado as listras vermelhas.E eu estou com medo.
Eu estou com medo do medo que o tal de Zé Trololó anda espalhando na mídia brasileira, um visionário demagogo de quinta categoria, só faltando dizer aos incautos: “ou EU ou o caos”. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de que se repitam gestos ensandecidos iguais aos que ainda hoje são desmentidos à exaustão pelas hostes castrenses: colocar fogo no gasômetro do Rio de Janeiro e, agora, culpar os chamados “petralhas”; colocar uma bomba em alguma apresentação do Zeca Pagodinho e também denunciando ter sido obra da “petralha”; amarrar em barras de ferro o Lula a Dilma e toda a “petralha” e jogá-los de avião além das 200 milhas marítimas, imitando Pinochet, trama macabra denunciada e abortada pelo inesquecível Capitão Sérgio Macaco. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de que sobreviva às vésperas das eleições uma nova “Carta Brandi”, num pronto desmentida pelo Senador Brandi, mas que surja das trevas um arremedo, esse sim uma farsa de Carlos Lacerda afirmando pateticamente da tribuna da câmara que “a carta pode ser falsa mas o conteúdo é verdadeiro”. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de que a notável indústria naval brasileira volte a ser sucateada e que os navios que necessitamos para o desenvolvimento nacional sejam encomendados nos quintos dos infernos, muito longe para que o porforol não deixe impressões digitais. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de novamente surgir idéia da PETROBRAX. E não é sem razão o meu medo. Nossos cientistas descobriram a fórmula de transformar em combustível o álcool, a mamona, a palma e qualquer outra oleaginosa, o que proporcionou a fabricação do carro flex e, como por encanto, surge lá pras bandas do Norte o carro elétrico, mas não podemos construir represas para aumentar a capacidade energética brasileira visto que, ou a terra é dos índios, uns bagres vão ser sacrificados e umas ONGs não se sabe a soldo de quem não deixam (?). E nem pensar em energia nuclear, passo decisivo para a fabricação de uma bomba. Afinal, quem tem bomba atômica, tem! Quem não tem... Tivesse.
Volto a recordar o presciente Monteiro Lobato na sua derradeira entrevista, quando lhe foi perguntado como se conseguiria a paz no mundo, ele que estava falecendo enquanto o mundo ainda cheirava a pólvora. O moribundo Lobato foi curto e definitivo: ”quando cada país tiver a sua bomba atômica”. E eu estou com medo.
Eu estou com medo da “porcada magra” chegando e atropelando tudo, privatizando o que restou da fajuta globalização, do Estado mínimo, do salve-se quem puder, do capitalismo selvagem, do pó Royal no bolo para sua posterior distribuição, do “quinzinho”, dos apagões, dos jatinhos indo para Fernando de Noronha, naturalmente a serviço da presidência da república, do “cale-se”, dos mamilos arrancados com alicate, das didáticas aulas do professor Dan Mitrione, torturador que veio dos Estados Unidos para o Brasil com o objetivo de ensinar “Métodos Modernos de lnterrogatório” aos policiais e militares. Suas cobaias eram mendigos recolhidos nas ruas e seu alvo eram os presos políticos. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de que os CDs da CPI daquele Banco do Paraná se percam e ninguém fique sabendo das mutretas ali registradas. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de um novo acidente de carro imitando o trágico acontecimento com a Zuzu Angel que nunca encontrou vestígios, pedaços, ou sinais de seu filho; do Nini que o homem que gostava de cheiro de cavalo o chamava de “meu Mussolini”; do desaparecimento do deputado Rubens Paiva até hoje envolto no mais absoluto silêncio; de um certo militar da marinha, agente da CIA até hoje sem qualquer punição e agora desejando indenização por perdas e danos. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de ficarmos novamente devendo ao FMI, que as nossas vultosas reservas internacionais virem cinzas num piscar, que tenhamos de retirar sapatos nos aeroportos para uma vistoria como se fossemos bandidos, traficantes ou imigrantes ilegais. Eu estou com medo.
Eu estou com medo de, num piscar, as cabeças coroadas da Europa, as grandes personalidades mundiais e até o presidente Obama não mais recebam com pompa e circunstância o nosso futuro presidente e que ninguém mais diga que é O CARA! E eu estou com medo.
Eu estou com medo de que a ONU não mais nos reconheça como nação importante, que os BRIC desapareçam, que o G20 vá para as calendas, que o MERCOSUL seja uma página virada da história. E eu estou com medo.
Eu estou com medo de que os anos que permearam o 1º de abril de 1964 até a posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornem. Não em forma de farsa e sim de uma forma sofisticada, mais cruel, um período que nos obriga a todos ficarmos de atalaia para que não se repita e, nunca, deixá-lo esquecido ou ser banido da história brasileira, ser anistiado. Não se negocia uma anistia, e foi o que fizeram. E eu estou com medo.
Confesso, reginas e danuzinas, eu também estou com medo.
José Flávio Abelha
Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar.
By: Redecastorphoto
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